Crédito e renda ajudam menos e analistas estimam recuo do varejo

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A desaceleração da inflação de alimentos nos últimos meses deve ter dado algum impulso às vendas nos supermercados em março, mas em magnitude insuficiente para que o comércio volte a apresentar números positivos, avaliam economistas. Os fundamentos que costumam nortear o comportamento das vendas, como o nível de emprego, a renda e o crédito, estão menos robustos do que em 2012, o que tende a moderar o ritmo de expansão do setor neste ano.

De acordo com a média das estimativas de 13 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o volume de vendas no varejo restrito (que não considera o desempenho de material de construção e de automóveis) deve ter recuado 0,5% em março, na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. Assim, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), que será divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pode marcar a segunda queda consecutiva das vendas, já que o indicador recuou 0,4% em fevereiro, na mesma base de comparação. Como tem ocorrido, há forte dispersão entre as estimativas, que variam entre queda de 1,5% e alta de 0,6%.

As vendas no segmento ampliado, que além dos oito segmentos pesquisados no restrito também considera o comércio de automóveis e material de construção, devem ter mostrado desempenho mais positivo. Em média, os oito economistas ouvidos pelo Valor Data que fazem a estimativa para o indicador esperam avanço de 0,3% entre fevereiro e março, com intervalo entre as estimativas de recuo de 1,6% a alta de 2,1%.

Para Mariana Oliveira, economista da Tendências Consultoria, a expectativa é de certa recuperação do desempenho das vendas no supermercados no terceiro mês do ano, na esteira de avanços um pouco menos intensos da inflação de alimentos no período. De acordo com os dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) dessazonalizados pela consultoria, o comércio nos hiper e supermercados aumentou 1,9% em março, ante queda de 0,5% em fevereiro e de 1,1% em janeiro, sempre em relação ao mês anterior.

Mariana, no entanto, espera estabilidade das vendas do varejo na passagem mensal porque outros segmentos vão pesar no resultado. A concessão de crédito para aquisição de bens, por exemplo, continua a mostrar recuo em relação a igual período do ano anterior. "O crédito pessoal segue fraco e esse resultado se reflete nas vendas de móveis e eletrodomésticos, que foram muito incentivados por desonerações tributárias no ano passado e passaram a ter alíquotas de IPI mais altas neste ano", afirma.

Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil, também avalia que as vendas de hiper e supermercados puxaram o desempenho do comércio no mês, com alta de 1,7% em março, de acordo com dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), com ajuste sazonal feito pelo banco. A economista estima que o varejo restrito tenha avançado 0,6% na passagem mensal. Para Mariana, não há sinais de esgotamento do consumo, e sim de uma acomodação, tomando como base os fundamentos do setor. "A taxa de desemprego deve permanecer baixa, mas não vai mais cair, a renda real está avançando menos e a inadimplência segue alta." Para a economista, este é um cenário condizente com expansão de cerca de 6% do varejo neste ano, depois de alta de 8,4% em 2012.

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, também estima que as vendas no varejo devem aumentar cerca de 6% neste ano. Depois de um desempenho fraco no primeiro trimestre, em que as vendas devem ter ficado praticamente estáveis em relação aos últimos três meses do ano passado, o indicador deve mostrar alguma retomada a partir do segundo semestre, em sua avaliação. "A inflação deve ceder um pouco e esperamos alguma melhora do crédito, o que pode acabar favorecendo o comércio", afirma.

Já no segmento ampliado, a expectativa é de um número mais positivo em março, principalmente por causa do desempenho de veículos de passeio. De acordo com os dados da Fenabrave (que reúne as concessionárias) dessazonalizados pela Tendências, as vendas de automóveis leves subiram 10,1% entre fevereiro e março, depois de forte tombo no mês anterior. A alíquota de IPI para automóveis subiria de 2% para 3,5% em abril, o que contribuiu para um movimento de antecipação de compras. No fim de março, no entanto, o governo anunciou que a alíquota será mantida no nível atual até o fim de 2013. Para Mariana, da Tendências, com incerteza menor em relação à evolução do tributo, é possível que a série, que tem sido bastante marcada por excessiva volatilidade, tenha oscilações menos bruscas nas próximas divulgações.



Veículo: Valor Econômico


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