Escola Superior de Propaganda & Marketing, em São Paulo, reúne lideranças do agronegócio para formular uma carta aberta de políticas para o setor
No Brasil, dez mil produtores cultivam hortaliças, como alface, tomate, cebola, pimentão, pepino, entre outras, em uma área total de 800 mil hectares, o que equivale a propriedades com média de 80 hectares. Apesar de extremamente pulverizado entre pequenos produtores rurais, o setor movimenta R$ 17 bilhões anualmente. Por lidar com alimentos que vão diretamente para a mesa do consumidor, comprados em feiras e supermercados, os desafios do setor são imensos. Está na ordem do dia questões como o registro de agroquímicos, a rastreabilidade, a logística para que as hortaliças cheguem rapidamente aos pontos de venda, mão de obra, sucessão familiar e a organização dos produtores.
Para debater esses temas, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em parceria com a Associação Brasileira de Marketing Rural (ABM&R) e a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), realizou em São Paulo nesta terça 18 um encontro que contou com lideranças do setor, produtores e pesquisadores. Chamado de Campo no Campus, a missão dos participantes foi retratar em um painel quais propostas de mudanças poderiam ser incorporadas como políticas para o setor. “A ideia é que o encontro resulte em uma carta aberta que será apresentada a organismos governamentais”, diz o professor da ESPM Luiz Tejon Megido, coordenador do evento. A carta com as principais propostas debatidas no encontro será elaborada pela ABM&R.
O tema mais longamente debatido foi a questão da rastreabilidade dos produtos para monitorar a presença de resíduos de agroquímicos nos alimentos. Representantes da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostraram como funciona o programa criado especialmente para rastrear e monitorar o uso de agrotóxicos nas Frutas, Verduras e Legumes (FLV) comercializados pelas mais de 80 mil lojas do setor, espalhadas por todo o País, de pequenos comércios a gigantes como o Pão de Açúcar. Chamado de Programa de Rastreamento e Monitoramento de Alimentos (RAMA), o projeto monitora atualmente um terço de todas as frutas e verduras comercializadas pelos associados da Abras. Para Gianpaolo Buso, diretor da Paripassu, empresa responsável pelo acompanhamento do Rama, o rastreamento é hoje uma discussão mundial. “Até a Europa não sabe muito bem o que mostrar para o consumidor”, diz Buso. “Mas é certo que o rastreamento leva à organização da produção e traz ganhos de imagem e de confiança do consumidor.”
Segundo o presidente da Andef, Eduardo Daher, o setor poderia se beneficiar mais com o atual crescimento do poder aquisitivo da população do País. O Brasil, apesar de ser o terceiro maior produtor mundial de hortaliças, apresenta um consumo anual de apenas 40 quilos por habitante. “Na Espanha, mesmo em crise, o consumo é 160 quilos por habitante-ano”, diz Daher. “Sem contar que no Brasil há um desperdício enorme de alimentos.” Para ele, organizar o setor é fundamental nesse momento e exige uma política pública. Anita de Souza Dias, coordenadora do Centro de Qualidade em Horticultura da Ceagesp, na capital paulista, diz que há modelos nos quais o País poderia se inspirar. Como o americano, que começou a ser desenvolvido em 1800, através de normas gerais de classificação de produtos. “Mas que evoluiu à medida das necessidades do setor”, diz Anita. Hoje, são as comissões de marketing e ordenamento de cada cultura que estabelece as normas de cultivo e comércio. Essas comissões são financiadas pelos produtores e auditadas pelo governo.“Nos Estados Unidos, quem planta morango não precisa discutir normas para a alface, e vice versa”, afirma Anita. “Muito diferente do setor no Brasil, que ainda precisa de estrutura legal para andar e de leis que funcionem.”
Veículo: Isto É Dinheiro