Primeiros produtos a sair da aquisição mensal dos brasileiros foram as bebidas alcoólicas e não alcoólicas, que passaram a ser adquiridas apenas em promoções e para eventos específicos
Atibaia - O cenário de incertezas do País levou o consumidor a racionalizar de forma mais nítida os gastos nos supermercados. Devido à alta dos preços e à inflação, que corroeu o poder de compra, em especial da classe C, já há quem dispense a aquisição de alguns itens.
Entre os produtos que os consumidores mostram maior disposição de abrir mão estão as bebidas alcoólicas e não alcoólicas. Ambas tiveram queda no volume de venda no 1º semestre do ano de 0,3% e 2,6%, respectivamente, o que refletiu no desempenho do setor supermercadista que tinha, no início do ano, projeção de 3% de crescimento real e agora vê retração de 0,30%.
"Dentre as 35 categorias analisadas pela Nielsen consideradas de alto consumo, a maioria manteve estabilidade. A queda aparece na comparação anual, quando em 2014 o crescimento no volume de venda foi de 5,8%", diz a gerente de serviços de varejo da Nielsen, Maria Fernanda Celedonio, durante a Convenção Abras 2015.
Segundo estudo da consultoria, outras categorias que estão apresentando volume menor de venda são: higiene e beleza; limpeza caseira; mercearia doce; mercearia salgada e os perecíveis. "Em 2014, a maioria dessas categorias tinha volumes positivos variando de 3% a 13%, em média. Hoje, todas estão abaixo dos 2,5%", completou.
Estratégias econômicas
Para conseguir manter orçamento, os brasileiros passaram a ampliar as compras de abastecimento, procuram mais os produtos em promoção e passaram a estocar itens não perecíveis. "49% afirmaram que só iriam comprar em promoções; 48% vão guardar produtos básicos; 44% vão procurar ofertas pela internet e outros 22% vão adquirir pacotes grandes", explicou Maria Fernanda ao DCI.
Os consumidores, quando questionados sobre mais uma alta dos preços, afirmaram que as categorias mais suscetíveis a cortes e na diminuição na frequência de compra seriam o pão e insumos de padaria; carnes e aves e frutas ou vegetais. "Dentro da cesta de compras, as carnes apresentaram alta de mais 17% [corte dianteiro], influenciado por fatores climáticos", explicou o diretor de relacionamento da GfK, Marco Aurélio Lima.
O analista afirmou ainda que alguns produtos - como a cebola - tiveram alta na precificação em 150%. "Essa é uma categoria de reposição semanal. Então, as altas pesaram no bolso do consumidor", disse.
Preferência do brasileiro
O estudo da GFK apontou que a inflação em 9%, observada no primeiro semestre, além de restringir a compra de alguns itens, levou o brasileiro a trocar tanto de marca quanto do canal de compra. "Papel higiênico, por exemplo, 34% trocariam a marca e 17% o local da compra. Sabão em pó, 37% mudariam de marca e 18% iriam comprar no canal com melhor preço", explicou Lima.
A preferência pelos canais não mudou. O cash&carry (atacarejo) continua como a principal local de compra para o consumidor. "O que mudou é que até o mercado de vizinhança passou a ser considerado um canal que supre a necessidade de uma compra de abastecimento", explicou a diretora comercial da Kantar Worldpanel, Christine Pereira.
Pesquisa feita pela Kantar identificou que houve uma queda de 6,1% na frequência dos consumidores nos supermercados. "O gasto médio de compra foi 1% menor e o volume médio das compras caiu 8,8% de janeiro a junho, na comparação anual", finalizou Christine.(Flávia Milhassi)
Veículo: Jornal DCI