Redes médias voltam a ser assediadas

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Alexandre Melo

 

SÃO PAULO - Nos bastidores do setor supermercadista, as líderes Carrefour, Grupo Pão de Açúcar (GPA) e Wal-Mart, respectivamente, continuam a travar uma intensa disputa cujo alvo são principalmente as redes médias, com faturamento na casa do bilhão de reais. A última investida foi no paulista Sonda Supermercados, protagonizada pela norte-americana Wal-Mart, que apresentou oferta próxima a R$ 500 milhões. A estratégia é ganhar mercado e encostar no concorrente Pão de Açúcar, visto que a diferença de faturamento entre elas atinge quase R$ 4 bilhões.

 

O Sonda, quinta maior rede do Estado de São Paulo, controlada pelos irmãos Idi e Delcir Sonda, reportou ganho um pouco superior a R$ 1 bilhão e tem crescido em sua região de atuação, essencialmente a capital paulista. Os donos da 15ª maior supermercadista do País têm negócios nas áreas imobiliária, esportiva e de infraestrutura. O setor de malls lhes garante uma boa receita mensal, com participação de 23% no Shopping Anália Franco, da Multiplan, e outra fatia no Boavista Shopping, da Sonae Sierra Brasil. É mais de R$ 1 bilhão em ativos imobiliários.

 

O outro negócio é a empresa DIS, iniciais de Delcir e Idi Sonda, criada há dois anos para investir em jogadores de futebol. São 115 os jogadores, sendo que os 30 principais valem a bagatela de R$ 400 milhões no mercado. O grupo também está construindo um aeroporto na Praia Grande, litoral paulista.

 

"A posição da rede no mercado é um fator bastante atraente para os nossos concorrentes, mas não estamos à venda", afirma Roberto Moreno, diretor financeiro da companhia, ao DCI. Formada por 20 lojas, a empresa afirma ter crescido 24,6% em 2008 e, neste ano, a meta é atingir um patamar pelo menos similar, principalmente porque a rede passou a comercializar eletroeletrônicos, além de estar estruturando operações de drogarias e postos de combustível.

 

Moreno garante ainda que há pouco tempo uma das três gigantes tentou a qualquer custo arrematar a rede, dispondo-se a pagar qualquer preço por ela. "O dinheiro não seduz os irmãos, tanto que as negociações não avançam. Este é o principal negócio do grupo, entretanto, e o que dá mais dor de cabeça", diz. Na visão do executivo seria fácil receber uma "bolada" e pulverizá-la em cinco bancos mundiais, mas os sócios têm compromisso com os seus mais de seis mil funcionários. Contudo, o executivo não descarta que um dia alguma negociação poderá culminar na venda do Sonda. "A recusa das propostas tem um motivo muito claro, pois estamos em plena expansão: abrimos sete unidades no ano passado e mais duas serão abertas nos próximos dois meses. Mas não tem como falar que algum dia isso aconteça." Moreno observa também que, se ocorresse a venda, seria viável o comprador esperar a inauguração das outras lojas, já que a rede possui um banco com cinco terrenos.

 

Mercado

 

Procurado, o Wal-Mart não se pronunciou sobre o assunto e declarou apenas que "não comenta especulações". Com a aquisição do Sonda, a norte-americana, que faturou no ano passado R$ 16,9 bilhões, ganharia um mercado importante e estaria mais próxima do GPA, que contabilizou ganhos de R$ 20,8 bilhões.

 

No final de 2005, o Wal-Mart arrematou 141 unidades do grupo português Sonae por R$ 1,6 bilhão, cifra correspondente a pouco mais de 36% da receita da empresa comprada. Um ano antes, a investida foi na nordestina Bompreço, formada naquela época por 118 lojas e vendida por cerca de R$ 690 milhões. Proporcionalmente, o montante de R$ 500 milhões oferecido à paulista Sonda seria bem superior ao das duas primeiras aquisições.


Na avaliação de Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), são empresas profissionalizadas como o Sonda que restam para as grandes cadeias fazerem aquisições, pois não há muitas opções entre as regionais. "No mercado não há uma empresa que, se comprada, possa inverter o quadro da liderança, talvez algo entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, que estão mais próximas", afirma.

 

Honda pontua que a maioria das redes médias tem participação de no máximo 1,5% do mercado nacional, isso no caso da GBarbosa, quarta maior do País. Em relação ao Sonda, este número é de apenas 0,7%. E em relação à catarinense Angeloni, também sondada em 2008 pelo Wal-Mart, a fatia é de 0,9%. "Não existe empresa que não seja vendável. É tudo questão de preço: quem pagar mais, leva. É a questão do Sonda. Cada um sabe quanto vale seu negócio", dispara o executivo da Abras, que lembra o discurso das empresas: "Não adianta ser grande se não houver ganho de mercado e rentabilidade".

 

Ainda sobre aquisições, a mais recente foi da Gimenes S.A. pelo Carrefour e Ricoy Supermercado, que dividiram 22 lojas da rede, um negócio de R$ 60 milhões.

 


Veículo: DCI


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