As vendas reais nos supermercados subiram 4,83% em junho deste ano, com relação a igual mês de 2008, segundo divulgou ontem a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Na comparação com maio, as vendas caíram 5,59% e no acumulado do primeiro semestre de 2009, o indicador aponta alta de 5,27%. Os números estão deflacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação.
Segundo a Abras, o efeito calendário contribuiu para a queda das vendas na comparação mensal, já que maio contou com 31 dias e cinco fins de semana, enquanto junho teve apenas 30 dias, além de um fim de semana a menos. De acordo com a entidade, as vendas nos supermercados no primeiro semestre deste ano continuam em um patamar elevado, principalmente considerando o cenário econômico ainda de recuperação. No período, os brasileiros mantiveram como prioridade as compras de alimentos, ressalta a Abras
Crescimento. O valor da cesta de 35 produtos considerados, pela entidade, de largo consumo registrou aumento de 0,37% em junho na comparação com maio, e chegou a R$ 265,57. Já em relação a junho de 2008, a alta foi de 4,71%. Os produtos da cesta que registraram as maiores altas em relação a maio foram: leite longa vida (12,43%), queijo mussarela (6,62%) e queijo prato (6%). As maiores quedas foram: batata (-8,56%), carne de dianteiro (-3,49%) e farinha de trigo (-2,89%).
A Abras também revisou ontem, de 2,5% para 4,5%, a projeção para o crescimento real (descontada a inflação) das vendas dos supermercados em 2009. A entidade destacou que os indicadores macroeconômicos têm melhorado no País, o que justifica a alta. "Isso nos deixa otimistas para revisar para cima a expectativa de vendas para o setor em 2009, principalmente porque o cenário econômico melhorou consideravelmente."
A estimativa inicial da Abras havia sido anunciada em janeiro, quando a entidade temia o aumento da taxa de desemprego e a desaceleração do consumo e da massa salarial. Em maio, no entanto, diante do resultado acumulado do primeiro quadrimestre, com alta de 5,7%, a Abras admitiu que a projeção poderia ser revisada. A justificativa é a manutenção do rendimento médio dos trabalhadores, o maior consumo das famílias nos lares e o processo de estabilização dos preços.
A única ressalva da Abras com relação ao desempenho das vendas dos supermercados em 2009 é o fato de que o segundo semestre, tradicionalmente melhor do que o primeiro, terá como comparação uma base mais forte.
Algumas redes de supermercados também apresentaram resultados positivos no primeiro semestre. O faturamento bruto do Carrefour no Brasil subiu 14,3% na comparação com o mesmo intervalo de 2008. No período, as vendas brutas do Grupo Pão de Açúcar cresceram 10,7%, atingindo R$ 10,9 milhões.
No ano passado, o crescimento do faturamento real nos supermercados foi de 8,98%, o melhor em 10 anos. Em 2007, o indicador apontou alta de 5,92%.
Carne
A Abras pretende lançar em 90 dias o Programa de Certificação de Produção Responsável na Cadeia Bovina, cujo objetivo é garantir e certificar a procedência da carne bovina vendida nos supermercados brasileiros. O programa será estruturado pela certificadora suíça SGS e vem na esteira de um relatório do Greenpeace que relaciona o desmatamento na Amazônia à produção de carne bovina.
Segundo a diretora da SGS Rosemary França Vianna, a expectativa é que em até 60 dias o comitê técnico constituído para elaborar o programa já tenha definido critérios, princípios e indicadores, possibilitando a realização de testes de campo. Então, em 90 dias, o programa seria lançado. "O custo de criação do programa será da Abras e, a partir daí, as organizações que quiserem ser auditadas terão de arcar com os custos", disse Rosemary ontem, em encontro com jornalistas na sede da Abras.
Segundo ela, o comitê técnico ainda vai definir quais informações serão requeridas na auditoria. "O maior desafio é a rastreabilidade", comentou. "Sabemos que existem programas de governo. O que estamos propondo é um programa independente, de autorregulação."
De acordo com o presidente da Abras, Sussumu Honda, três grandes redes - Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar - e três frigoríficos - Bertin, JBS e Marfrig - já são signatários do programa, que prevê a compra de carne, por parte das varejistas, exclusivamente de frigoríficos que aderirem à proposta.
Juntas, as três redes representam cerca de 40% do setor de supermercados no País. "Esperamos uma adesão maior das empresas do setor e haverá uma campanha também voltada ao consumidor final", disse Honda. Segundo ele, o programa corresponde ao "primeiro passo para deixar claro o compromisso do setor de varejo com a produção responsável".
A movimentação do setor ocorreu após o Ministério Público do Pará ter recomendado em junho, diante do relatório do Greenpeace, que os supermercados deixassem de comprar carne de frigoríficos que compram gado criado em áreas de desmatamento ilegal. Desde então, os frigoríficos assinaram um termo de ajustamento de conduta proposto pelo Ministério Público, visando o estabelecimento de práticas ambientalmente sustentáveis. (com agências)
Veículo: Jornal do Commercio - RJ