A contagem regressiva para o Casino assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar (GPA) foi lançada e o sócio francês prevê não esperar nem um dia além da data prevista em acordos, para exercer esse direito. "Temos realmente a intenção de fazer tudo para tomar o controle em 22 de junho", disse ontem, em Paris, ao Valor Jean-Charles Naouri, presidente do Casino.
Apesar das relações com Abílio Diniz terem ficado abaladas depois que o parceiro brasileiro tentou, no ano passado, realizar um projeto de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour (sem que o Casino tivesse sido informado previamente), Naouri garante que, se Diniz desejar, poderá continuar como presidente do conselho de administração do GPA após o Casino assumir o controle do negócio.
"Os acordos prevêem que Diniz continue presidente do board. Nós respeitaremos isso", afirmou. Segundo o presidente do Casino, o grupo francês não deverá desembolsar nada para adquirir o controle da companhia brasileira. Exceto se Diniz quiser vender algumas ações restantes, que totalizam US$ 10 milhões. "O montante é muito baixo", ressalta.
Naouri não é um homem de muitos sorrisos. Mas ontem, ao apresentar, em Paris, os resultados do Casino em 2011, não escondeu sua empolgação ao ser questionado sobre a futura tomada de controle do Pão de Açúcar. Fato raríssimo, chegou até a provocar risos na plateia. Ele também elogiou a situação econômica do Brasil e afirmou estimar que não deverá haver uma desaceleração significativa da economia do país neste ano.
Os números anunciados ontem comprovam que o Brasil é uma peça-chave do desenvolvimento do Casino. Em 2011, o país representou sozinho metade das vendas internacionais do grupo, que totalizaram € 15,6 bilhões. O faturamento global atingiu € 34,4 bilhões, com crescimento de 18,2%, graças às suas filiais em mercados emergentes como o Brasil - onde o grupo reforçou sua participação acionária - e também a Colômbia, a Tailândia e o Vietnã.
Na América Latina, as vendas aumentaram 13,4% em 2011. No Brasil, onde foram inauguradas 15 unidades, o faturamento atingiu € 7,8 bilhões e cresceu 8,8%. Na Ásia, a progressão foi de 11,3% (e de apenas 3,2% em termos de mesmo número de lojas, em razão das inundações que afetaram a Tailândia).
Os mercados emergentes representaram no ano passado 45% do faturamento total do Casino (contra 38% em 2010) e já totalizarão em 2012 mais da metade das vendas globais do grupo francês, afirma Naouri. O Casino "mudará de perfil e de dimensão" a partir deste ano.
Após tomar o controle do Grupo Pão de Açúcar, 58% do faturamento passará a ser realizado no exterior. Bem diferente da situação em um passado ainda recente: em 2005, a França, único país rico onde o Casino ainda possui atividades, representava 75% das vendas do grupo.
Na França, em um cenário econômico moroso e marcado por uma forte concorrência, as vendas do Casino cresceram 1,4% em 2011. O grupo informa ter mantido sua participação de mercado na área alimentar estável, a 12,9%.
De longe, a rede de supermercados de bairro Monoprix - a mesma cujo controle provoca atualmente uma guerra com o sócio Galeries Lafayette - é a com melhor performance de vendas, com aumento de 3%. Os hipermercados tiveram queda de 0,9%.
Durante a apresentação dos resultados, Naouri foi bombardeado de questões sobre a briga com o sócio francês envolvendo o Monoprix, filial cujo controle é compartilhado. A Galeries Lafayette propôs vender sua participação de 50% ao Casino por € 1,35 bilhão, mas Naouri só quer pagar € 700 milhões.
O presidente da Galeries Lafayette e também do Monoprix, Philippe Houzé, propôs então comprar a parte do Casino por € 1,35 bilhão, oferta recusada pelo conselho de administração do Casino na segunda-feira.
Naouri afirmou que a quantia exigida pela Galeries Lafayette para ceder o controle ao Casino, como previsto em inúmeros acordos, está superestimada. Segundo ele, a Lafayette avalia o preço com base em projeções de forte crescimento dos resultados. "Isso é pouco crível no contexto atual". O Casino, no entanto, considera em suas contas que sua fatia de 50% no Monoprix vale cerca de € 1 bilhão.
"Estamos dispostos a negociar, mas o clima atual não é propício às negociações", diz ele, se referindo à ação na Justiça movida pela Galeries Lafayette. Em uma referência indireta à briga com Diniz, Naouri diz que, como no caso do Brasil, o Casino cumpre os acordos firmados com os sócios.
O grupo se mantém otimista em relação ao desempenho em 2012 e prevê aumento superior a 10% nas vendas neste ano.
Veículo: Valor Econômico