As duas maiores redes de varejo do mundo, Carrefour e Walmart, começam a acreditar que ficou para trás o pior do duro ajuste das suas operações no Brasil.
A fase de implementação de uma série de difíceis mudanças na forma como as companhias trabalham no país tomou todo o ano passado. Esse processo ainda está longe da fase de consolidação, mas existe, pelo menos, uma "sensação de virada" - como mencionou o comando do Carrefour dias atrás, a um grupo de analistas.
Em um tom de conversa muito semelhante, o comando da área internacional do Walmart conta que foram percebidas "melhorias encorajadoras" em relação à operação no país, e sinais de "consumidores respondendo às ações" da empresa - que no ano passado admitiu que a reorganização do negócio estava levando mais tempo do que eles mesmos esperavam.
Ainda não existem dados mais consistentes de que essa percepção de início de mudança sinalize uma tendência. O que existe, porém, pelas novas declarações de diretores das duas redes é a possibilidade de as empresas terem começado a colocar os negócios na direção esperada.
"De fato, um dos mais satisfatórios destaques do ano foi a confirmação de nossa recuperação no Brasil", disse Pierre-Jean Sivignon, diretor financeiro do Carrefour no mundo, ao mencionar os resultados dos negócios de hipermercados no país. "Nós sabíamos que não estávamos indo muito bem lá [no Brasil], mas eu acho que agora a gente consegue ver um desempenho mais forte", disse.
O executivo informou que as vendas "mesmas lojas" (abertas há mais de 12 meses) dos hipermercados no Brasil em 2011 cresceram 2,5%. No quarto trimestre do ano, a alta foi de 2,9%. Em termos reais a alta vira queda de 4% em 2011, mas a rede entende que, pelo menos no acumulado do ano, a venda bruta não caiu. "Isso é resultado das medidas tomadas para a virada", anima-se Sivignon, ao salientar, porém, que sabe que a rede precisa crescer em vendas brutas mesmas lojas, pelo menos a taxa de inflação (6,5% em 2011).
Mudanças no resultado dos hipermercados era uma demanda antiga da matriz e isso motivou a reestruturação do Carrefour no Brasil. Para os franceses, a cadeia no país perdeu fôlego porque demorou a "abraçar" o plano mundial que redesenhava esse modelo, como já disse Lars Olofsson, executivo-chefe do grupo. A rede ainda mantinha pontos deficitários abertos (unidades foram fechadas em 2011) e executivos foram demitidos. A companhia informa que tem feito mudanças no negócio. Procurada no país, porém, não se manifestou.
No Walmart, a linha de frente do grupo tem feito alguns comentários sobre as mudanças da operação no Brasil. Dizem que estão "mais satisfeitos", mas que as alterações devem apresentar ganhos em longo prazo. Basicamente, a rede se refere ao esforço do grupo de trazer ao Brasil a política comercial do "preço baixo todo dia" (PBTD). "Em categorias menos suscetíveis ao high-low [promoções] o resultado tem sido interessante", disse, no fim de 2011, o presidente do Walmart no país, Marcos Samaha.
No PBTD, a empresa diz que opera com preços inferiores à média do mercado todos os dias e não oferece mais promoções - que além de serem contra o DNA da rede no mundo, não trazem o retorno esperado ao negócio. "Há um foco enorme em aumentar o lucro operacional no Brasil e eu estou satisfeito com as mudanças", disse dias atrás Doug McMillon, presidente do Walmart International, em conversa com analistas. "Nos meses após a implementação do PBTD no Brasil houve melhorias encorajadoras na linha de cima e de baixo do balanço".
A rede já comentou com analistas que precisa inverter a curva de desempenho das vendas (reais) das lojas com mais de 12 meses em operação no país. Também já comentou que a margem de lucro bruta, como porcentagem das vendas, não pode continuar no zero, como no último trimestre.
Dados mostram que as vendas brutas do Grupo Pão de Açúcar para "mesmas lojas" cresceram 8% em 2011 e 5,5% no Carrefour. O Walmart não informa a taxa.
Veículo: Valor Econômico