Naouri, CEO do Cassino e sócio do Grupo Pão de Açúcar, não quer pagar € 1,35 bilhão pelos 50% do grupo Lafayette na rede de supermercados Monoprix
Mal teve tempo para se recuperar da briga com o sócio Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, o presidente do grupo francês Casino, Jean-Charles Naouri, já se lançou em outra queda de braço com um antigo parceiro: a Galeries Lafayette. A famosa loja de departamentos compartilha com o Casino o controle da rede de supermercados de bairro Monoprix (514 lojas na França) e deseja vender sua fatia de 50% ao sócio. Mas Naouri não quer pagar o preço pedido de €1,35 bilhão e acabou sendo privado de assumir, como era previsto, a presidência do Monoprix a partir do fim de março deste ano.
Como também ocorreu no episódio com Diniz, o Casino já anunciou, em um comunicado, que foi "tomado como refém" pelo sócio francês e irá recorrer à Justiça para que a Galeries Lafayette "respeite os compromissos" assumidos.
Em 2000, os dois grupos decidiram compartilhar o capital do Monoprix, que havia sido comprado pela Galeries Lafayette em 1997. O acordo foi reiterado em 2003, com a possibilidade de o Casino adquirir o controle da rede de supermercados a partir de janeiro deste ano e também nomear o seu presidente em 31 de março.
O motivo da discórdia é o preço: o presidente da Galeries Lafayette, Philippe Houzé, pediu inicialmente € 1,95 bilhão e depois baixou o valor para € 1,35 bilhão, quase o dobro dos € 700 milhões que Naouri está disposto a pagar.
Para tentar demonstrar boa fé na avaliação do valor, Ginette Moulin, descendente do fundador da loja de departamentos e nora de Houzé, escreveu a Naouri em 10 de fevereiro propondo vender ou também comprar os 50% do capital do Monoprix por € 1,35 bilhão.
"Nossa parceria no Monoprix nos ofereceu mais de dez anos de relações cordiais e mutuamente frutuosas", escreveu Moulin, antes de dar uma alfinetada em Naouri ao dizer que sua família "é conhecida por sempre ter respeitado seus sócios e seus compromissos". Ela pensava que Naouri "compartilhasse os mesmos valores".
A Galeries Lafayette entrou com uma ação no tribunal de comércio de Paris e solicita que os especialistas encarregados da estimar o valor do Monoprix considerem as projeções dos negócios da varejista, que cresce, apesar da crise. O faturamento passou de € 3,6 bilhões em 2009, a € 4,1 bilhões em 2011.
Na quarta-feira, veio o golpe mais duro: o conselho de administração do Monoprix decidiu prorrogar o mandato de Houzé por um ano como presidente, em vez de designar Naouri para o cargo a partir de março.
A imprensa francesa ressalta a diferença entre o montante proposto por Naouri, de € 700 milhões, e a avaliação, no valor de €1,22 bilhão, que o próprio Casino faz de sua fatia de 50% no capital do Monoprix, publicada nos resultados do primeiro semestre de 2011 do grupo.
Houzé considera que o Monoprix, rede mais sofisticada do que seus concorrentes, é sua criação e promete não vender por qualquer quantia. Foi ele que redefiniu a estratégia do antigo Prisunic, mais popular, e o transformou, apoiado pela potência da central de compras do Casino, em um conceito mais moderno e voltado a pessoas de maior renda. A loja na Champs-Elysées atrai até mesmo turistas que frequentam as lojas de grifes.
Sinal de que as relações estão tensas, Houzé passou na frente de Naouri e anunciou ontem os resultados do Monoprix em 2011. A divulgação só deveria ser feita na próxima semana pelo presidente do Casino. As vendas cresceram 3,2%, desempenho superior ao estimado para as outras redes do grupo Casino na França.
Veículo: Valor Econômico