Uma das estratégias para elevar a receita é financiar o pequeno varejista
Após quase ter concluído a operação de venda do controle da empresa ao Grupo Pão de Açúcar semanas atrás, a rede Tenda Atacado se volta para dentro da companhia, num projeto de retomada do crescimento orgânico - algo que perdeu o fôlego em 2011.
Quarta maior rede de "atacarejo" do país, com vendas previstas de R$ 1,8 bilhão em 2012, o grupo tem discutido internamente metas relacionadas à abertura de lojas, à expansão em suas operações de crédito e nas vendas brutas para o período de 2012 a 2014. É parte de um planejamento para tentar dobrar o seu tamanho nesse período - algo que, a princípio, poderia engavetar a hipótese de novas negociações para a venda do grupo.
"Se as propostas chegam, elas são ouvidas. O negócio é bom, é natural que atraia interesse, mas não há nada na mesa agora", conta o diretor-geral do Tenda, Fernando Bara Melgaço, contratado pela família Severini para comandar a rede desde setembro de 2011. "Há muito espaço para aumentar o tamanho da rede. Em 2011, não abrimos nenhuma loja. O ano andou meio 'de lado' e deixamos alguns projetos para o ano seguinte".
O atual plano de crescimento orgânico envolve chegar ao final de 2014 com 30 lojas - são 16 unidades hoje, com média de 4 mil m2 a 5 mil m2, em cidades da região metropolitana e interior paulista. Ou seja, a rede dobraria de tamanho. Em 2012, devem ser abertas três unidades, em São Carlos, Itanhaém e Sumaré. Há uma expectativa de que a receita siga a mesma curva, impulsionada pelo aumento do tráfego nos novos pontos e atinja soma de R$ 2,5 bilhões em 2014.
É algo possível se a taxa de expansão anual (nominal) ficar na casa dos 20% até lá. "Neste ano, não sentimos sinais de esfriamento na economia. Esperamos uma alta de 24% a 25% nas vendas", conta ele. "Se repetirmos, nos anos seguintes, o desempenho de 2012, podemos superar essa faixa [de R$ 2,5 bilhões]". Em 2011, a alta foi de 10% (com expansão real de 4%), e portanto, pode existir também um efeito contábil positivo por conta da menor base de comparação.
Para analistas, pesa a favor do Tenda o bom momento do mercado de "atacarejo" - ancorado na expansão das classes C, D e E, o principal foco de atuação da empresa. As camadas D e E contribuíram com 34% do aumento total dos gastos nas lojas de atacado no país em 2011, segundo estudo da Nielsen. "O Tenda atende fortemente essa classe. São consumidores que vão ao atacado comprar produtos aspiracionais, que ainda são itens caros para eles nos supermercados", explica Antonio Coriolano, sócio da Retail Consulting.
Para bater as metas, o Tenda - rede criada em 2001 - entende que precisa trabalhar em duas frentes: fortalecer a sua estrutura física de distribuição e ampliar vendas por meio de uma oferta mais farta de crédito nas lojas.
Em relação ao primeiro ponto, a atacadista vai abrir, entre março e abril de 2013, um novo centro de distribuição, vizinho ao espaço atual, em Guarulhos (SP). Com 10 mil m2 - a metade dos dois CDS já existentes no local - o espaço vai estocar produtos refrigerados. "Vamos transferir parte desses itens das lojas para o CD e abrir mais espaço para outras mercadorias nos pontos", diz Melgaço. O investimento deve ser de R$ 17 milhões.
Quanto à questão da ampliação no crédito, a atacadista quer elevar a sua receita não operacional funcionando como financiadora do microvarejista. "Temos cerca de 150 mil clientes com o nosso cartão, que respondem por 17% das vendas, e queremos que essa taxa atinja 30%, índice considerado ideal", diz Marco Gorini, diretor de crédito e serviços financeiros.
"Nosso cliente é, muitas vezes, o dono de mercadinho que começou um negócio novo e precisa de crédito. Ele não vai atrás de dinheiro no banco porque acha que é complicado ir à agência. Nós precisamos ficar com esse cliente", diz.
Questões envolvendo o Tenda Atacado ganharam importância no mercado nos últimos meses. Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, controlador do Grupo Pão de Açúcar, comentou em junho que a companhia apoiava a compra da rede de atacarejo, ao contrário de rumores no setor. A aquisição não foi finalizada e o Tenda terminou por negar a intenção de se desfazer do negócio.
A conversa empacou por causa do preço, apurou o Valor. O GPA não aceitava pagar mais de R$ 500 milhões e a família Severini - dos irmãos Carlos Eduardo, José Guilherme, Pedro Olavo e Fausto José - queriam um valor na faixa dos R$ 600 milhões. As últimas conversas foram em maio. A companhia não comenta a informação
Veículo: Valor Econômico