GPA avalia gastos da família Klein

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Na primeira reunião de conselho de administração de Via Varejo depois de a família Klein ameaçar o Grupo Pão de Açúcar (GPA) com um processo de arbitragem, o tópico envolvendo os gastos dos Klein com jatos e a equipe de seguranças tomou boa parte das discussões.

Na sexta-feira, membros do conselho se reuniram por cinco horas, na sede da Via Varejo, em São Caetano do Sul (SP), para tratar de uma extensa pauta com 15 itens - incluindo um plano para melhorar os resultados da varejista que reúne Casas Bahia e Ponto Frio. Mas foram os gastos dos ex-donos da Casas Bahia que ocuparam a maior parte do tempo e pesaram no clima, já nada amistoso entre as partes. Só neste ano, as despesas da família Klein chegaram perto de R$ 75 milhões.

A questão dos gastos dos Klein foi levada ao conselho de administração da Via Varejo pela própria família. Como a presidência da empresa está muito próxima de ser trocada - no dia 22 de novembro o conselho vai votar o nome do substituto de Raphael Klein - e as contas da companhia estão sendo avaliadas pela KPMG, a família decidiu apresentar as contas, na tentativa de legitimar e manter os gastos. Com a saída de Raphael, entrará na vaga de presidente um executivo indicado pelo Pão de Açúcar e, provavelmente, próximo a Abilio Diniz, fundador e sócio-minoritário do GPA.

Controlador da Via Varejo, o GPA já havia solicitado que a empresa apresentasse tais gastos, mas a administração da controlada não o fez. Casino, o sócio majoritário de GPA, e Abilio, em lados opostos em outras questões envolvendo a sociedade no Pão de Açúcar, se uniram para "acabar com a gastança", segundo uma fonte que acompanha as conversas com a família Klein.

São despesas computadas no balanço de uma companhia que vende muito, mas lucro pouco. Via Varejo teve receita líquida de cerca de R$ 21 bilhões em 2011. E a soma de gastos de R$ 75 milhões equivale a quase 20% do lucro antes de juros e impostos do primeiro semestre de 2012 (R$ 406 milhões) e a quase quatro vezes o lucro líquido do período (R$ 20,2 milhões).

Na sexta-feira, representantes do Casino e Abilio foram preparados para barrar o plano dos Klein, de legitimar seus gastos em Via Varejo. Apresentaram votos escritos e fundamentados e, a partir de agora, tais despesas estariam suspensas.

O clima de constrangimento foi tamanho que, ao final, a própria família Klein votou contra o plano de despesas que havia sido apresentado. O assunto será submetido a um grupo de trabalho e depois, deve voltar à pauta.

Abilio Diniz, conhecido por seu temperamento exaltado em certas situações, manteve-se calmo durante a longa reunião do conselho, que teve início às 10 horas da manhã e durou até o fim da tarde. O único momento em que se alterou foi quando contestou a informação de que teria aprovado o que ele chamou de "despesas ultrajantes".

A apresentação do estudo preliminar da KPMG, que também prometia ser alvo de polêmica por ser o argumento central do questionamento dos Klein sobre o acordo de associação que criou a Via Varejo em 2010, acabou sendo suspensa. Nos últimos meses, a KPMG vem auditando novamente os balanços de Ponto Frio e Casas Bahia.

O presidente do Grupo Pão de Açúcar, Enéas Pestana, na posição de membro do conselho de administração da Via Varejo e representando os controladores, assumiu o comando da reunião nesse ponto. Disse que o tema da auditoria dos balanços de Ponto Frio e Casas Bahia não deveria ser discutido por se tratar de um levantamento ainda em fase de elaboração. Portanto, inconclusivo.

Em determinado ponto da reunião, a KPMG informou que iria apresentar um relatório das finanças de Bartira, fabricante de móveis controlada pelos Klein. O GPA foi contra por entender que é preciso finalizar toda a auditoria e não apresentar nada "picado". Seria preciso passar por um comitê financeiro antes de o relatório ser apresentado ao conselho. Pestana está recebendo suporte do Casino para enfrentar as polêmicas na empresa de eletroeletrônicos, apesar de o controlador francês do grupo ter se mantido afastado dessas discussões até o momento.

Apesar da união de forças entre Casino e Abilio nas questões da Via Varejo, em breve, os sócios devem ter um embate a respeito das mesmas despesas que o antigo controlador tem com o Pão de Açúcar. Por ano, Abilio gasta, em média, cerca de metade do valor gasto pelos Klein, com segurança e aeronaves. Mas, diferentemente da família Klein, Abilio Diniz tem sinal verde do sócio francês, dos tempos anteriores às brigas.

Um tópico importante que foi acertado entre as partes na reunião de sexta-feira é a saída de Raphael Klein, atual presidente de Via Varejo e filho de Michael Klein. Ele deixa o cargo no dia 22 de novembro. Raphael deve ocupar uma vaga no conselho de administração do grupo.

No dia 21 de novembro, o comitê de recursos humanos do GPA será consultado sobre a escolha do novo presidente. No dia 22 de novembro, haverá uma reunião do conselho de administração de Via Varejo para votar a indicação do executivo. O GPA escolherá o nome, que será aceito pelo conselho - com cinco membros do GPA e quatro membros dos Klein.

O Pão de Açúcar estuda alguns nomes possíveis para ocupar a vaga de presidente de Via Varejo. Para a função, vários nomes foram mencionados dentro do GPA, apurou o Valor.

Jorge Fernando Herzog, diretor vice-presidente da Via Varejo, próximo a Abilio Diniz, Claudia Elisa de Pinho Soares, diretora financeira e de relações com investidores da empresa estão entre eles e Antonio Ramatis Fernandes Rodrigues, diretor vice presidente de estratégia comercial, cadeia de suprimentos e tecnologia.

Ricardo Knoepfelmacher (ex-Brasil Telecom), Luiz Eduardo Falco (ex-Oi) e Claudio Galeazzi, entre nomes de fora da empresa também foram analisados. Todos esses já foram descartados, por razões diferentes. Não está totalmente afastada a hipótese de que a companhia busque alguém no mercado. Dessa forma, poderia até ser levado ao cargo alguém não ligado a Abilio Diniz ou aos Klein.

A indicação de um executivo dos Klein para o comando de Via Varejo, e que este mandato duraria dois anos, estava no acordo de fusão de Casas Bahia e Ponto Frio, fechado em 2010.

A saída de Raphael deve mudar as coisas. Com uma indicação do Grupo Pão de Açúcar à vaga, o novo executivo deve estar mais alinhado ao modelo de gestão do GPA. Hoje, há dois diretores de Via Varejo ligados à família Klein, além do presidente Raphael, e outros dois ligados ao Grupo Pão de Açúcar. Procurados pelo Valor, família Klein, Via Varejo e Grupo Pão de Açúcar não quiseram se manifestar.



Veículo: Valor Econômico


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