O presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar (GPA), Abilio Diniz, enviou ontem à noite duas cartas ao presidente do Casino, Jean Charles Naouri, numa resposta direta às declarações do sócio francês feitas em cartas enviadas ao brasileiro nesta semana. Ambos são acionistas do GPA e negociam um novo acordo que pode levar a saída de Abilio do grupo. O empresário escreveu que não tolerará o “esvaziamento” de sua função. Abilio não aceita a hipótese de um isolamento dentro da companhia, segundo interlocutores.
Ele cita também fatos desconhecidos do mercado até então, ligados à negociação. Além disso, ressalta que os “tumultos” que teriam sido causados na reunião de planejamento estratégico do GPA, na segunda-feira — como escreveu Naouri em uma carta a Abilio nesta semana — não vieram dele, “mas da forma de agir do Casino”, informa. Em outro momento, escreve que “abriu a [sua] casa” para Naouri, “em muitas ocasiões” e que nunca negou “atenção e respeito” ao sócio. Essas frases, especificamente, foram ditadas por Abilio para a elaboração da mensagem.
Ontem, foram enviadas duas cartas propositalmente, para separar os temas. Uma aborda as negociações da saída de Abilio do grupo e outra, as declarações de Naouri de que Abilio não tinha o direito de estar na reunião de planejamento estratégico do GPA na segunda-feira, em Paris. Abilio foi barrado pelo Casino nesse encontro por se tratar, segundo o sócio francês, de uma reunião do controlador. “Tenho direito de participar de qualquer assunto do grupo”, escreveu o brasileiro. Abilio diz não entender porque precisaria de convite para um encontro que discutirá questões ligadas ao Grupo Pão de Açúcar.
Com o envio dessas duas mensagens, segundo apurou o Valor, a ideia de Abilio é mostrar uma postura de que não vai aceitar quieto aquilo que Naouri disser. Em uma das correspondência, a mais curta, de uma página, ele expõe uma fato até então desconhecido.
Abilio escreve que ficou surpreso com a carta de Naouri enviada no dia seguinte à reunião em Paris — aquela em que Abilio foi proibido de estar. Acontece que, no dia anterior, domingo, preparado para ir à reunião, Abilio mandou uma mensagem para Naouri confirmando o interesse em negociar Via Varejo, como antecipou o Valor. Dois dias depois, o sócio francês escreveu uma carta informando que não aceitaria negociar “sob pressão” e que as propostas de Abilio não têm nada de “concreto”.
Agora, Abilio diz que mandou a carta no domingo com conhecimento dos assessores de Naouri. “Muito me surpreendeu a sua carta uma vez que as propostas negociadas com seus assessores seguiram sugestões apresentadas pelo senhor na nossa reunião em Paris, em 25 de junho passado”. Abilio escreveu que os próprios assessores disseram que existiriam poucos pontos de divergência nas negociações hoje.
O empresário continua nessa linha de raciocínio e escreve que essa “incongruência” entre a posição de assessores e a carta de Naouri, que nega que existam propostas concretas, só pode ser vista como um “arrependimento” dos termos até então negociados e desinteresse em concluir as negociações atuais.
Abilio quer contrapor a versão de Naouri de que não há nenhuma proposta do empresário na mesa. O empresário reforça o seu posicionamento de que está aberto as negociações, de que as comunicação entre as partes estavam acontecendo. Interlocutores ligados ao empresário dizem que esperam que o Casino se posicione de uma das duas formas: ou o sócio evolui nas negociações ou desiste de negociar a saída de Abilio do GPA.
Veículo: Valor Econômico