Nem durante as férias esfria o clima no Grupo Pão de Açúcar (GPA), entre o controlador Casino e Abilio Diniz, o presidente do conselho de administração GPA. O novo capítulo diz respeito à segurança pessoal, por conta de política adotada em dezembro e que opõe Abilio e a administração de GPA.
Ficou decidido em assembleia que cada beneficiário não deveria gastar mais do R$ 1,3 milhão ao ano com segurança. E desde 1º de janeiro, Abilio tem pago o valor excedente do próprio bolso. Como tem gastos anuais da ordem de R$ 30 milhões com segurança, paga a diferença.
A discussão diz respeito à infra-estrutura de controle que Abilio tem, aliada ao acesso de sua equipe às dependências da empresa. Há décadas, a estrutura de segurança dele e de sua família está dentro da companhia.
Na quarta-feira, 23, Vitor Fagá, diretor financeiro e de relações com investidores da varejista, enviou a Abilio, após aprovação do presidente da GPA, Enéas Pestana, uma notificação de que a equipe administrativa envolvida na segurança não teria mais acesso às dependências da empresa a partir de quinta-feira, dia 24.
Abilio respondeu na sexta-feira, 25. Disse estar surpreso, diante do que havia sido combinado anteriormente e exigiu saber de quem partira a decisão. Alegou ser parte da conduta do controlador prejudicar sua atuação e pediu a anulação dessa medida. Caso suas solicitações não sejam atendidas, afirma em carta que "serão tomadas as medidas necessárias à proteção de [seus] direitos, sendo certo que, inclusive, Enéas [Pestana], Vitor [Fagá] e os demais administradores, eventualmente envolvidos na tomada da decisão ora em questão, são pessoalmente responsáveis, civil e criminalmente, por todas as consequências que possam advir de seu ato". O documento foi encaminhado a todos os membros do conselho de administração.
Em 20 de dezembro, Abilio e a administração concordaram em trabalhar na minuta de um termo de compromisso sobre como se daria a transição de sua estrutura de segurança. Abilio alugaria um imóvel para abrigar toda a equipe e a sala de controle das informações, inclusive uma torre de radiofrequência. Abilio redigiu uma minuta em que pedia a transição em duas fases. Uma até 28 de fevereiro, para que tivesse tempo de preparar toda a mudança e outra até maio. Entretanto, essa versão nunca foi assinada e o assunto ficou dormente até o dia 21 deste mês, quando voltou a ser alvo de debate entre Fagá e a advogada de Abilio.
Junto com o pedido de retirada da equipe, a carta de Fagá a Abilio continha uma outra versão do termo de compromisso, diferente daquela encaminhada pelo empresário anteriormente.
Neste sábado, Pestana respondeu à notificação de Abilio, alegando que a empresa procurou representantes e não teve retorno, o que teria originado a necessidade da carta de Fagá. E pede ao empresário que escolha três datas ainda em janeiro para "discutir todas as questões de forma definitiva". Fim das férias.
Procurado, o empresário informou, por meio de sua assessoria, que "lamenta o vazamento de documentos da companhia". Na resposta, reforça que vem arcando com os custos extras da política desde o início do mês e que a discussão atual diz respeito apenas ao procedimento de transição da estrutura.
Veículo: Valor Econômico