O conselho de administração da Via Varejo, controlada pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA), avalia hoje o resultado final do relatório da KPMG a respeito da situação patrimonial do Ponto Frio e das Casas Bahia no momento da união das empresas. O estudo foi entregue à Via Varejo no dia 10 deste mês.
A conclusão do levantamento, iniciado em outubro do ano passado, é que haveria ajustes a serem feitos tanto em Ponto Frio como em Casas Bahia.
No Ponto Frio o ajuste seria de R$ 60 milhões e nas Casas Bahia, de R$ 150 milhões, podendo chegar a R$ 200 milhões.
Esse levantamento estava previsto no acordo de compra e venda negociado com a família Klein para a aquisição da Casas Bahia em 2010. O motivo de sua existência é que para a criação da Via Varejo - resultante da combinação das duas varejistas de eletroeletrônicos - foi feita antes uma reorganização dos ativos da família Klein.
Para a combinação, apenas o negócio de varejo da família integraria a Via Varejo, por meio de uma separação. A "casca" da antiga Casas Bahia e os imóveis ficaram com os Klein. A família, por sua vez, exigiu que o estudo fosse estendido ao Ponto Frio.
São diversas as origens dos ajustes e eles referem-se à situação patrimonial das companhias para o momento da combinação dos ativos.
A complexa transação envolveu diversos passos. De forma simplificada, para que a família Klein ficasse com 47% do resultado da Via Varejo e o GPA com 52,4%, foram colocados no negócio o Ponto Frio mais R$ 600 milhões e a operação de varejo das Casas Bahia.
A consequência prática desse levantamento é que, pelo acordo inicial de 2010, as partes envolvidas deveriam cada uma aportar a diferença de seu lado na Via Varejo. Ou seja, o GPA deveria colocar R$ 60 milhões e a família Klein, R$ 150 milhões.
Uma alternativa a isso seria cada parte pagar à outra, sem passar por Via Varejo, a diferença proporcional pela participação que cada uma detém no negócio. Assim, o Grupo Pão de Açúcar pagaria cerca de R$ 28 milhões aos Klein e estes, R$ 80 milhões à varejista controlada pelo grupo francês Casino.
Entretanto, a decisão de que essa será a consequência não foi tomada. Segundo apurou o Valor, o estudo teria diversos pontos considerados "inconclusivos". Além disso, a diferença pelo lado das Casas Bahia poderia ser de apenas R$ 30 milhões. E o de Ponto Frio, poderia cair para até R$ 12 milhões. Assim, os intervalos de valores estão sendo considerados excessivos para que uma ajuste efetivo seja feito.
Conforme o Valor apurou, o GPA já teria contratado o Instituto Brasileiro de Peritos para fazer uma nova análise.
Todas essas indefinições serão debatidas na reunião do conselho de administração de hoje.
O início desentendimento entre os Klein e o Grupo Pão de Açúcar aconteceu em outubro do ano passado. A família Klein enviou uma carta ao comando do Grupo Pão de Açúcar na época ameaçando a rede com processo arbitral por conta de "erros e inconsistências relevantes capazes de alterar a equação que definiu a relação de troca entre as ações da Nova Casas Bahia pelas [ações] de Globex".
A família acreditava que o valor patrimonial do Ponto Frio foi "inflado" quando a fusão entre as redes foi fechada. O que aconteceu foi que, após receber a carta, o grupo Pão de Açúcar decidiu que também solicitaria uma análise patrimonial da Casas Bahia, para verificar se existiram erros, já que o acordo de acionistas determinava que essa análise iria acontecer.
Procurados para comentar a questão, Grupo Pão de Açúcar, Casino, Via Varejo e a família Klein não se pronunciaram.
Existe um outro tema que está em discussão entre os acionistas hoje. Trata-se do futuro de Antonio Ramatis na presidência da empresa, apurou o Valor. Tanto o Grupo Pão de Açúcar quanto a família Klein têm pressionado Ramatis para que ele assine o plano de retenção de Via Varejo. A empresa não quer ir à mercado numa oferta pública de ações - a companhia deve fazer uma oferta primária de ações - sem ter a certeza que o presidente continuará à frente do cargo.
O Grupo Pão de Açúcar vem tratando do tema da retenção de Ramatis na companhia há meses. Ramatis entende que uma assinatura seria desnecessária. Neste momento, segundo apurou o Valor, uma saída possível, caso o executivo não assine o termo de retenção, seria que ele deixasse a empresa, em comum acordo com os acionistas. Todos os principais executivos de GPA e da Via Varejo já assinaram esse termo, segundo solicitação do controlador Casino.
Existe a possibilidade de que esse assunto seja tratado na reunião do conselho de Via Varejo hoje, já que uma solução para a questão tem sido postergada há meses.
Veículo: Valor Econômico