O Carrefour no Brasil tenta repaginar a sua operação de hipermercados - e com isso voltar a trazer resultados consistentes para o negócio no país. A rede passou por uma reestruturação das operações nos últimos dois anos, com mudança de comando, fechamento de lojas, demissões e revisão de despesas. Agora, com pouco mais de 100 hipermercados no país, a empresa apresenta um "novo conceito" de loja, com a reabertura ontem de um primeiro hipermercado em São Paulo com referências ao Carrefour Planet, loja do grupo na Europa. O Carrefour é a maior rede de varejo alimentar do país.
Não se trata de uma guinada na estratégia de crescimento da empresa. A rede Atacadão, controlada pelos franceses, continua a ser o grande vetor da expansão do grupo no Brasil - respondeu por quase 60% das vendas brutas da companhia em 2012, apurou o Valor, cerca de R$ 18 bilhões. A questão é que, como a empresa decidiu anos atrás que não deixará a operação no país, buscou um rumo para o negócio de hipermercados, que tem sido alvo de questionamentos de acionistas e analistas da empresa na França. A repaginação das lojas da companhia no Brasil - com mudanças de layout e criação de áreas - seria um sinal nesse sentido, apurou o Valor.
Comandada por Luiz Fazzio desde 2011, a operação brasileira do Carrefour tem 103 hipermercados, 92 unidades do Atacadão e 41 Carrefour Bairro e vendeu R$ 31,4 bilhões em 2012, alta de 13% nas vendas brutas, taxa acima do Pão de Açúcar e Walmart. A empresa não informa, porém, se o negócio de hipermercado no Brasil é rentável, mas admite que foi necessário rever o modelo, com o aumento da concorrência das lojas de vizinhança, de pequeno porte.
Analistas lembram, porém, que ainda é cedo para concluir que as mudanças darão resultados mais sólidos. O mercado calcula que a reforma das lojas nesse novo projeto custe de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões - é um valor que equivale quase à venda mensal de uma loja da rede (cerca de R$ 12 milhões ao mês). Com o valor investido em três reformas, a rede poderia abrir um hipermercado novo. Não é pouco dinheiro e o investimento pode ser explicado por questões estratégicas: o Brasil é a segunda maior operação do Carrefour no mundo. Globalmente, a rede registrou resultados um pouco mais animadores no ano passado, sob o comando de George Plassat, após anos de desempenho pífio.
Em abril, Plassat disse que o crescimento no Brasil e na China é "provavelmente insuficiente".
O que está nos planos da cadeia hoje é reformar mais três hipermercados Carrefour neste ano e outros dez no ano que vem, segundo a rede. Dá quase uma loja por mês em 2014. Seriam R$ 140 milhões de investimento em dois anos, apurou o Valor. Há três lojas dentro desse novo modelo, em São Caetano do Sul, Santo André (SP) e agora, em São Paulo. Na unidade reformada, a área de promoções foi jogada para a frente da loja. Alguns setores, como beleza e eletroeletrônicos operam como se fossem "ilhas", ocupando uma área grande claramente identificada. Um dos destaques é o layout interno, semelhante ao do Carrefour Planet na Europa.
A empresa admite as semelhanças, mas informa que não há uma cópia do modelo. O formato lá fora apenas é uma referência, informa a rede.
O Carrefour no país nem poderia copiar a loja europeia. O Planet é considerado uma operação com custo fixo alto - oferece lá fora comodidades e experiências de compra que aqui não serão replicadas. E isso não caberia num momento pós ajustes internos na subsidiária.
Veículo: Valor Econômico