Ramatis deixa Via Varejo e Vitor Fagá assume comando interino

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Com a saída de Antonio Ramatis da presidência da Via Varejo, que renunciou ontem ao cargo, começam a ser estudadas alternativas à sucessão. O diretor vice-presidente de finanças e relações com investidores Vitor Fagá foi eleito como presidente interino. O Valor apurou que um dos candidatos mais fortes à sucessão é Roberto Lima, ex-presidente da operadora de telefonia Vivo e atualmente no conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlador da varejista de eletroeletrônicos.

Desde a chegada de Lima ao conselho do GPA, em junho de 2012, havia uma expectativa de que em algum momento ele assumisse uma posição executiva no grupo. Na noite de quarta-feira, em Paris, Lima jantou com a cúpula do Casino, controlador isolado do GPA há quase um ano. Há outras alternativas em estudo - um executivo do mercado financeiro e outro do varejo. Porém, como não há pressa na definição do nome, novas opções podem ser consideradas.

A saída de Ramatis do cargo, como antecipou ontem o Valor, foi confirmada pelo executivo em carta encaminhada na manhã de ontem ao conselho de administração da empresa, em "decisão irrevogável" negociada nas 24 horas anteriores ao pedido, depois de desgastes entre ele e o comando do grupo. Ramatis ficou apenas seis meses no cargo. Membros do Casino e Enéas Pestana, presidente do GPA, estiveram em conversas com o executivo até o fim da tarde de terça-feira. Foi uma saída conturbada. Na carta, ele escreve: "Não tenho concordado com a orientação que se pretende adotar em relação a determinados assuntos da companhia. Também não posso concordar com interferências que tenho recebido no exercício de minha função por parte de executivos do grupo".

E continua: "outro fator que também influenciou bastante a minha decisão é o fato de que não recebi, até a presente data, o pagamento referente ao plano de stock options relativo ao exercício de 2012, o que evidencia um tratamento discriminatório". Segundo fontes ligadas à empresa, Ramatis teria recebido parte do valor em outubro e só teria direito ao restante daqui a três anos, no fim de 2016. O executivo recebia quase R$ 30 milhões em salário ao ano.

Após a leitura da carta de Ramatis na reunião do conselho ontem, o executivo foi questionado sobre as críticas ao comando do grupo, liderado por Enéas Pestana, visto como um executivo de fortes cobranças internas. Ramatis disse que não iria comentar o teor do documento. Então, o executivo e Abilio Diniz (membro do conselho de Via Varejo) foram questionados pelo Casino e pela família Klein, acionista da rede, se Ramatis teria planos de ir para a fabricante de alimentos BRF. Ele negou, assim como Abilio, numa das reuniões mais tensas do colegiado.

Ramatis tem negado aos mais próximos que trabalhará na BRF, cujo presidente do conselho é Abilio Diniz, muito próximo de Ramatis há anos. Seu nome como uma opção às possíveis mudanças na linha de frente da indústria de alimentos existem desde fevereiro, como antecipou o Valor. Fontes ligadas ao conselho da varejista consideram que é questão de tempo. Ramatis não assinou o plano de retenção da rede - que vincula a concessão de um pacote de benefícios à permanência do executivo por um tempo determinado.

A mudança de comando às vésperas de uma possível oferta de ações da Via Varejo pode ser colocada na conta das dificuldades que começam a surgir em razão da prolongada divergência entre os acionistas.

Há dificuldades explícitas entre os três acionistas de Via Varejo. A rede é controlada pelo GPA - onde há uma tumultuada convivência entre Casino e Abilio Diniz, antigo controlador - e tem a família Klein como minoritário importante (com 47% das ações). Os ex-controladores da Casas Bahia, por sua vez, também não têm uma boa relação com nenhum dos acionistas de GPA.

As dificuldades de gestão que surgem dessa difícil convivência, conforme apurou o Valor, são ingrediente importante da insatisfação de Ramatis. Ele discordava dos acionistas em alguns pontos, sentia-se pressionado, e já havia dito a pessoas próximas, por exemplo, que achava que deveria ter uma equipe mais forte e que novas contratações deveriam ocorrer mais rapidamente. Era avaliado internamente como executivo preparado e estava começando a implementar mudanças relevantes na empresa, com reduções mais fortes de despesas.

Fontes próximas ao Casino lamentam a saída de Ramatis, por considerá-lo um bom executivo. Entretanto, ressaltam que a recuperação já iniciada no desempenho financeiro da Via Varejo se deve "às engrenagens do GPA" e que as melhorias seguirão em marcha, a fim de viabilizar a oferta de ações da companhia. A expectativa é que operação ocorra no fim deste ano.

Apesar de o relatório da KPMG a respeito das contas de Ponto Frio e Casas ter sido apresentado ontem ao conselho de administração da Via Varejo, não houve nenhuma definição a respeito. O levantamento apontou que existem ajustes a ser feitos entre R$ 12 milhões e R$ 60 milhões em Ponto Frio e entre R$ 30 milhões e R$ 200 milhões em Casas Bahia. A partir de agora, as partes do acordo original - GPA e família Klein - devem iniciar uma negociação para definir o que fazer diante do estudo.



Veículo: Valor Econômico


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