Para contornar elevação de tributos e conter reajuste ao consumidor, Apas sugere a utilização de outras fontes de energia e equipamentos mais eficientes
Realizada no Expo Center Norte, na Capital, a Feira Apas discutiu o cenário atual do setor
Na contramão do cenário de retração econômica do País, a maior feira de supermercadistas do mundo prega ao setor que este é o momento certo de investir mais nos negócios. A premissa parte de uma lógica levantada pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) durante a 31.ª edição de seu Congresso e Feira de Negócios – encerrado na semana passada na Capital - justamente para baixar os custos operacionais e evitar que o aumento de tributos, como o da energia elétrica, por exemplo, seja repassado aos consumidores nos próximos meses.
Segundo a Apas Regional Bauru, a conta de alguns supermercados na cidade chegou a aumentar até 110% nos últimos meses. A informação foi passada durante entrevista exclusiva da diretoria da Apas concedida à equipe de reportagem do JC, que esteve na cobertura do evento na Capital.
Entre as medidas elencadas pela entidade para postergar aumento no preço final está a compra e uso maior dos geradores de energia, troca da iluminação usual por lâmpadas LED, máquinas de corte, balanças e refrigeradores mais eficientes e econômicos, além de investimentos em sistemas e consultorias para redução de perdas.
‘Não é luxo’
Na média, a energia elétrica teria encarecido em até 40% as contas dos supermercados em todo o Interior, segundo a Apas. Mas, em Bauru, o aumento teria sido bem maior, conforme aponta Emerson Svizzero, diretor da Apas regional Bauru.
“De R$ 10 mil, tem gente pagando R$ 21 mil de energia elétrica em uma loja só. É impossível não repassar este valor se não apostarmos na redução dos custos. Com o gerador e lâmpadas LED, por exemplo, é possível baixar de 15% a 20% a conta”, comenta Svizzero, que também é proprietário de um supermercado bauruense.
Ao invés de funcionar somente durante as emergências, o uso do gerador se daria nos horários de pico de cada estabelecimento. Na cidade, a circulação intensa nos supermercados ocorre das 16h às 21h.
A diminuição dos custos operacionais por meio de equipamentos novos, mais eficientes e econômicos também é lembrada por ele. “Não é luxo, é uma necessidade”, fecha a questão Svizzero.
Para ajudar os estabelecimentos a baixarem seus custos, os supermercadistas ampliaram diálogo com bancos estatais no intuito de fomentar empréstimos para que os médios e pequenos do setor consigam renovar suas lojas.
“Buscamos convênio com algumas indústrias, e há promessa de sair um incentivo estatal, de creditar do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Serviços) o valor do imposto do gerador”, antecipa Pedro Celso Gonçalves, presidente da Apas. “Uma parte desse aumento não tivemos como conter porque houve a alta do dólar e do combustível. Mas investindo em tecnologia podemos conter o aumento provocado pelas contas de energia”, completa o Gonçalves.
Ainda estável
Apesar das sustentações, tanto Gonçalves quanto Svizzero apontam que a crise ainda não afetou diretamente os supermercados e que o consumo continua estável.
No entanto, o segmento registrou índices 2% abaixo da inflação no primeiro quadrimestre deste ano e espera crescimento real nulo para 2015, ou seja, a mesma quantidade de vendas em relação ao ano passado. “Mas em 2016 acreditamos que iremos crescer até 2,5% acima da inflação”, projeta o presidente da Apas.
A avaliação é reforçada pelo vice-presidente de Sustentabilidade da Apas Erlon Godoy Ortega. “Em período de crise, as pessoas costumam se recolher mais em casa. E este é um fator que poderá beneficiar os supermercados”, acrescenta.
Demissões?
Mesmo com os números negativos dos últimos meses, o setor não fala em demissões neste ano. “Não temos essa previsão, afinal, nosso setor não é tão sensível quanto à indústria. A queda foi pequena, o máximo que pode acontecer é a gente parar de contratar”, ressalta Pedro Gonçalves. Lembrando que, só em Bauru, o segmento emprega, aproximadamente, 12 mil colaboradores.
‘Diminuiu’
Proprietário de uma rede de supermercados com três lojas em Bauru, Flávio Fernandes conta que tem recorrido aos geradores para diminuir o aumento na energia elétrica.
“Consegui diminuir bastante a conta ligando o gerador das 18h às 21h. Mas, como o diesel também aumentou, ainda estou avaliando a economia que obtive”, comenta o supermercadista.
Para ajudar a baixar ainda mais seus custos, Flávio diz que também tem investido em uma empresa de consultoria para avaliar o que mais pode mudar em sua loja. “O momento pede isso. Não dá para bobear”, dispara o supermercadista, que também é diretor de tecnologia da Apas.
De fato, empresas de softwares inovadores, de consultoria e produção de geradores foram figuras que ganharam mais presença e espaço nos estandes na Feira Apas deste ano. Vale lembrar que o evento se destaca por indicar as tendências do setor no País.
Marcele Tonelli
Investindo em tecnologia podemos conter o aumento provocado pelas contas de energia, avalia Pedro Celso, presidente da Apas
Bauruenses voltam a se destacar na Feira Apas
O evento, que aconteceu no Expo Center Norte, na Capital, foi realizado na semana passada. Como já se tornou tradição, participaram dos quatro dias de evento centenas de funcionários e empresários de Bauru e região, como os supermercadistas Jad Zogheib, vice-presidente da Apas; Emerson Svizzero, e Flávio Fernandes.
Além disso, três empresas expositoras de Bauru marcaram presença na tradicional feira. São elas: Mezzani Massas e Pasteis, que participou pelo 6.º ano; a Gera Arte Comunicação Visual, que, em sua terceira participação na feira, triplicou o tamanho do estande para ganhar mais visibilidade; e, por fim, a Pró-Market Móveis e Expositores, que cravou sua 8.ª participação neste ano.
Só em Bauru, setor faturou R$ 960 milhões
O crescimento do setor supermercadista é puxado pelo Interior. Só em Bauru, o setor de supermercados faturou, no ano passado, R$ 960 milhões, o que equivale a 33% da região e 1,2% do faturamento de todo o Estado de São Paulo.
Alex Mita
De R$ 10 mil, tem gente pagando R$ 21 mil de energia em uma loja só, diz Emerson Svizzero, diretor da Apas Regional Bauru
O segmento tem despontado como uma das principais atividades do comércio e do PIB da região. Lembrando que, em 2013, a região de Bauru foi responsável por 2,3% do faturamento do setor supermercadista no Estado, o que equivale a aproximadamente R$ 2,1 bilhões.
É exatamente o que diz também um levantamento realizado pela Apas em parceira com a Nielsen e Kantar Worldpanel, apresentado na 31.ª edição da Feira e Congresso Apas, que aponta o horizonte dos bons negócios fora das grandes Capitais.
Diretor da Nielsen, Olegário Araújo afirma que o segmento tem crescido duas vezes mais no Interior do que nas tidas grandes cidades. “O Interior cresce mais porque estamos vivendo uma desconcentração da economia”, aponta.
Veículo: Site JCNet