Próximo de conquistar uma cadeira no Conselho do grupo varejista francês Carrefour, o empresário Abilio Diniz, através de sua gestora de investimentos Península, elevou sua participação na companhia. Especialistas enxergam no gesto uma forma de fortalecer a indicação do empresário.
Ontem (30), a Península Investimentos anunciou o aumento da fatia de ativos sobre o Carrefour de 5,01% para 8,05%. Em nota, a empresa afirma que o novo investimento está em linha com a estratégia de longo prazo e na crença no potencial de crescimento do grupo.
Entretanto, para a especialista em varejo e sócia-fundadora da consultoria Stockler, Angelina Stockler, as motivações que levaram Diniz à esta nova investida vão além da visão de fortalecimento sobre o Carrefour Global. "Certamente ele está buscando aumentar a influência da Península e, em consequência, dele próprio, no Carrefour, até para ganhar mais poder de decisão na busca por uma cadeira no Conselho da companhia", opina.
No início do mês, Diniz foi indicado para ocupar uma das vagas de conselheiro do Carrefour Global. A decisão está submetida à aprovação dos acionistas do grupo, marcada para acontecer na próxima assembleia geral. Ao elevar sua fatia no varejista francês, Diniz se tornou o terceiro maior acionista da empresa, superando a fatia de 5,8% detida pela empresa de private equityColony Capital, mas ainda atrás dos 8,99% detidos pelo Grupo Arnault e dos 11,51% da família Moulin.
Segundo a consultora Stockler, a ascensão do ex-mandatário do Grupo Pão de Açúcar no concorrente francês não deve parar por aí. "O Abilio gosta de estar no comando. Ele é um líder. Tenho absoluta certeza de que ele pretende ampliar ainda mais a sua participação no Carrefour Global no médio prazo. Isso está em linha com seu modo de operar", destaca ela.
Angelina compara a possível ascensão do empresário com a estratégia utilizada por ele para crescer na Brasil Foods (BRF), onde atualmente Diniz ocupa o cargo de presidente do conselho administrativo.
Outro fator que, de acordo com a consultora, move o empresário brasileiro é em relação à situação econômica do Brasil. Para ela, Diniz tem a plena segurança de que a crise política e econômica passará em breve e o comércio local voltará a se fortalecer. "Ele realmente entende o mercado brasileiro e, ao elevar sua participação, poderá ter maior atuação sobre as estratégias locais do grupo. Diniz está olhando para além da crise, quando o consumo voltará com força", explica.
De opinião semelhante compartilha o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), professor Claudio Felisoni. "Após aquela confusão com o Casino, ele está voltando com força ao varejo. Mas o que pode ter motivado isso são as expectativas de médio e longo prazo que ele faz no poder de consumo do mercado brasileiro. É bem possível que por trás dessa elevação na participação tenha uma perspectiva de melhora do cenário local", sugere.
Retorno às origens
A ascensão de Diniz no Carrefour e sua possível conquista em uma das cadeiras do conselho administrativo da companhia devem fortalecer a influência do empresário sobre o mercado em que ele e sua família estão inseridos desde a sua infância, já que seu pai, Valentim Diniz, é o fundador do Grupo Pão de Açúcar.
"Se você colocar um jogador de futebol craque em um time que já joga bem, esse time vai deslanchar. É isso que pode acontecer com o Carrefour ao dar mais espaço para ele", compara o professor Felisoni.
Em 2011, Diniz se desentendeu com a varejista francesa Casino, até então sua sócia no GPA, após ter buscado intermediar uma fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. O acordo fracassou e em seguida o Casino assumiu o controle do grupo brasileiro.
Veículo: Jornal DCI