Monitor de bem-estar animal com 52 empresas atesta que gigantes mundiais como JBS e Cargill têm muito a avançar no cage-free
As multinacionais BRF e Danone foram classificadas como as de melhor desempenho entre 52 empresas de hotelaria e alimentos mais influentes da América Latina na eliminação do confinamento de galinhas poedeiras em suas cadeias de suprimentos de ovos.
As duas gigantes de alimentos foram as únicas inseridas na categoria ouro no Monitor de Iniciativas Corporativas pelos Animais (Mica) 2021-2022, ranking organizado pela Mercy For Animals (MFA), uma das maiores ONGs do mundo dedicada ao fim da exploração animal em fazendas industriais e na indústria da pesca. O levantamento divide as empresas de acordo com seus posicionamentos e avanços no compromisso público de só usar ovos de galinhas livres de gaiola.
O ranking foi divulgado nesta terça-feira (19/4) no Brasil, México e Estados Unidos. BRF e Danone, analisadas pela primeira vez, relataram que todos os ovos utilizados em seus alimentos são 100% de galinhas criadas no sistema cage free (sem gaiola, em galpões) ou free range (livres em galpões e com acesso à área externa). O primeiro levantamento, divulgado no ano passado, tinha 34 empresas.
A BRF, fusão entre Sadia e Perdigão, anunciou em agosto de 2020 que passaria a empregar em seu processo industrial de alimentos no Brasil 100% de ovos cage-free certificados, adiantando em cinco anos o compromisso que tinha assumido em 2017. A companhia usa cerca de 23 milhões de ovos na produção de lasanhas, pizzas, tortas e pães de queijo.
A Danone, que utiliza ovos e ingredientes provenientes de ovos em algumas fórmulas para bebês e em produtos lácteos, como iogurtes congelados, creme inglês e pudins, diz que concretizou até o final de 2019 o uso de 100% cage free em todos os países e divisões de negócios. A empresa diz que o objetivo é alcançar melhores condições para todos os animais em sua cadeia de abastecimento.
Por outro lado, duas outras gigantes mundiais de alimentos com forte atuação no Brasil, JBS e Cargill, também avaliadas pela primeira vez, têm muito a avançar. A JBS, que assumiu em 2017 o compromisso de banir o confinamento de galinhas em sua cadeia de suprimentos de ovos, foi inserida na categoria bronze, das empresas que relataram publicamente que mais de 30% dos ovos em suas cadeias vêm do modelo cage free. Já a Cargill está na categoria Laranja, que reúne empresas sem transparência ou sem compromisso com a eliminação dos ovos produzidos em gaiolas. A companhia anunciou um compromisso em 2018, mas, segundo a MFA, “não tem sido clara em informar como está avançando na transição”.
Procurada pela Globo Rural, a JBS disse que o compromisso assumido em 2017 pela Seara, uma das marcas que foi adquirida pela companhia, foi cumprido em 2020, quando a empresa passou a comprar ovos para ingredientes de seus produtos apenas de galinhas criadas fora de gaiola. Já os novos produtos que passaram a integrar o portfólio da JBS em 2020, com a aquisição dos ativos de margarina e maionese da Bunge, terão transição até 2025.
A Cargill disse por email que está no Brasil desde 1965 e sua atuação tem sido marcada desde o início pelo compromisso com a sustentabilidade e o respeito com o bem-estar animal. Na questão dos ovos, disse que trabalha de forma próxima com os fornecedores para atingir a meta de ter ovos 100% livres de gaiolas em seus produtos até 2025, mas não informou quando do suprimento já atende esse requisito hoje.
A categoria prata, que inclui quem já tem mais de 90% dos ovos livres de gaiola, só tem uma classificada: a rede de atacarejo Costco, que tem unidades no EUA, México e Porto Rico, mas ainda estuda implantar sua primeira unidade no Brasil. Na categoria bronze, além da JBS, aparecem Arcos Dorados (maior franquia do McDonalds no mundo), GPA (Grupo Pão de Açúcar) e Subway.
A MFA destaca que 44 empresas analisadas, que correspondem a 84,6% do total, ainda têm muitos passos a avançar. O Mica registra 15 companhias na categoria amarela, que inclui as que assumiram compromisso, mas têm pouco ou nenhum progresso, 18 na laranja (a mesma da Cargill) e 11 na vermelha, ou seja, não têm compromisso público nem relataram avanços publicamente.
Cecilia Valenza, gerente de Relações Corporativas da MFA no Brasil, disse em nota que é importante que as empresas façam avanços significativos para alcançar suas metas e relatem publicamente seu progresso, a fim de demonstrar transparência na gestão de suas operações e seu interesse em manter o público consumidor informado.
Segundo a gerente, também preocupa o fato de faltar equidade nas políticas de bem-estar animal de certas empresas, que tratam o tema de forma desigual nas diferentes regiões em que operam. Ela cita o caso do grupo Mars, responsável por marcas como M&M, Snickers e Twix, que não tem compromisso para a América Latina, mas já se comprometeu em ter uma cadeia de fornecimento com 100% das galinhas livres de gaiolas na Europa e em países como Austrália, Estados Unidos e Canadá.
“As preocupações com o bem-estar animal e a segurança dos alimentos não terminam nas fronteiras dos países do Norte global. Excluir consumidores e animais do Sul global das questões de responsabilidade social corporativa não parece justo”, diz Cecília.
Fornecedores
O Instituto Ovos Brasil (IOB) estima que apenas 2% dos ovos produzidos no país venham de galinhas livres de gaiola. Granjas gigantes, como Mantiqueira e Faria, fornecedoras de ovos para as grandes redes varejistas e empresas de alimentos, mantêm investimentos para aumentar a oferta de ovos cage free no país, mas, operando há 17 meses com prejuízo, segundo dados do IOB, a maioria dos produtores de ovos cortou investimentos e continua tratando o modelo sem gaiolas como mercado de nicho.
Para a MFA, o confinamento de galinhas em gaiolas pela indústria de ovos é uma das práticas que mais causa sofrimento aos animais no setor alimentício, já que as aves são impedidas de expressar a maioria de seus comportamentos naturais, como formar ninhos, esticar as asas, tomar banho de areia ou ciscar.
Ranking
Conheça todas as empresas do ranking e sua classificação nas categorias:
Ouro (100% livres de gaiola): BRF e Danone
Prata (mais de 90%): Cozco
Bronze (mais de 30%): JBS, Arcos Dorados, GPA e Subway
Verde (mais de 15%): Carrefour
Amarelo (pouco ou nenhum progresso, mas alguma transparência): Accor, Aramark, Barceló, BFFC, Compass, Crepes & Waffles, Ferrero, Kraft-Heinz, Marriott International, Pif Paf, Puratos, Sodexo, Unilever e Grupo Big.
Laranja (sem transparência ou sem compromisso): Cargill, Alsea, Arcor, Best Western, Cencosud, Colombina, DIA, Grupo Herdez, HEB, Hershey, Hilton, Inter Continental Hotel, Kellogg’s, Mondelez, Nestlé, PepsiCo, RBI, Royal Caribbean.
Vermelho (sem compromisso e sem transparência): Alicorp, Camil, Carozzi, Chedraui, Falabella, FEMSA, Grupo Éxito, Jeronimo Martins, Mars, Soriana, Walmart.
Fonte: Revista GR