Celulose e papel: Fabricante calcula emissão de gases na cadeia produtiva
Maciel Neto, presidente: "O cliente quer que a gente faça, mas não quer pagar mais. Mas, para nós, é importante. Está no nosso posicionamento estratégico". A Suzano Papel e Celulose será a primeira empresa do setor no mundo a divulgar em seus produtos a chamada "pegada de carbono" - o volume de CO2, o mais conhecido dos gases de efeito estufa, que foi liberado na produção, no uso e no cálculo de descarte do produto. Até o fim do ano, três tipos de papel e 100% da celulose voltada à exportação terão o selo inconfundível: a marca de um pezinho e a informação sobre quantos gramas/quilos de gases foram gerados por tonelada do produto. No ano que vem, outros itens serão acrescentados.
A empresa segue, assim, uma tendência mundial recente da qual já fazem parte grandes nomes como Coca Cola, PepsiCo, Danone, Kimberly-Clark e Tesco, o maior varejista do Reino Unido.
Sem revelar o investimento ou o incremento no custo de produção, Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano, diz que a decisão está no "DNA" de sustentabilidade da empresa. "O cliente quer que a gente faça, fica contente, mas não quer pagar mais. Mas, para nós, isso é importante. Está no nosso posicionamento estratégico", diz o executivo, em entrevista ao Valor.
Somente em celulose, serão rotulados cerca de 1,1 milhão de toneladas. A verificação e certificação ficará a cargo da consultoria ICF International, sediada no Rio de Janeiro, e os selos são dados pela britânica Carbon Trust.
O primeiro passo foi dado em 2003, com a realização do primeiro inventário anual de emissões de gases da empresa. Através desse inventário, a Suzano pode quantificar sua poluição e criar metas e formas de reduzi-la ao longo dos anos seguintes.
Entre 2000 e 2009, a Suzano conseguiu reduzir suas emissões de 0,472 tonelada de CO2/tonelada de produto para 0,267. O resultado foi possível com a substituição de diesel por gás em algumas caldeiras de suas fábricas e ao plantio maior de árvores.
Com a "pegada de carbono", a empresa de papel e celulose passa a olhar também para o impacto ambiental de toda a sua cadeia produtiva - dos cerca de 400 fornecedores de matéria-prima até a "porta do cliente" no Brasil e exterior. Nesse cálculo entram, por exemplo, operações nas fábricas e energia gasta até o transporte.
De acordo com Maciel, a Suzano optou por não exigir de seus fornecedores um inventário próprio de suas emissões de gases. "Perderíamos todos os fornecedores", avalia. Em vez disso, a empresa adotou uma metodologia internacional (PAS2050) que serve de referência das emissões por segmento de indústria. "Não estamos exigindo, mas induzindo fornecedores a olhar para a sustentabilidade", diz Maciel.
O mercado externo, sobretudo o europeu, é o grande alvo do selo. É no velho continente que está a preocupação com o superaquecimento do planeta e seus impactos. Para o Carbon Trust, empresa criada em 2000 pelo governo britânico e que conta com orçamento público e gestão privada, tão importante quanto medir a poluição é criar meios de diminui-la. Daí o nome da certificação "Carbon Reduction Label".
Segunda maior companhia de celulose de eucalipto do mundo, a Suzano tem atualmente 300 mil hectares de florestas plantadas e 100 mil hectares de florestas de terceiros. Além disso, a empresa informa ter 150 mil hectares de florestas nativas.
Veículo: Valor Econômico