Brasileiro é pouco "verde" pois consumo fala mais alto

Leia em 3min 10s

Pesquisa compara 16 grandes cidades da América Latina

 

Cada vez mais "ecologicamente correto" na teoria, o Brasil ainda é um país pouco "verde" na prática. Em um ano, o percentual de moradores de grandes cidades que já ouviu falar de aquecimento global subiu de 68% para 92%, um salto puxado principalmente pelas pessoas de baixa renda. Mas a preocupação com o ambiente não se traduz em ações para mais de 70% da população. Preço é um entrave para a compra de produtos mais "ecológicos" e os brasileiros veem com ceticismo a publicidade das empresas sobre o assunto.

 

As conclusões fazem parte de um estudo sobre "consumo verde" realizado pela empresa de pesquisas Kantar Worldpanel em 9 mil residências de 16 grandes cidades da América Latina em setembro. No Brasil, o levantamento foi feito em São Paulo e no Rio.

 

Na comparação com os consumidores dos países vizinhos, paulistas e cariocas mostraram o menor grau de "consciência verde", segundo um questionário de 17 perguntas envolvendo atitudes como uso do carro, consumo de energia e de alimentos frescos.

 

Parece contraditório, diante do crescimento expressivo de pessoas com informações sobre o tema? E é. "Ao mesmo tempo em que percebe a importância de um consumo mais sustentável, o brasileiro está tendo acesso a mais bens, muitos compraram o primeiro carro, passaram a ter mais eletrônicos em casa – o que gera consumo maior de energia elétrica e aumenta a produção de lixo", diz Carlos Cotos, presidente da Kantar no Brasil.

 

É um paradoxo relacionado ao crescimento acelerado da economia. "Em termos absolutos, ser 'green' é consumir de maneira mais simples. Há uma tensão óbvia com o crescimento econômico", afirma o executivo. Não é a toa que países onde o poder aquisitivo da população é menor, como a Bolívia, tenham apresentado índices mais altos de atitudes sustentáveis. Além disso, para muitos brasileiros a solução de problemas sociais (pobreza, fome e educação) deve ser prioridade em relação às causas ambientais. O índice de consumidores identificados com esse perfil ("sociedade verde", na definição da pesquisa) é de 27% no Brasil, o maior na América Latina.

 

Mesmo assim, o avanço da preocupação com o ambiente é patente e o futuro aponta para mais atitudes concretas nessa direção. Em São Paulo e no Rio, 73% dos consumidores responderam "sim" quando perguntados se aceitariam pagar mais por produtos que cuidam do ambiente. Desses, 31% dizem já fazer isso. Outros 33% afirmam que seu orçamento não permite essa escolha e 9% argumentam que não encontram esse tipo de mercadoria no varejo que frequentam.

 

Diante disso, um dos caminhos que o estudo sugere às empresas é desenvolver versões "ecológicas" também em suas segundas marcas e não apenas nas "premium".

 

Além do preço na gôndola, outro ponto requer atenção dos fabricantes de bens de consumo: a eficiência de suas campanhas publicitárias. Boa parte dos consumidores não acredita na imagem sustentável propagandeada pelas empresas, tanto na América Latina (39%), quanto no Brasil (36%). Entre os latino-americanos de forma geral, 35% acham difícil acreditar por não verem o resultado final das ações divulgadas. Apenas 26% confiam nas mensagens transmitidas. "Com a internet e o aumento das fontes de informação, o consumidor está mais crítico", observa Cotos.

 

"Tem de haver consistência entre o que a empresa fala e a maneira como age." Isso significa adotar procedimentos sustentáveis em todas as etapas – desde a produção, passando pela relação com fornecedores, até a embalagem e a distribuição. A cobrança da opinião pública só tende a aumentar. "As empresas vão ser forçadas a ser sustentáveis, senão o consumidor não vai aceitar."

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Embalagens se dividem para crescer

Questões ambientais e consumidor solitário são novos focos do setor   Com o rótulo da...

Veja mais
Câmara adia votação para proibir sacolas

Os vereadores paulistanos não entraram em consenso para votar ontem um projeto que estabelecia prazo até 2...

Veja mais
Sacolinhas podem ser proibidas em São Paulo

Câmara Municipal deve apreciar projeto hoje; haverá prazo para comércio se adaptar   A C&acir...

Veja mais
Marketing sustentável, como aplicar?

Não é à toa que outdoors, folders, panfletos e carros de som têm se tornado instrumentos cada...

Veja mais
Plástico a partir de milho e alga cresce no País

A demanda por plásticos biodegradáveis, produzidos a partir de fontes renováveis como milho, cana, ...

Veja mais
Produtos ambientalmente responsáveis

Um mundo livre dos resíduos de bens produzidos e consumidos por bilhões de pessoas é, certamente, u...

Veja mais
Braskem sustentável

A petroquímica Braskem realiza entre amanhã e dia 28 a campanha GP de reciclagem. A iniciativa prevê...

Veja mais
Mercados vetam o uso de sacolas plásticas em Jundiaí

Sacos plásticos biodegradáveis, feitos de milho, passaram a ser vendidos a R$ 0,19 cada um; iniciativa dev...

Veja mais
Supermercado terá decoração natalina com garrafas PET

Doze lojas do Pão de Açúcar terão, no Natal deste ano, enfeites - flores, mandalas, anjos e ...

Veja mais