Cerveja e legislação impulsionam o segmento do vidro

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Após bom desempenho dos últimos anos, setor mostra otimismo e planeja investimentos

 

As embalagens de vidro, que outrora predominavam nas prateleiras das farmácias e das cozinhas e foram ofuscadas pelos vasilhames de plástico, estão retornando com brilho. Entre outras razões, pelo aumento do consumo de cerveja no país e também pela aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

 

Vice-campeã no segmento, perdendo apenas para a Owens Illinois Incorporation (O-I), a Verallia, dona de três fábricas instaladas no Brasil, fará aportes financeiros no mercado brasileiro da ordem de R$ 120 milhões no quinquênio 2011-2015. "O investimento será absorvido, basicamente, na modernização do parque e reforma de dois fornos", diz Paulo Dias, diretor comercial da empresa. Nos últimos três anos, a Verallia já havia injetado R$ 70 milhões nessas empresas. "O faturamento deste ano deverá fechar em alta ao redor de 9% sobre o do ano anterior, e esse índice deverá se repetir em 2011", prevê o diretor.

 

O expressivo resultado da receita, segundo ele, será puxado pelo incremento do setor cervejeiro - que responde por 32% do total de embalagens produzidas. Logo em seguida está a indústria de bebidas destiladas que absorve outros 30%, seguida de vinhos com 10%, sendo que os outros 17% estão divididos entre indústria farmacêutica, perfumaria e refrigerantes.

 

A temperatura favorável e o aumento de renda das classes C, D e E deverão contribuir para elevar o consumo de cerveja no Brasil este ano entre 10% e 12%, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Em 2009, o consumo nacional de cerveja cresceu 10,9%, contra 10,4% no ano anterior. Apesar desse incremento, o consumo brasileiro de cerveja está muito abaixo do de países com grandes vendas per capita da bebida, como é o caso da Alemanha. "Essa é a enorme oportunidade que a indústria de embalagem de vidro enxerga diante de seus concorrentes. O consumo de cerveja está aumentando, principalmente, na região Nordeste", emenda Lucien Belmonte, superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro).


 

"Acredito que o Brasil terá um ciclo de crescimento de muitos anos e a nossa capacidade para atender essa demanda estará em linha com as aquisições que estamos fazendo", garante Ricardo Leonel Vieira, diretor de vendas e marketing da Owens Illinois, referindo-se à última compra da empresa, em setembro. O grupo pernambucano Cornélio Brennand (GCB) vendeu suas operações na área de embalagens de vidro para bebidas, alimentos e fármacos, por US$ 603 milhões, para a O-I. Diante disso, a Companhia Industrial de Vidros (CIV) concentrará seu negócio no segmento de planos, utilizados na construção civil e indústria automobilística, com uma fábrica de R$ 330 milhões que começou a ser construída também no mês de setembro. Para a indústria americana, a compra, que envolve duas fábricas em Pernambuco e uma no Ceará, vai ampliar em 50% sua capacidade no país. "Neste ano as vendas crescem 21% sobre o ano anterior e a projeção para 2011 é de um incremento superior a 25%", diz Vieira. Segundo ele, os investimentos no país, em 2010, somam R$ 68 milhões. A receita, que no ano passado atingiu R$ 899 milhões, deverá ter um salto de aproximadamente 15% neste ano.

 

De acordo com o comunicado da O-I feito no exterior, o valor do negócio inclui benefícios fiscais estimados em US$ 140 milhões. "A CIV nos dá um grande fôlego para a capilaridade que precisamos em todos os pontos do Brasil", conclui Vieira. Pelos seus cálculos, neste ano a produção da companhia no Brasil fecha com incremento de 19% frente ao ano anterior.

 

Líder em utilidades domésticas, a Nadir Figueiredo, uma das companhias tradicionais do mercado brasileiro e fabricante do velho e conhecido copo americano, prevê investimentos de R$ 79,6 milhões na fábrica de Suzano (SP), para a construção de dois armazéns e um novo forno, o sexto em operação na empresa. "Por enquanto, estamos concentrados nos armazéns, que ficarão prontos entre março e abril. No segundo semestre, estaremos acelerando a expansão da fábrica", conta Mauro Frederico Marquezano, vice-presidente de vendas e marketing da companhia.

 

"Do volume total produzido pela companhia brasileira, entre 35% a 40% correspondem a embalagens", diz Marquezano. "E nossa embalagem tem uma característica diferente. Assim que o produto é consumido, transforma-se em um utensílio doméstico", lembra, referindo aos copos de requeijão. Além desse copo, a companhia também fabrica potes para conservas, pimentas, água mineral, entre outros. A Nadir produz 162 mil toneladas anuais de vidro nas duas fábricas do grupo, sendo que nos quatro fornos em operação na unidade da Vila Maria, zona norte de São Paulo, a capacidade de produção é de cerca de 400 toneladas de vidro ao dia. No único forno de Suzano, são 200 toneladas.

 

Além do aquecimento da economia, Dias, da Verallia, destaca um outro fator para o bom desempenho do setor: "Foi fundamental a aprovação da PNRS, que favorece o setor por se tratar de uma cadeia produtiva sustentável em todas as suas etapas."

 

O texto da lei, aprovado em agosto, estabelece entre outros pontos o conceito de ciclo de vida dos produtos, considerando desde o desenho até a produção, armazenamento, reciclagem e disposição final. Ainda de acordo com a PNRS, as embalagens devem facilitar a reutilização e a reciclagem, restringindo o volume e o peso. A responsabilidade compartilhada pós-consumo será dividida entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores. As empresas terão obrigação de estabelecer sistemas de retorno.

 

 

Veículo: Valor Econômico


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