Das quase 18 bilhões de latas de refrigerante e cerveja consumidas em 2010, a cadeia do alumínio reciclou 98,2%. Esse modelo de logística reversa vem sendo aperfeiçoado há mais de 20 anos, sem interferência do governo. Com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) o setor luta para preservar a organização conquistada. "O alumínio é inspiração para as outras cadeias", diz Victor Bicca, presidente do Compromisso Empresarial com a Reciclagem (Cempre). A PNRS determina que oito setores da economia adaptem-se para enfrentar os novos tempos de um Brasil sem lixões, a partir de 2014. Embora cada cadeia tenha de buscar sua própria logística, Bicca vê no alumínio um modelo de abrangência sustentável - pela valorização do resíduo, por ter estabelecido a responsabilidade compartilhada e pelo fortalecimento das cooperativas.
"Além de evitar a desarticulação de um modelo de resultados comprovados, queremos assegurar que os catadores tenham melhores condições de trabalho e maior participação na cadeia", diz Renault Castro, diretor da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas). Para preservar a cadeia de reciclagem, a Abralatas e a Associação Brasileira de Alumínio (Abal) apresentaram ao governo federal uma proposta de gestão de onde pode sair o acordo setorial como determina a PNRS.
O setor sugere que um comitê gestor faça a interface do sistema de reciclagem, que hoje é independente, com o governo. O grupo fará também o acompanhamento do acordo setorial, apresentará metas de reciclagem e as bases para o aperfeiçoamento do sistema.
A primeira lição do alumínio às outras cadeias é a valorização da coleta seletiva. O catador recebe entre R$ 2,50 e R$ 3 por quilo de latinhas. Só como comparação, o PET, a segunda maior cadeia de reciclagem, com 56% de retorno pós-consumo, remunera o catador com R$ 0,50 por quilo. "As outras cadeias precisam valorizar a matéria-prima antes que ela chegue ao lixão, cultivar a reciclagem a partir do consumidor final e estimular os catadores", diz Castro. "É necessário garantir mercado para todos os tipos de sucata; quando há mercado, há logística reversa."
Para Hênio de Nicola, especialista na indústria de reciclagem de alumínio, o setor não precisa de órgão regulador. Segundo ele, importante nas discussões com o governo é não perder o que foi conquistado.
Os 98,2% de reciclagem equivalem a 250 mil toneladas de alumínio ao ano, um mercado de R$ 4 bilhões anuais. Multiplicando cada tonelada por US$ 2.550 (preço determinado pela Bolsa de Metais de Londres), são US$ 600 milhões só na sucata de lata, calcula Nicola. Se a esses números forem somadas as sucatas de outros setores, como automobilístico, construção civil, fundição, a conta chega a US$ 2,5 bilhões.
O alto índice de reciclabilidade do alumínio resulta numa considerável economia de energia - o equivalente a 95% do volume que seria utilizado na produção do alumínio a partir da matéria-prima extraída da bauxita. A reciclagem das latinhas é responsável por uma economia de 1.800 GWh/ano, suficiente para abastecer uma cidade de um milhão de habitantes por um ano inteiro.
Cada quilo de alumínio reciclado deixa de emitir seis quilos de CO2. Essa política reversa fez com que o Brasil deixasse de emitir 1,2 milhão de tonelada de CO2 só no ano passado. Segundo a Abal, o volume reciclado em 2010 representa 12% a mais se comparado com 2009.
Veículo: Valor Econômico