Elas já ouviram falar que Belo Horizonte deu seus primeiros passos para ser ecologicamente correta. Souberam que supermercados e padarias mudaram rotinas e apostam na preocupação dos belo-horizontinos com o meio ambiente. Daqui a poucos dias, ao cruzar as portas do presídio de Vespasiano, na Grande BH, rumo à liberdade, depois de quase dois anos de detenção, Izabel Cristina Martins, de 38 anos, e Jacioni do Amaral, de 25, esperam encontrar a capital como uma capital da sacola biodegradável, título que faz parte da história que elas ajudaram a construir.
Desde abril, quando a lei municipal da sacolinha plástica entrou em vigor em Belo Horizonte, 15 mulheres do presídio de Vespasiano começaram a participar da produção das sacolas ecológicas, recebendo, em troca, três quartos do salário mínimo e remissão de pena, reduzindo um dia na sentença a cada três trabalhados. É no galpão da unidade prisional que elas se unem para trabalhar. Cada uma delas faz o acabamento de 1 mil sacolas por dia. Feitas de papel, as embalagens são para grandes lojas da capital, como a Livraria Leitura. Enquanto põem a mão na massa, afastando da mente ‘fantasmas’, como elas mesmo dizem, elas colocam o papo em dia e até cantam. “A nossa meta é produzir 2 mil sacolas por dia, a gente vai chegar lá. Sei que lá fora estão todos conscientes da importância das sacolas ecológicas. Quando sair daqui, aposto em ver uma cidade bem mais limpa”, comenta Izabel.
De acordo com dados da Associação Mineira de Supermercados, um mês depois da vigência da lei municipal, 13 milhões de sacolinhas deixaram de ser despejadas no ambiente, sete em cada 10 consumidores estão levando suas sacolas retornáveis às compras.
A iniciativa de produção das embalagens no presídio é fruto de parceria da unidade com a empresa Imballaggio, especializada na produção de sacolas ecológicas. “Desde 2007, fazemos acabamento manual de embalagem com os presos da Penitenciária José Maria Alckmin, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. Quando foi sancionada a lei das sacolas plásticas em BH, iniciamos o serviço no presídio de Vespasiano. Há seis meses, essas mulheres estavam paradas, sem fazer nada e com muita vontade de trabalhar”, conta a gerente de Recursos Humanos da Imballaggio, Letícia Rocha Baggio, dizendo que, com a alta demanda para o produto, elas estão correspondendo às expectativas, escoando a produção.
A seleção para a mão de obra feminina foi feita pela Comissão técnica de classificação da unidade prisional. Foram levados em consideração o comportamento e habilidade das internas. Antes de começar a trabalhar, elas passaram por um período de treinamento e capacitação, oferecidos pela própria empresa, pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e pela Secretaria de Estado de Educação.
EMPREGO A esperança das mulheres é que, ao sair dali, encontrem na empresa um emprego. Segundo Letícia Rocha Baggio, esse sonho pode se tornar realidade. “Quem estiver determinada a isso, as portas estão abertas”, afirma. É o que espera Izabel, que em julho deixa o presídio, depois de um ano e seis meses de detenção. “Sou cabeleireira, mas aqui aprendi um novo serviço. Isso me animou a buscar novos caminhos”, diz, entusiasmada. “Eles nos deram a oportunidade de mostrar à sociedade que não somos um bicho de sete cabeças”.
O ócio, segundo destaca o diretor de Atendimento e Ressocialização da unidade, Edson Caldeira, é o grande inimigo do sistema prisional. “Empresas que fazem esse tipo de parceria dão oportunidade de reintegração na sociedade e melhoram a autoestima das pessoas que participam.”
Veículo: O Estado de Minas