As empresas que acharam dinheiro no lixo

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Negócios de reciclagem passam a despertar interesse de investidores e de grandes companhias

 

O empresário catarinense Rodrigo Sabatini presta consultoria para grandes empresas. Ao visitar um cliente pela primeira vez, costuma fazer um pedido inusitado: "Você pode me mostrar sua lixeira?" E, sem acanhamentos, começa a bisbilhotar o lixo alheio. Ali está o seu negócio.

 

A Novociclo, fundada por Sabatini em 2009, ajuda corporações e condomínios residenciais a destinar corretamente tudo o que puder ser reciclado. "Não incinero, não empacoto, não trato... o que eu faço é ajudar as pessoas e as empresas a não gerarem lixo." Por isso, quando fecha contrato com uma companhia, a primeira providência que toma é acabar com toda e qualquer lixeira do escritório. Depois, educa os funcionários e desenvolve equipamentos, parecidos com armários, para todo o "resíduo" seja organizado antes de ir para a reciclagem.

 

Com clientes de peso na região Sul, como a rede de supermercados Angeloni, uma das seis maiores do País, a Novociclo faturou no ano passado R$ 1,5 milhão e já atraiu investidores: com menos de um ano de vida recebeu aporte de um fundo carioca de venture capital. A empresa de Sabatini, com foco em sustentabilidade, integra um novo modelo negócio que tem despertado o interesse de investidores e grandes companhias.

 

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regulamentada em dezembro de 2010 (e que, entre outras coisas, dá um prazo para o fim dos lixões) deu força à criação de um mercado em que o lixo passou a ser visto, de fato, como uma fonte de receita. "O marco regulatório deu um impulso a esse segmento, que até então estava meio paralisado", diz Ricardo Zibas, gerente de sustentabilidade da consultoria KPMG. "Aos poucos, esses negócios se mostram interessantes para investidores que buscam retorno no longo prazo."

 

Em São Paulo, a Unnafibras, empresa que produz fibra de poliéster com garrafa pet, começou a usar material reciclável como matéria-prima na década de 90 para reduzir os custos de produção. "Na época era pejorativo dizer aos clientes que usávamos material reciclável", lembra José Trevisan Júnior, presidente da empresa. "Não pegava bem."

 

Agora, a Unnafibras estampa a informação em todo lugar. Na carteira de clientes, há empresas que fecham negócio só por causa das iniciativas sustentáveis. As fibras são usadas na produção de tecidos para cama e mesa e na fabricação de materiais usados no revestimento interno de automóveis. Com elas, também são produzidos materiais para o preenchimento de travesseiros e bichos de pelúcia.

 

Com faturamento de R$ 148 milhões e três unidades fabris no País, a Unnafibras recebeu em 2010 aporte do fundo de private equity da gestora de investimentos Stratus. Com o dinheiro e com o otimismo que se criou em torno dos negócios sustentáveis, a empresa vai inaugurar em setembro uma nova fábrica. "Fazemos parte de uma tendência", diz Trevisan. "Sustentabilidade virou uma palavra mágica."

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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