A onda verde avança nos processos industriais e novos produtos que utilizam plástico à base de etanol em sua composição estão chegando ao mercado a partir deste mês. Os lançamentos, que incluem lápis e estojos escolares, cabos elétricos e borracha sintética utilizada pela indústria automobilística, deixam claro que o uso da resina ecológica já não se restringe às embalagens e sacolinhas. Por outro lado, as empresas sinalizam que pretendem fazer a substituição parcial ou total de insumos derivados do petróleo.
Nos três casos, o fornecedor é a Braskem, cuja fábrica de Triunfo (RS) é a primeira no mundo a utilizar etanol de cana-de-açúcar para produção em escala comercial do etileno, do qual se fabrica o plástico verde. O seu grande apelo é ambiental, já que, ao contrário de seu equivalente derivado do petróleo, retém carbono na cadeia produtiva da cana, contribuindo para a redução de emissão de poluentes.
Do ponto de vista econômico, porém, apresenta um custo maior que o material convencional. As empresas não falam abertamente sobre isso por força de contrato de confidencialidade com a Braskem. A avaliação, contudo, é de que vale o investimento. A Prysmian diz que irá absorver o impacto no custo da sua nova linha de cabos elétricos Afumex Green. "O produto terá o mesmo preço do convencional. Acreditamos que o ganho em escala e market share vai compensar a diferença", afirma Humberto Paiva, diretor de vendas.
Resultado de um investimento de R$ 5 milhões, aplicado durante 12 meses em certificações, adequação do produto e industriais, o Afumex Green será destinado inicialmente para instalações prediais. Em 2012 a oferta se estenderá aos mercados de distribuição e transmissão de energia elétrica, parques eólicos, aplicações industriais e construção civil.
A nova linha substituiu parte do polímero derivado do petróleo por polietileno verde na composição do cabo elétrico e está sendo fabricada em Sorocaba (SP). Segundo Paiva, em dois anos e meio, a expectativa é dobrar o faturamento de R$ 80 milhões obtido com a linha convencional, que será desativada. Se a meta for atingida, as vendas do Afumex Green corresponderão a 16% dos negócios da companhia na área de energia, que hoje gira em torno de R$ 1 bilhão por ano.
A Faber-Castell lançou o Eco Estojo, que tem tudo para ser um dos líderes de venda da companhia na volta às aulas em 2012, acredita Jairo Cantarelli, gerente da divisão madeira. O executivo, que não revela o investimento no projeto, volume de produção e projeções de negócios, aposta na tendência de crescimento do consumo ecoeficiente para expandir a oferta. "Esperamos uma resposta positiva ao produto", diz.
O Eco Estojo é uma evolução de iniciativas anteriores na área de sustentabilidade, que começou com o lançamento do Ecolápis - produzido com madeira de reflorestamento e avançou com uma linha de estojos de cartolina. O novo produto tem foco na área escolar, que é o principal mercado da companhia, mas não está descartada a oferta também para escritórios.
A alemã Lanxess está investindo € 2 milhões na adequação de uma fábrica em Triunfo, que se dedicará à produção de borracha sintética biológica, o EPDM (monômero e etileno-propileno-dieno) verde, que utiliza plástico derivado da cana-de-açúcar. Os primeiros lotes do produto final, denominado Keltan Eco, chegam ao mercado em novembro.
Trata-se da primeira produção do gênero em nível mundial. A matéria-prima será fornecida através de um duto que interliga a fábrica da empresa à da vizinha Braskem. "É uma vantagem logística enorme. Vamos produzir algumas centenas de toneladas", comenta Marcelo Lacerda, presidente da companhia, acrescentando que a capacidade da unidade poderá chegar a 10 mil toneladas por ano.
Além do setor automotivo, o EPDM é utilizado na indústria de fios e cabos, construção, modificações de plástico e aditivos de óleos. Segundo Lacerda, a substituição total do EDPM derivado do petróleo, cuja produção gira em torno de 40 mil toneladas por ano, dependerá da demanda do mercado.
A empresa também investe € 20 milhões em uma nova unidade em Porto Feliz (SP), para fabricação de plástico de engenharia, que substitui componentes metálicos nos veículos. O mote, neste caso, não é o uso de material de fonte renovável, para a redução de emissão de poluentes. Os veículos ficam mais leves e, portanto, consomem menos combustível. A fábrica entrará em operação no final de 2012.
Veículo: Valor Econômico