Reaproveitamento de sucatas no Brasil agora é disputado por grandes empresas.
O agravamento da crise sobre a indústria do alumínio elevou a importância econômica da reciclagem para o setor. Antes tratado somente como uma questão socioambiental, o reaproveitamento de sucatas agora é disputado por grandes empresas.
A estimativa do setor é que a produção nacional de alumínio primário (obtido pela extração mineral) vai encerrar o ano com queda de 5% em relação a 2010. Já a participação da reciclagem no suprimento industrial deve crescer acima de 34%.
"A reciclagem é um elemento importante do suprimento interno e seu futuro vai depender da economia e da redução das importações de bens prontos", disse o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Adjarma Azevedo.
No ano passado, as importações de alumínio semiacabado ou acabado vindas de países asiáticos, principalmente da China, cresceram 96%, para 139,9 mil toneladas, reduzindo a competitividade local, segundo a Abal.
Associado a isso, estão os elevados custos de produção no país. Segundo Azevedo, o custo para produção de uma tonelada do metal atinge US$ 2.100. Na comercialização, o valor sobe para US$ 2.200. "Não remunera."
Por outro lado, só a reciclagem de latas de alumínio em 2010 cresceu 20,3% ante 2009, totalizando 239,1 mil toneladas, ou 97,6% do fabricado, segundo balanço divulgado na semana passada em parceria com a Abralatas (reúne os fabricantes de latas).
Com o resultado, o Brasil alcançou, pela décima vez, o posto de país que mais recicla latas de alumínio. O país, segundo o balanço, está à frente de regiões desenvolvidas como a Europa e a América do Norte.
Segundo o diretor-executivo da Abralatas, Renault Castro, a capacidade da indústria de latas deve crescer 50% com os investimentos previstos, de US$ 765 milhões. "Vamos produzir 25 bilhões de latas por ano."
Crise - Por causa da crise, segundo Azevedo, empresas fecharam as portas e nenhuma nova fábrica de alumínio primário foi instalada no país nos últimos 20 anos. Entre os que restaram, estão produtores como Alcoa e Votorantim.
" uma situação preocupante porque você não tem o crescimento da produção primária; pelo contrário, tem a ameaça da sua decadência e as importações chinesas, que estão capturando o mercado brasileiro", disse.
Para Reinaldo Rodrigues dos Santos, diretor comercial de uma fornecedora de alumínio, a importação de alumínio pode reduzir a reciclagem no Brasil. "A cadeia funciona com o mercado interno. Se entra produto de fora, desestabiliza tudo entre a gente", disse Santos. A reciclagem das latas de alumínio movimentou R$ 1,8 bilhão no ano passado, segundo balanço da Abal e da Abralatas. Somente na etapa da coleta, foram injetados R$ 555 milhões na economia, o equivalente à renda salarial para 251 mil pessoas.
Segundo o coordenador de reciclagem da Abal, Henio de Nicola, considerando todos os tipos de recicláveis, o país tem mais de 1 milhão de catadores com renda.
Para ele, as diferenças econômicas do Brasil que impulsionam a população de baixa renda a coletar latinhas não é motivo de orgulho. "Agora, a atividade de coletor é igual a qualquer outra."
Para ele, os números do setor demonstram o amadurecimento da reciclagem no Brasil. "A indústria está madura e há um esforço contínuo no sentido de educar a população para a reciclagem do alumínio", disse.
O preço da lata coletada varia de R$ 2 a R$ 2,50 por quilo. O valor é baseado na cotação do alumínio na Bolsa de Metais de Londres.
No depósito de sucata do ex-catador Edson Galdino Silva, 49, são 300 quilos de lata de alumínio por semana. "Está aumentando a quantidade de latinhas, mas ao mesmo tempo está tendo muita concorrência."
Ele diz que começou com o trabalho há 12 anos e nunca passou necessidade. "Dá para tirar o sustento, só não dá para ficar rico."
Na Novelis, uma das maiores empresas de laminação de alumínio instalada em Pindamonhangaba (156 km de São Paulo), a produção a partir da reciclagem vai colaborar na meta de 600 mil toneladas para 2012. "Vamos aumentar a produção em 50% com novas unidades e a reciclagem é fundamental para a nossa produção", disse o gerente da fábrica, Angelo Argueles.
Presente em 11 países, a Novelis espera elevar o uso de latas de alumínio no processo de produção para 50% em 2015. Já em 2020, a meta é atingir 80%. "Atualmente, nosso percentual de lata é de 37%. Usamos retalhos de outras empresas para chegar a 52% de reciclagem, mas vamos atingir a meta." (FP)
Veículo: Diário do Comércio - MG