Ecobags, caixas de papelão, mochilas, carrinhos de feira... Em pleno feriadão do aniversário de São Paulo, os paulistanos que fizeram compras no primeiro dia do acordo pelo fim da distribuição de sacolinhas plásticas, firmado entre a Associação Paulista de Supermercados (Apas), a Prefeitura de São Paulo e o governo estadual, se viraram bem. Mesmo assim, apesar do impacto que deve causar nos hábitos dos clientes, supermercadistas estimam que a dificuldade de adaptação será só nos primeiros 15 dias.
O Grupo Pão de Açúcar, que aderiu ao acordo "Vamos tirar o planeta do sufoco" da Apas, em dezembro, vem oferecendo, desde 2 de maio do ano passado, opções de embalagens reutilizáveis junto com a eliminação da distribuição gratuita de sacolinhas plásticas nas lojas "verdes" Vila Clementino e Indaiatuba, da bandeira Pão de Açúcar, a pioneira do grupo em ações sustentáveis desde 2005. Hoje, todas as suas bandeiras oferecem as opções. Só em 2010, foram comercializadas 2,2 milhões de unidades.
A despeito do apelo ambientalista, a medida divide opiniões dos clientes. Se alguns batem na tecla do discurso sobre impactos ambientais, outros argumentam a favor da praticidade, ou sobre o fato de a questão ser ínfima diante do problema ambiental causado por falta de ações sustentáveis efetivas.
A professora Angelita José Henrique, por exemplo, que fazia compras com a filha Anne no Pão de Açúcar da Vila Clementino, contou ser adepta da bolsa reutilizável há algum tempo. Ela, que ontem levou as compras em caixas cedidas pela loja, admitiu ter usado as velhas sacolinhas.
"Mas vi que seria possível resolver de outro jeito, evitando a utilização do plástico para gerar menos lixo", disse ela que, ao contrário da maioria dos consumidores, se mostrou a favor da venda das sacolinhas biodegradáveis. "O preço é irrisório. Não vejo problema em comprar."
O supermercado Futurama, na região de Santa Cecília/Higienópolis, vem alertando os clientes sobre a mudança há cerca de 15 dias, disse o gerente comercial Edson Bachmann. Mesmo assim, alguns foram pegos de surpresa, como a assistente jurídica Neide Dutra. E não foi por falta de informação: natural de Rondônia, Neide acaba de chegar à cidade para acompanhar os filhos, que vão estudar na Capital paulista.
Mas isso não tirou seu bom humor: segundo ela, que mandou o filho Alexandre buscar o carrinho de feira em casa, tudo o que é feito em prol do meio ambiente é válido. "É só uma questão de se adaptar. Mas especificamente hoje, sorte que a nossa casa é perto!", brincou ela, que diz "não ver a hora" de seu estado adotar medida semelhante.
Por outro lado, o analista de sistemas Luciano Fávero, é um entusiasta da praticidade das antigas sacolinhas. "Vi que não há locais preparados para o descarte das sacolas biodegradáveis", disse Fávero. Por isso, ele considera que o impacto da medida será mínimo e apostaria em outras opções, como os antigos sacos de papel. "Não é toda vez que vou ao mercado comprar, apenas pesquiso preços. Mas agora sempre que eu vier, terei que trazer sacola", se conformou.
Na opinião de Bachmann, do Futurama, o primeiro impacto já era esperado pelos supermercadistas. Porém, segundo ele, dá para perceber que os clientes estão se tornando mais conscientes, vêm comprando sacolas reutilizáveis, usam outras alternativas e, com isso, deixam para trás "mordomias", como usar uma sacola por produto.
"Os supermercados não querem nada para eles (referindo-se à economia que deve ser gerada com o fim da distribuição gratuita das sacolas), apenas investir em preços atraentes e melhorias. Afinal, todo o benefício feito para o supermercado é revertido para o cliente", destaca.
STF dará a palavra final sobre lei antissacolas
O acordo firmado entre a Associação Paulista de Supermercados (Apas), a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado, não será o último ato da polêmica sobre as sacolas plásticas, pelo menos na Capital paulista. A partir de agora, os defensores e os contrários às sacolinhas voltam suas atenções para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que em breve devem analisar a validade da lei municipal 15.374/2011 – que trata justamente do fim da sacola plástica no comércio da Capital.
A lei municipal foi aprovada em maio de 2011 e, em linhas gerais, proíbe a distribuição das sacolas plásticas em todo o comércio. Pelo cronograma da Prefeitura, a lei passaria a valer a partir do último dia 1 de janeiro. Mas, ação indireta de inconstitucionalidade movida pelo Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast) suspendeu os efeitos da lei até o julgamento em Brasília.
Para a Justiça de São Paulo, tanto na primeira quanto na segunda instâncias, a lei é inconstitucional. Na decisão proferida em novembro do ano passado, o desembargador do TJ, Luiz Pantaleão, afirmou que a lei é ineficaz e contraria o direito do consumidor de levar os produtos comprados no comércio.
A Prefeitura recorreu da decisão e levou o caso ao STF e, agora, aguarda uma posição dos ministros do Supremo.
Acordo – Enquanto aguarda o fim do imbróglio, o fato é que não há lei que impeça a distribuição da sacolinha em São Paulo. O que vale é um acordo entre o governo do estado, a Prefeitura e os supermercados ligados à Apas (caso do Pão de Açúcar, Walmart, Carrefou e outros) contra a sacolinha e o incentivo pelas sacolinhas de algodão (reutilizáveis) e as biodegradáveis vendidas ao preço de R$ 0,19. Por outro lado, farmácias, feiras livres e outros negócios do varejo não ligados à Apas poderão distribuir as sacolas plásticas sem qualquer risco de multa ou punição.
Defensores do meio ambiente comemoram o acordo, como é o caso de Fábio Feldmann, ex-vereador responsável pela implantação do Rodízio Municipal de Veículos na cidade. Segundo ele, o acordo deve levar a uma mudança na postura de estabelecimentos comerciais de São Paulo, especialmente aqueles que não estão obrigados a distribuir as sacolas. "Eu acho que é um bom acordo e faz parte de uma tendência mundial. Alguns integrantes do setor empresarial podem se sentir prejudicados, mas até na maneira deles (comerciantes e fabricantes das sacolas) argumentarem vejo equívocos. O consumidor, que é o grande interessado, não criticou a mudança", disse.
Já para o diretor do Instituto Nacional do Plástico, Paulo Dacolina, o fim da sacola plástica não é sinônimo de melhora ambiental e implica em prejuízo para as indústrias que fabricam as sacolas. Ainda segundo ele, existem 32 cidades que criaram lei que proíbe a sacola, mas apenas 10 foram consideradas legais pela Justiça (entre elas, Jundiaí).
Dacolina afirma que, enquanto a entidade aguarda a decisão do Supremo, ela dá continuidade às campanhas educativas em favor do uso consciente da sacola plástica. "Todos temos a mesma finalidade. Temos que reduzir o consumo, isso sim."
Veículo: Diário do Comércio - SP