Redes devem oferecer caixas de papelão, sacolas retornáveis e biodegradáveis; governo federal vai lançar campanha em fevereiro
Na quarta-feira, pelo menos 80% dos supermercados do Estado de São Paulo deixarão de fornecer sacolas plásticas para seus clientes. Caixas de papelão e sacolas retornáveis são as opções mais comuns oferecidas pelas redes. Quem quiser, também poderá adquirir sacolas biodegradáveis por cerca de R$ 0,20.
A iniciativa de tirar as sacolas dos caixas é fruto de um acordo entre a Associação Paulista dos Supermercados (Apas) e o governo do Estado de São Paulo. Preferiu-se este caminho à adoção de uma lei. "Optamos pelo diálogo com o setor", afirma o secretário do Meio Ambiente, Bruno Covas. "O acordo é voluntário por parte das redes."
Ele recorda que algumas cidades, como Jundiaí, chegaram a aprovar legislações para proibir as sacolas, mas foram julgadas inconstitucionais. No caso de Jundiaí, a prefeitura assinou depois um acordo com os supermercados locais e obteve o resultado que não alcançara com a lei.
Para ambientalistas e gestores públicos, a medida tem um importante valor simbólico. Apesar de as sacolas só representarem uma pequena parcela do volume total de lixo descartado, têm o mérito de trazer para o cotidiano das pessoas a preocupação com a sustentabilidade, aponta Fernanda Daltro, gerente de consumo sustentável do Ministério do Meio Ambiente. "As pessoas aprenderão a separar o lixo seco do úmido, que é o que realmente precisa da sacola plástica para não fazer sujeira."
O governo federal pretende lançar em fevereiro, em conjunto com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), uma campanha inspirada na experiência de São Paulo, na esperança de que outros Estados sigam o exemplo. Será a segunda fase da campanha "Saco é um saco", criada em 2009 pela pasta.
Covas e Fernanda concordam que o banimento total, baseado na autoridade do Estado, não constitui uma solução, mas uma complicação. "A ideia não é banir o plástico", afirma Covas. "Mas diminuir o impacto ambiental sem atrapalhar a vida do cidadão." O presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, recorda que o problema central não é o plástico, mas sim a descartabilidade das sacolas. Fernanda concorda: "O plástico é um material nobre: leve, barato, durável, higiênico. Deveria ser usado só para produtos não descartáveis".
A coordenadora da área de resíduos sólidos do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg, considera a restrição às sacolas apenas o primeiro passo. "Elas representam um pequeno porcentual das embalagens de plástico", afirma Elisabeth. "Precisaríamos avançar a discussão para diminuir a utilização das demais embalagens."
Outro lado. "Essa lei foi aprovada por interesse econômico (dos supermercados) e não ambiental ou social", critica Miguel Bahiense, presidente da Plastivida, entidade que representa institucionalmente o setor dos plásticos. Ele estima em R$ 500 milhões a economia das redes com a restrição. "Vão repassar essa economia para os clientes? Duvido."
Ligia Korkes, gerente de Sustentabilidade do Grupo Pão de Açúcar - dono da rede homônima e do Extra -, afirma que o dinheiro obtido com a economia das sacolas plásticas e com a venda das sacolas retornáveis será revertido para ações de sustentabilidade do grupo.
"Uma pesquisa que encomendamos mostrou que 96% da população utiliza as sacolas plásticas para acondicionar o lixo", diz Bahiense, que prevê que famílias mais pobres não comprarão sacos de lixo. "Cada rolo com dez unidades custa R$ 19. Vão descartar de qualquer jeito."
O presidente da Apas, João Galassi, discorda e cita como exemplo cidades onde o acordo já está em vigor: além de Jundiaí, Monte Mor, Americana, Marília e Descalvado, em São Paulo. Fora do Estado, há também Belo Horizonte. "As pessoas se adaptam: utilizam sacolas plásticas de outros estabelecimentos, como farmácias e padarias (que não deixarão de utilizar as sacolinhas), ou recorrem a embalagens de produtos em que o plástico é parte integrante, como o saco que envolve as verduras."
A primeira experiência de restringir o uso de sacolas plásticas no País ocorreu em uma loja do Carrefour, em Piracicaba. As vendas não se ressentiram, garante Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da empresa. "Uma pesquisa mostrou que 90% dos clientes aprovaram a mudança."
Veículo: O Estado de S.Paulo