No dia 25 de janeiro, os supermercados paulistanos deixam de fornecer sacolinhas descartáveis de plástico aos consumidores. É uma dessas tendências que se concretizam e contra as quais não há muito o que fazer. Existe, em todo o mundo civilizado, um movimento – às vezes silencioso, às vezes ruidoso – contra a cultura dos descartáveis que se alastrou no decorrer da segunda metade do século 20. Um dos ícones dessa cultura é exatamente a sacolinha que os supermercados fornecem no fim das compras, na passagem pelo caixa. O fato consumado, portanto, é que essa onda chega à capital paulista bem no dia em que a cidade completa 458 anos.
Da parte dos ambientalistas houve uma competente manobra, envolvendo a entidade representativa dos supermercados. A partir do exemplo da cidade de Jundiaí, onde há anos os supermercados não fornecem as sacolinhas, ganhou força o argumento de que é possível tocar a vida adiante sem esse apetrecho. É possível e, ressaltam os ambientalistas, é necessário, pois são nada menos que 500 mil toneladas de sacolinhas plásticas descartáveis que estão sendo jogadas na natureza, todo ano. De quanto tempo a natureza precisa para absorver esse material? Mais de quatro séculos, respondem os ambientalistas, com base em pesquisas científicas respeitáveis.
Da parte da indústria do plástico, esboçou-se nos últimos meses uma reação calcada em dados que merecem atenção. Sustenta-se que 30 mil trabalhadores poderão perder o emprego. Ressalta-se que as sacolas biodegradáveis ou reutilizáveis, para substituir as sacolinhas descartáveis, são importadas, ou feitas com material importado. Registra-se que as milhares de toneladas anuais de sacolinhas plásticas representam menos de 2% de todo o resíduo sólido despejado na natureza; não se justificaria, em consequência, todo o transtorno que virá com o fim dessa simpática e útil embalagem que há décadas e décadas faz da vida dos brasileiros.
Haverá, por certo, outros argumentos em defesa das sacolinhas. Mas a verdade é que, quando começaram a circular, já existia a evolução firme, acelerada, consistente de uma decisão que tomou forma de fato consumado sem que seus adversários pudessem evitar. Há três partes diretamente envolvidas nessa questão. Duas delas (os consumidores e os supermercados) concordam com o fim das sacolinhas. Só a terceira parte (a indústria do plástico) não concorda.
A essa altura, vai prevalecer o maior dos argumentos dos ambientalistas: entre as várias alternativas existentes para o consumidor levar suas compras para casa (desde os tradicionais carrinhos e sacolas de feira até as recentes sacolas biodegradáveis e reutilizáveis) será eliminada a mais agressiva (as sacolinhas descartáveis). É isso aí.
Veículo: Diário de S.Paulo