Sacolinhas plásticas: entre o bem e o mal

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A partir de quarta, elas começam a ser banidas, mas quem realmente ganha com a medida?


Enquanto os consumidores estão sendo bombardeados por campanhas favoráveis ao meio ambiente, a indústria de sacolas plásticas e os supermercadistas apresentam argumentos um tanto quanto ortodoxos sobre o uso de sacolinhas plásticas descartáveis.

O fato é que a partir da quarta-feira elas serão banidas dos supermercados paulistas e substituídas por sacolas retornáveis feitas com matéria-prima de fonte renovável ou pelas biodegradáveis vendidas a R$ 0,19. A mudança faz parte de um acordo assinado  entre o governo do Estado e a Apas (Associação Paulista de Supermercados), que lançou a campanha “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco”.

A Abief (Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis) é contra a iniciativa. “Essa campanha é um engodo para o consumidor”, afirmou o presidente da associação, Alfredo Schmitt. Segundo ele, o setor vai perder 30 mil postos de trabalho em todo o país com a substituição das sacolinhas descartáveis, seis mil só no estado de São Paulo. Além disso, as sacolas reutilizáveis são importadas, reduzindo as oportunidades da indústria nacional.

O presidente da Apas, João Galassi, contesta o argumento e diz que muitas indústrias estão se adaptando e produzindo sacolas reutilizáveis. “Algumas empresas já mudaram o pensamento, pois sabem que o reutilizável veio para ficar”, afirmou.

A empresária Gisele Barbin, da Extrusa-Pack, disse que teve de reduzir a produção de sacolas descartáveis para começar a fabricar as retornáveis de polietileno e a “verde”, feita com etanol da cana-de-açúcar. “Eu me adaptei à necessidade do mercado. Não tive prejuízo porque substitui a minha produção, mas acredito que, se outras indústrias não se adaptarem, vai haver desemprego, pois o consumo das descartáveis vai cair bastante.”

O empresário Márcio Faralhe, da Percon Embalagens, aumentou a produção de sacola reutilizável em 400% nos últimos dois anos. “Antes, eu fazia 20 mil sacolas por mês. Hoje, faço cinco mil por dia”, afirmou Márcio, que fornece mercadorias para as principais redes do país.

O professor Roberto Nascimento, do Núcleo de Estudos de Varejo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), disse que, na polêmica entre os interesses do varejo e da indústria, o consumidor foi deixado de lado. “Nós somos a favor da preservação do ambiente, mas poderiam pensar em campanhas que beneficiassem o cliente.”


Usina

Em Jundiaí, onde as sacolinhas plásticas já foram banidas, os consumidores usam as reutilizáveis ou as biodegradáveis, que deveriam ir para usina de compostagem, mas, como não há essa opção, acabam indo para o lixão.

Fabricantes adotam tecidos retornáveis e produzem ecobags. Supermercados ainda não são unânimes

Elas vão entrar de vez na vida cotidiana a partir desta semana, mas as ecobags ainda não são unanimidade entre os consumidores. Melhor vistas do que as biodegradáveis, as sacolas retornáveis parecem começar a atrair olhares, resultado de um trabalho que não vem de agora, como lembra Ana  Regina Minutti Gava,  dona da Gava’s Confecção.

Há três anos sua empresa criou uma nova linha de produção, para fazer ecobags a partir de lona crua reciclada. Ofereceu o produto a todos supermercados da cidade. Adesão zero. O sucesso delas só veio com pedidos da iniciativa privada. Neste final de ano mesmo a Gava’s atendeu pedidos de empresas que ofereceram as ecobags como brindes aos funcionários. Por conta disso, hoje a confecção trabalha apenas com pedidos sob encomenda.

“Ainda há resistência. Enquanto os supermercados ainda usarem qualquer tipo de sacola plástica, a ecobag não vai se estabelecer. ”, acredita. Novo mercadoO empresário Ricardo José Bertoni Neto apostou há um ano e meio na Pano Vivo, empresa de ecobags feitas com tecido de algodão, que ele já fabricava em outra empresa. Bertoni Neto diz que apesar de algumas cidades já terem percebido antes a mudança que viria, a maior parte do estado ainda não abraçou a ideia.

“Atendemos sempre o segmento promocional, que já tinha visto nas ecobags oportunidade de divulgação, mas só agora a procura para substituições (das de plástico) está acontecendo”, diz. Tanto que só neste mês sua produção cresceu 50% em relação a dezembro. Quando antes se fabricava 5 mil unidades/mês na Pano Vivo, hoje são entre 40 e 50 ml. “Mas as grandes redes ainda estão meio paradas, só agora percebendo que devem fazer a substituição. Resistiram até onde puderam”, diz.

A favor


DIREITO ÀS SACOLINHAS - OS SUPERMERCADISTAS DE TODO O PAÍS GASTAM POR ANO R$ 500 MILHÕES COM A COMPRA DAS SACOLINHAS DESCARTÁVEIS. ESSE CUSTO ESTÁ EMBUTIDO NO PREÇO DOS PRODUTOS E, PORTANTO, OS CONSUMIDORES TÊM DIREITO ÀS SACOLINHAS.

PREJUÍZO AO CONSUMIDOR - SEM A DISTRIBUIÇÃO DAS SACOLINHAS, OS CONSUMIDORES SERÃO OBRIGADOS A PAGAR DE R$ 0,19 A R$ 0,25 POR SACOLINHA BIODEGRADÁVEL E  TERÃO DE COMPRAR SACO DE LIXO, POIS NÃO VÃO MAIS USAR AS DESCARTÁVEIS.

SACOLA PLÁSTICA POLUI? - A SACOLA PLÁSTICA REPRESENTA 0,2% DO RESÍDUO SÓLIDO URBANO COLETADO NO PAÍS. ESSE PERCENTUAL NÃO PODE SER CONSIDERADO UM AGENTE POLUIDOR.

A SACOLA REUTILIZÁVEL É UMA ALTERNATIVA? - TAMBÉM NÃO. AS SACOLAS NÃO SÃO PRODUZIDAS NO BRASIL E SÃO IMPORTADAS DO VIETNÃ, CHINA E TAIWAN, ONDE A MÃO DE OBRA É DE BAIXO CUSTO PARA AS EMPRESAS.

QUAIS AS VANTAGENS DA SUBSTITUIÇÃO DAS SACOLAS? - NENHUMA. A INDÚSTRIA DE PLÁSTICO FLEXÍVEL VAI PERDER 30 MIL POSTOS DE TRABALHO EM TODO O PAÍS, 6 MIL SÓ NO ESTADO DE SÃO PAULO.

SACOLA BIODEGRADÁVEL É A SOLUÇÃO? - NÃO. POR TRÊS MOTIVOS: PRIMEIRO PORQUE A MATÉRIA-PRIMA PARA PRODUZIR A BIODEGRADÁVEL É IMPORTADA E O QUE CHEGA AO BRASIL NÃO É SUFICIENTE PARA ATENDER À DEMANDA DE SACOLINHAS. SEGUNDO PORQUE A SACOLA BIODEGRADÁVEL SÓ SE DECOMPÕE EM USINAS DE COMPOSTAGEM, QUE NÃO EXISTEM NO BRASIL. TERCEIRO PORQUE O MATERIAL UTILIZADO NÃO PODE SER RECICLADO.


Contra

DIREITO ÀS SACOLINHAS - O CONSUMIDOR TEM E SEMPRE TERÁ ALTERNATIVAS, COMO OPTAR POR SACOLAS BIODEGRADÁVEIS OU REUTILIZÁVEIS. O QUE OS SUPERMERCADOS ESTÃO FAZENDO É SUPRIMIR UMA ALTERNATIVA AGRESSIVA AO MEIO AMBIENTE

PREJUÍZO AO CONSUMIDOR - REPASSAR AO CONSUMIDOR O CUSTO DA SACOLA É UMA FORMA DE DESESTIMULAR O CONSUMO DESNECESSÁRIO. A APAS ESTIMULA QUE O CONSUMIDOR VÁ ÀS COMPRAS MUNIDO DE SUA SACOLA REUTILIZÁVEL, SEJA DE PANO, LONA, PALHA, TNT, PLÁSTICO OU DE OUTRO MATERIAL RECICLÁVEL.

SACOLA PLÁSTICA POLUI? - O PAÍS PRODUZ ANUALMENTE 500 MIL TONELADAS DE SACOLAS PLÁSTICAS DESCARTÁVEIS. CALCULA-SE QUE CERCA DE 90% DESSE MATERIAL, COM DEGRADAÇÃO INDEFINIDA, ACABE SERVINDO DE LIXEIRA OU VIRE LIXO. ESSE MATERIAL OCUPA ESPAÇO VALIOSO NOS ATERROS SANITÁRIOS.

A SACOLA REUTILIZÁVEL É UMA ALTERNATIVA? - INICIALMENTE, AS SACOLAS FORAM IMPORTADAS, MAS EMPRESAS E ONGS JÁ COMEÇAM A PRODUZIR AS SACOLAS REUTILIZÁVEIS.

QUAIS AS VANTAGENS DA SUBSTITUIÇÃO DAS SACOLAS? - A INDÚSTRIA NACIONAL ESTÁ SE ADAPTANDO À NECESSIDADE DO MERCADO E JÁ COMEÇA A PRODUZIR SACOLAS DE FONTES RENOVÁVEIS, COMO PET, TNT E TECIDO.

SACOLA BIODEGRADÁVEL É A SOLUÇÃO? - O OBJETIVO DAS INICIATIVAS APOIADAS PELO SETOR SUPERMERCADISTA E OUTROS RAMOS DO VAREJO NÃO É SUBSTITUIR A SACOLA PLÁSTICA DESCARTÁVEL POR OUTRA DE MATERIAL BIODEGRADÁVEL, QUE TAMBÉM GERA RESÍDUOS. A INTENÇÃO É QUE O CONSUMIDOR SE CONSCIENTIZE DE QUE A CULTURA DO DESCARTE DE RESÍDUOS SÓLIDOS PREJUDICA O MEIO AMBIENTE E PASSE A UTILIZAR SACOLAS REUTILIZÁVEIS DE QUALQUER MATERIAL.


Veículo: Diário de S.Paulo


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