Ambientalistas apostam em embalagem biodegradável para o desenvolvimento de usinas de compostagem
Menos de 2% do lixo orgânico passa por tratamento que produz húmus e fertilizantes para uso na agricultura
O fim da sacolinha plástica nos supermercados paulistas, que será substituída a partir de amanhã pelas similares biodegradáveis, é uma das maiores apostas dos ambientalistas para tirar do papel a indústria brasileira de compostagem de lixo orgânico, hoje a mais atrasada das cadeias de reciclagem.
A compostagem é o processo industrial de decomposição de material orgânico, como restos de alimentos, feita por micro-organismos e que produz húmus e fertilizantes para a agricultura. A nova sacolinha está preparada para abrigar matéria orgânica e seguir para a compostagem.
Diferentemente das reciclagens de latinhas de alumínio, caco de vidro, papel e plástico, que já existem em diferentes escalas no país, a compostagem mal engatinha.
A estimativa é que funcionem cerca de 300 usinas de compostagem, a maioria ligadas a laboratórios e projetos pilotos de universidades. Segundo o IBGE, menos de 2% do lixo orgânico brasileiro passa por um processo de tratamento de compostagem.
No Brasil, o lixo orgânico representa mais de 50% dos resíduos sólidos residenciais. É ele que representa os maiores riscos para a saúde pública -restos de alimentos entram em decomposição assim que são descartados, atraem insetos e ratos, geram odores desagradáveis, produzem chorume e propicia a proliferação de micro-organismos causadores de doenças.
Reciclar o lixo orgânico é um desafio na maioria dos países do mundo, mesmo onde a coleta seletiva está mais avançada, como na França e no norte da Europa. Nesses países, só agora as metas de redução de gás metano por conta do efeito estufa estimulam a compostagem.
O metano é produzido nos aterros sanitários, técnica de tratamento que o Brasil adota para substituir os lixões.
NEGÓCIO DE ESCALA
Segundo André Vilhena, diretor do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), a compostagem está atrasada porque depende de escala e da coleta seletiva, que tem previsão de chegar a todas as cidades em 2014.
Para Vilhena, à medida que ocorrer a coleta seletiva, o lixo doméstico coletado nas cidades deverá se converter em lixo orgânico, seguindo direto para compostagem.
"Quando se retiram os resíduos sólidos recicláveis, como vidro, metal, plástico, o que sobra é quase sempre lixo orgânico. O fim da sacolinha plástica trabalha a redução do uso, que tem um ganho ambiental importante."
"Mesmo que a sacolinha biodegradável não vá parar em uma usina de compostagem -provavelmente, ela vai para um aterro ou para um lixão-, o uso dela representa um avanço em relação ao plástico. No aterro, ela vai sofrer um processo de degradação que demora mais tempo do que na compostagem, mas que é muito menor do que o do plástico comum", disse Mônica Abreu Azevedo, pesquisadora do Lesa (Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental) da Universidade de Viçosa (MG).O plástico demora cem anos para se degradar.
Veículo: Folha de S.Paulo