O assunto das sacolinhas de supermercado está parecendo plástico: não se degrada. Volto, portanto, a comentá-lo, agora à luz de informações que recebi de leitores. Na verdade, tenho mais dúvidas do que respostas, mas são questões que valeria a pena esclarecer.
Comecemos pela ciência por trás das sacolas ecológicas agora vendidas pelos supermercados paulistas. Elas são feitas com o plástico oxibiodegradável, que são essencialmente polímeros convencionais aos quais se acrescenta um aditivo de amido de milho, que tem a propriedade de enfraquecer algumas das ligações químicas entre as moléculas -conhecidas como forças de Van der Waals.
O que os estudos mostram é que, com o aditivo, os plásticos se fragmentam bem mais rápido do que sem ele. Estamos falando de anos contra séculos. Mas ninguém ainda demonstrou que esses micropedaços se decompõem mais depressa.
Trabalhos como o do engenheiro Guilherme José Macedo Fechine sugerem que não. Nesse caso, teríamos uma poluição invisível que, embora com menor potencial para entupir bueiros, permaneceria por longos períodos no ambiente, onde ainda causaria vários tipos de dano.
Outro ponto problemático é o preço. Como explica o leitor Fritz Johansen, engenheiro que atua no setor de plásticos, as sacolas tradicionais saem, para os supermercados, por R$ 8 o quilo, o que representa um custo unitário de R$ 0,02. De acordo com Johansen, para chegar aos R$ 0,19 agora cobrados ao consumidor -um aumento de quase dez vezes-, seria preciso adicionar filamentos de ouro ou platina, não um pouco de amido.
Devemos mesmo rever nossos hábitos de consumo e evitar excessos que se tornarão um ônus para nossos filhos e netos. Mas é preciso que nossas resoluções ecológicas estejam amparadas em boa ciência e se pautem pela racionalidade, não pelo marketing interessado de lobbies e governantes. (Hélio Schwartsman)
Veículo: Folha de S.Paulo