Menos sacolas, mais lixo nas ruas

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As moscas sumiram, pois o lixo orgânico é embalado nas sacolas plásticas; com o seu banimento, veremos lixo pelas ruas ou em caixas de papelão

Quem está com a razão? Os supermercados, os fabricantes, o poder público ou o consumidor?

O debate sobre o acordo do governo com os supermercados a respeito do banimento das sacolas plásticas tem de começar imediatamente e em nome da verdade.

Quais interesses estão realmente envolvidos?

O detalhe é que este acordo voluntário entre o governo e os supermercadistas só atende a um dos lados da balança.

Até agora, parece que os argumentos político e econômico afloram, já que o meio ambiente está só de pano de fundo.

Os supermercados gastam R$ 500 milhões ao ano com as sacolinhas plásticas. Ao tentar bani-las, a pergunta é: eles irão repassar esse custo ao consumidor diminuindo o valor dos produtos?

Esse mesmo consumidor já adquiriu um direito, e agora resolveram tirá-lo sem consultar.

As sacolas plásticas significam somente 0,2% dos aterros sanitários. Elas são muito menos poluentes em todo ciclo de produção e, principalmente, são reutilizáveis.

A questão da saúde pública, pouco abordada neste debate, precisa vir à tona.

Onde estão as moscas? Sumiram, porque o lixo orgânico é embalado nas sacolas plásticas.

Com a operação de banimento, teremos de comprar muito mais sacos de lixo para minimizar este impacto. A conta é simples: em média R$ 75,00 a mais por mês no orçamento doméstico. As classes C, D e E irão aguentar?

Veremos, assim, muito lixo jogado nas ruas ou em caixas de papelão. Vai ocorrer uma ampliação das doenças infecciosas.

Por outro lado, já que o governo, tão cioso pela causa ambiental, entrou nessa história, há uma questão básica a abordar.

Só em São Paulo, mais de 100 mil trabalhadores, direta ou indiretamente, perderão seus empregos.

O governo, como instituição imparcial e isenta, deveria, minimamente, ouvir o conjunto da sociedade envolvida. Assim, além dos citados no início do artigo, os trabalhadores necessariamente teriam que participar do debate.

Diante de tal situação, porque os deputados estaduais não propuseram audiências públicas para coletivizar o debate e tirar conclusões mais imparciais?

Cabe aqui, portanto, algumas conclusões e proposições, diante do cenário que se apresenta:

1) Os interesses econômicos e políticos envolvidos nesta questão estão acima do ambiental;

2) O governo de São Paulo deveria sugerir um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) para definir uma ação conjunta entre os envolvidos e chegar a um acordo que possa satisfazer, a médio prazo, o interesse comum da sociedade;

3) A educação ambiental para o consumo responsável deveria ser o objetivo indutor que formaria a consciência e a sensibilização de todos, voltados para práticas sustentáveis e que relevem o consumo consciente.

Aí sim, ajustados à causa e com imparcialidade, a sociedade e os herdeiros do futuro sustentável agradecerão.

LÍVIO GIOSA, 59, administrador de empresas, é vice-presidente da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), coordenador do Ires (Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental) e presidente do Cenma (Centro Nacional de Modernização Empresarial

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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