O primeiro dia sem sacolinhas de plástico oferecidas gratuitamente nos mercados da região não trouxe tanta felicidade aos consumidores. Poucos aderiram à ideia de comprar, por cerca de R$ 0,20, as sacolas biodegradáveis, mesmo com as caixas de papelão disponíveis pelos varejistas não sendo suficientes para suprir a demanda dos clientes. A opção de comprar as sacolas retornáveis era motivo de reclamações nas bocas dos caixas.
Ontem entrou em vigor o acordo entre a Associação Paulista de Supermercados e o governo estadual para eliminar a oferta de sacolas plásticas gratuitamente nos estabelecimentos, com o objetivo de contribuir para a preservação do meio ambiente, tendo em vista que esse tipo de material leva cerca de 100 anos para se decompor na natureza. Na região, os mercados economizarão cerca de R$ 1,8 milhão ao ano e no Estado a redução de gastos será de R$ 600 milhões no mesmo período, já que o custo médio às empresas com as sacolinhas era de R$ 0,02 por unidade. A redução é de 2,5 bilhão de embalagens distribuídas mensalmente.
"Isso é um absurdo. Eles já embutiam os preços das sacolas nos produtos que vendiam. E agora, com poucas caixas de papelão disponíveis, temos que gastar R$ 2 com uma sacola que também é de plástico. E mesmo que dure um pouco mais, não é ecologicamente correta", criticou o educador de São Bernardo Manoel Pereira.
Para a cozinheira andreense Mirian Cristina Vitorino, o problema é o peso no orçamento. "Hoje tenho que pagar R$ 2 por uma sacola retornável. E se eu esquecer ela amanhã, em casa, terei que gastar mais R$ 2", disse.
A contadora Alessandra Lea Nogueira Guimarães opinou que não acredita que reduzir sacolinhas de plásticos será a solução para o meio ambiente. Junto ao seu marido comprando em hipermercado de Santo André, a paulistana levava as compras para o carro nas mãos. "Não tinha mais caixas", afirmou o marido de Alessandra e também contador, Abel Wagner Garcia.
A alternativa gratuita para as sacolinhas de plástico também transtornou os consumidores ontem, já que os mercados não tinham unidades suficientes para suprir a demanda. "E é muito constrangedor pedir caixas (para os funcionários dos mercados) e ficar esperando até que encontrem alguma", reclamou a compradora e moradora de Mauá Meire Blanco Gabriel.
BIODEGRADÁVEL - A equipe do Diário percorreu vários estabelecimentos da região. Não foi constatada oferta de sacolinhas plásticas. No entanto, a adesão às biodegradáveis, que custam R$ 0,20 por unidade ao consumidor, foi baixa.
Mas quem comprou defendeu a sua utilização. "Será muito bom porque ela é mais resistente e vou utilizá-la para pôr o lixo. Como é biodegradável, será bom ao meio ambiente. Não adiantaria nada eu levar a compra em caixas, ou em sacolas retornáveis, e comprar sacos plásticos, para o lixo, que não são biodegradáveis", argumentou o aposentado de São Caetano Pedro Delfino Gomes.
Feiras livres continuam com embalagens
Enquanto os supermercados da região deixaram de fornecer as sacolinhas de plásticos sob o argumento de contribuir com o meio ambiente, os feirantes ainda não planejam entrar no mesmo ritmo. Segundo o presidente do Sindicato dos Feirantes do ABC, Odair Roberto Loureiro, o assunto não foi mencionado pelos comerciantes das feiras livres.
"No nosso caso será muito prejudicial aos consumidores", disse Loureiro. Ele explicou que a maioria das pessoas que passam pelas cerca de 20 feiras livres que ocorrem diariamente na região está de mãos vazias. "Eles normalmente descem do carro, fazem pequenas compras, e sem as sacolinhas não teriam como carregar os produtos", destacou o líder sindical.
Após passar boa parte dos seus quase 70 anos envolvido com feiras, Loureiro lembrou que o cenário vem mudando nos últimos anos. "Eu sou da época em que não existiam sacolinhas plásticas. As pessoas levavam sacolas, carrinhos e pegavam caixas nos mercados", destacou. No entanto, nas feiras, diferente ao que ocorria no passado, ele garante que é possível contar nos dedos as donas de casa que ainda utilizam os carrinhos de ferro para carregar as compras.
Porém, o presidente da entidade não acredita que haverá grande resistência dos feirantes em também aderir ao fim das sacolinhas. "Teremos, de uma maneira ou de outra, que aderir ao que os grandes fazem. Não resta dúvidas que mais tempo ou menos tempo também vamos deixar de oferecer sacolinhas plásticas a fim de preservar o meio ambiente."
Veículo: Diário do Grande ABC - SP