Com fim da embalagem plástica gratuita em SP, cliente adere às caixas de papelão, que acabam, e às ecobags
Supermercadistas evitam contrariar os clientes insatisfeitos; maioria aceita bem a mudança no Estado
Diante de filas imensas nos caixas, os lojistas evitaram entrar em conflito com o consumidor que "não sabia", ontem, do fim da sacolinha plástica no Estado de São Paulo.
Em vigor desde ontem, a mudança é fruto de um acordo do setor com o governo do Estado e não tem força de lei.
Nos supermercados, os clientes preferiram não pagar até R$ 0,19 pela sacola biodegradável de amido de milho, que encalhou. Muitos optaram por caixas de papelão, que começaram a desaparecer ainda no início da tarde.
Os caixas fizeram "vistas grossas" para o cliente que, não tendo como carregar as coisas, utilizou-se dos sacos plásticos distribuídos para embalar legumes.
O supermercado Master do shopping Frei Caneca (centro) decidiu comprar sacolas de "plástico verde", feitas de álcool de cana-de-açúcar, para dar ao consumidor que fizesse questão da embalagem. Como é produzido com álcool (e não petróleo), que é uma fonte renovável, ele é considerado menos agressivo.
Com exceção de poucos bate-bocas na boca do caixa, a receptividade foi boa e a maioria dos clientes foi "preparada" às compras.
Quem não levou a própria ecobag comprou uma na hora. Os supermercados agora têm corredores inteiros de sacolas retornáveis, que custam a partir de R$ 0,70.
Pouquíssimos consumidores testaram a nova sacolinha biodegradável de amido de milho. Apesar de o acordo prever a venda a R$ 0,19, o preço diminuiu para R$ 0,18 no Záffari, R$ 0,14 no Bergamini e R$ 0,10, no Andorinha.
No Walmart do Pacaembu, região central, o comerciante Eli Andrade comprou uma sacolinha biodegradável para carregar 4 kg de açúcar. A sacolinha rompeu-se ainda no caixa e teve de ser substituída. "Será que vou ter que comprar duas sacolinhas?"
O estudante Guilherme Lara comprou dez sacolas biodegradáveis no Extra do Itaim Bibi, zona oeste, para carregar as compras. Acabou usando só sete. "Vou ter que levar as outras para casa", disse.
FALTARAM CAIXAS
No Carrefour Villa-Lobos (zona oeste), as caixas de papelão acabaram às 15h30. Clientes sem ecobag, como a empresária Tais Caline, acabaram carregando as compras soltas no carrinho.
No hipermercado Andorinha e no supermercado Bergamini, ambos na zona norte da capital, as caixas de papelão começaram a sumir ainda no começo da tarde.
A orientação dos funcionários aos clientes era garantir as suas caixas antes mesmo de iniciar as compras. Enquanto os funcionários do estoque repunham as mercadorias nas prateleiras, outros já estavam a postos com uma empilhadeira para levar as caixas recém-esvaziadas para a frente da loja.
"Foi uma operação de guerra treinar as equipes em tão pouco tempo. Aprendemos com a experiência de lojas que já tiraram a sacolinha antes", disse Ligia Korkes, gerente de sustentabilidade do Pão de Açúcar.
"A adesão foi ótima. É uma mudança de comportamento que o consumidor gostou de fazer", diz João Galassi, presidente da Apas (Associação dos supermercados de SP).
No interior, clientes apelam para as embalagens do setor de frutas
No primeiro dia de validade do acordo que barrou as sacolinhas plásticas descartáveis em supermercados paulistas, consumidores de Ribeirão Preto e Campinas -duas das maiores cidades do interior do Estado- priorizaram embalagens retornáveis ou improvisaram na hora de carregar as compras, mas disseram que não vão abrir mão de outros sacos plásticos para colocar o lixo doméstico.
Em Campinas, a 93 km de São Paulo, alguns consumidores se surpreenderam com a medida. Na região central da cidade, muitos saíram com os produtos nas mãos ou pegaram os sacos plásticos oferecidos no setor de frutas, legumes e verduras para levar outros produtos da compra.
A auxiliar de limpeza Fátima Alves Pereira, 38, apelou a uma descartável que achou no escritório onde trabalha. "Comprar essa biodegradável que também vai para o lixo? De jeito nenhum. Não compro, levo na mão."
A maior parte dos consumidores ouvidos pela Folha em Campinas disse que tem uma ecobag (retornável) em casa, mas que ainda não criou o hábito para utilizá-la.
Em Ribeirão Preto, a 313 km da capital, a reportagem visitou os supermercados Extra, Dia e Alpheu. Só 2 dos 13 clientes entrevistados levaram as compras em caixas de papelão ou carrinhos de feira. Quatro compraram sacolas biodegradáveis por R$ 0,20 e os demais investiram R$ 2 nas retornáveis.
"Quem ganha é o supermercado, que vai vender a outra [retornável] mais cara. O descarte do lixo doméstico continuará sendo feito em sacos plásticos", afirmou Carlos Gineti, 52, advogado, que carregou as compras em duas sacolas biodegradáveis.
"Isso só foi [feito] para forçar a gente a comprar sacola", disse a doméstica Leonor Solange Alves, 52, que adotou a sacola retornável.
Veículo: Folha de S.Paulo