A vida sem sacolinha

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Entre a revolta e a aceitação, o consumidor improvisa formas de levar as compras do supermercado sem as bolsas de plástico


Chegou a hora de o consumidor da cidade de São Paulo mostrar o quão engajado e consciente está na defesa dos recursos do planeta. Desde o dia 25, as sacolinhas plásticas foram banidas dos mercados. A medida, que não tem força de lei, é um acordo entre a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e o governo estadual. As primeiras reações mostram consumidores divididos.

“Isso é um absurdo! Quem pega ônibus, como vai fazer? Moro em Pirituba, como vou levar esta caixa até em casa?”, reclamava a faxineira Tânia Coelho Veloso, 60 anos. Ela havia acabado de sair de um supermercado popular da zona oeste de São Paulo, onde outros consumidores batalhavam para fazer caber caixas de papelão dentro dos pequenos carrinhos do estabelecimento. Carregadores e atendentes, num esforço de simpatia, repetiam uma espécie de mantra para cada novo cliente: “Agora não temos mais as sacolas de plástico. Estamos oferecendo as caixas.” Mesmo assim, a confusão era visível, principalmente entre os mais velhos.

Já na Vila Clementino, zona sul da cidade, o clima era outro. Muitos clientes traziam suas próprias sacolas de pano ou carrinhos de feira. “Meus pais moram em Jundiaí [interior do Estado], e lá os sacos plásticos de supermercado já foram abolidos. É uma questão de cultura, a gente acaba adquirindo o hábito”, afirma o engenheiro Jefferson Mesquita, 43 anos. Precavido, ele foi com a mulher e os dois filhos pequenos, carregou tudo em caixas de papelão e despejou os produtos em um engradado no porta-malas do carro, que já estava ali para facilitar o transporte da compra do mês. Outra que não enfrentou problemas foi a economista Gabriela Leis, 38 anos: “Morei na África do Sul, e lá as sacolas de plástico não são usadas. Acabou virando um hábito que eu conservei quando voltei ao Brasil.”

Contrariado ou não, cada vez mais o consumidor vai ter de aprender a viver sem sacolinha plástica. O fenômeno se espalha em várias partes do Brasil e do mundo (leia quadro). Segundo a Apas, outras 120 cidades de São Paulo já aderiram ao movimento. Apesar da aceitação pelo Poder Público, a eficácia da medida é questionada.

Para Miguel Bahiense, presidente da Plastivida, entidade que procura promover o uso consciente do plástico, acabar com as sacolas de supermercado não trará benefícios, porque as pessoas serão obrigadas a comprar sacos para embalar o lixo. “O que fazemos é simplesmente substituir um produto pelo outro. As sacolinhas podem ser reaproveitadas”, argumenta. O presidente da Apas, João Galassi, discorda. “O uso do saco de lixo é racional, porque as pessoas pagam por ele. Em Jundiaí, onde essa medida existe desde 2010, a venda desse produto subiu apenas 15%. Além disso, os plásticos que não eram aproveitados antes, como aqueles nos quais carregamos frutas, passaram a ser usados”, justifica. Se você gosta das sacolinhas, guarde-as com carinho. Elas estão destinadas a virar relíquias.


Veículo: Revista Isto É


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