Sustentabilidade vira estratégia de negócios

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Na semana em que acontece no Rio de Janeiro o principal evento sobre o meio ambiente desde a Eco 92, a indústria aproveita para mostrar como a sustentabilidade entrou de vez na estratégia de negócios das empresas e já mudou até o modo de produção. Inovações foram incorporadas não só para melhorar os processos mas também para oferecer produtos que possibilitem ganhos aos clientes. Este é o caso da nanotecnologia, que, além de acrescentar mudanças nos resultados do produto garante um prêmio a mais aos preços dos produtos.

Em parte, o discurso sobre ser sustentável ainda está calcado sobre as ações de mitigação de impactos ambientais, mas uma outra face da sustentabilidade tem como base a atração por novos negócios por meio de investimento em novos produtos obtidos por pesquisa e inovação, casos da indústria química e de papel e celulose, fornecedoras de insumos básicos e intermediários para o setor produtivo.

Os dois setores, cuja atuação já foi considerada de forte impacto para o ambiente, adotaram uma postura mais ativa para a questão da economia verde. As duas áreas no Brasil se posicionam para reverter a ideia de que suas atividades, apesar de ter um fim econômico podem conviver e até melhorar a qualidade de vida.

Para isso os investimentos são estratégicos. Segundo a presidente-executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes, os investimentos em inovação do setor florestal estão em ritmo de crescimento para o desenvolvimento de uma nova forma de cultivo de árvores. Há iniciativas de todas as empresas do segmento. Uma delas é a Suzano que em 2010 adquiriu Futuragene, empresa de desenvolvimento genético para aprimorar as plantas para atribuir diferentes aplicações ao eucalipto. Além disso, companhias como Fibria e Klabin são empresas que procuram desenvolver estudos para o melhoramento genético.

"O próximo passo é dar múltiplo uso para a madeira", disse ela. "Já chegamos ao limite do desenvolvimento de clones, agora o partiremos para a árvore transgênica, um novo produto em que daremos uma finalidade comercial", revelou ela, que cita usos já divulgados como para energia por meio de pellets - iniciativa da Suzano Energias Renováveis, mas que ainda está em fase de projeto -, para a produção de etanol celulósico, entre outras aplicações.

A estratégia do setor passa pelo fato de que a árvore é um grande foco de retirada de dióxido de carbono. De acordo com dados apresentados pela entidade, os 2,2 milhões de hectares de florestas comerciais do setor de celulose recolhem do ar 1,3 bilhão de toneladas de carbono da atmosfera e querem incluir esse fato nas discussões sobre serviços ambientais como outra forma de obtenção de recursos.

Essa posição vai ao encontro da meta do setor no Brasil de dobrar a área plantada para todos os usos, que atualmente está em 7 milhões de hectares para 14 milhões de hectares, considerando também os usos para carvão vegetal , placas de madeira e na construção civil.

Com o novo produto, disse ela, o setor ainda tem que chegar à exploração de partes da árvore como a nanocelulose e os cristais de nanocelulose, que podem entrar na composição de novos materiais super-resistentes para aplicação aeronáutica e militar. A expectativa é de que em três anos se obtenha essa árvore geneticamente modificada. Além disso, o setor precisa de um esforço conjunto para aprovar a regulamentação desse produto no País e em todos os mercados consumidores, entre os quais estão China, Estados Unidos, e os mais resistentes, como os da Europa. Entre os benefícios dessa nova árvore está o aumento da competitividade brasileira nos cerca de 5 mil produtos que podem ser feitos.

A presidente da Bracelpa concorda que a crise mundial pode atrapalhar planos de investimentos, afinal, trabalhar com a liquidez imediata é uma questão de curto prazo importante, mas garante que as empresas brasileiras, apesar de exportadoras e, consequentemente, dependentes do cenário macroeconômico global, devem manter aportes em inovação para não ficarem para trás.

Química Verde

O setor químico também quer aproveitar o evento na capital fluminense para reforçar que não adianta falar em sustentabilidade e deixar de lado o viés de desenvolvimento da economia. De acordo com o presidente da Braskem, Carlos Fadigas, o crescimento tem que estar ao lado das discussões ambientais. Nesse sentido, ele defende que o setor químico, normalmente relacionado a problemas de poluição destina-se ao negócio sustentabilidade, pois apresenta soluções que melhoram qualidade da água, diminuem o peso dos carros para estes emitirem menos gases de efeito estufa, entre outros negócios que podem ser enquadrados como economia verde e relacionados aos aportes em inovação.

"Restringir avanços em países como China e Brasil em favor da sustentabilidade não é a resposta correta em função do meio ambiente. O uso de tecnologias e melhores práticas para reduzir o uso de recursos naturais é a melhor forma de fazer mais e com eficiência", disse ele, que é conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e membro do Conselho Internacional a Associações das Indústrias Químicas (ICCA).

Fadigas aponta que é necessária uma estrutura de incentivos para que a indústria invista em inovação e alcance a chamada economia verde. Ele lembra que o Pacto da Indústria Química, que propõe investimentos de US$ 167 bilhões em uma década só sai do papel com condições favoráveis para o setor por aqui e isso inclui a redução da carga tributária e estímulos aos investimentos por meio de uma política industrial de longo prazo para o setor.

Apesar do discurso, o executivo reconheceu que as companhias que operam no Brasil também devem ter um compromisso interno que passa pelo desenvolvimento de inovação e tecnologias novas para trazer um mix de soluções para melhorar sempre a atuação. Ele lembra que nesse ponto já houve avanços nos últimos 20 anos com a redução da emissão de gases em 30 vezes entre 2004 e 2010.

Ele cita a empresa que comanda com o exemplo do plástico verde, resina termoplástica que é produzida a partir do etanol. Além disso, disse que a empresa já investiu cerca de R$ 200 milhões em inovação, não somente nesse produto, mas na melhoria das demais resinas petroquímicas e derivadas de fontes fósseis.

 
Veículo: DCI


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