A lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que será regulamentada até 2014, gera expectativas positivas para o mercado de reciclagem, pois determina que indústrias, empresas, consumidores e até municípios encontrem soluções para seu próprio lixo.
O Brasil gera hoje 243 mil toneladas de lixo por dia, o equivalente a 45 mil caminhões, e a estimativa é que apenas 8% deste total seja reciclado. Os negócios que envolvem o setor estão sendo discutidos na 7ª edição da ExpoSucata – Feira e Congresso Internacional de Negócios da Indústria da Reciclagem, que começou ontem e termina amanhã no Centro de Exposições Imigrantes, na capital paulista.
O diretor da Eco Brasil, empresa organizadora da feira, Adriano Assi, diz que o mercado de reciclagem e de lixo está em crescimento e virou até tema novela, mas na prática tem um longo caminho a percorrer. "Desde a aprovação da lei de resíduos, apenas 10% dos municípios brasileiros desenharam um plano de gerenciamento. Eles precisarão decidir o que fazer, já que a lei determina que os mais de 4,5 mil lixões do País serão fechados", afirma. Segundo ele, o mercado de reciclagem movimenta R$ 14 bilhões por ano e o de lixo (que envolve varrição, coleta e transporte), R$ 21 bilhões.
De olho na preocupação de empresas e governos com a destinação de resíduos, empresas tradicionais expandem seus negócios com a reciclagem e o lixo.
Empresas – Com 45 anos de atuação no mercado, principalmente na produção de máquinas que trituram a madeira contaminada e papel, a catarinense Bruno Industrial ampliou o leque na última década ao produzir máquinas que fazem o mesmo com cartuchos de impressora, metais, garrafas de plástico e pneus. "As máquinas reduzem o volume do lixo, que pode ser reaproveitado e transformado em combustível. É uma forma de reduzir o passivo das empresas", afirma o gerente comercial da Bruno Industrial, Anderson Kaiser.
Durante a feira, a empresa fez a demonstração do pré triturador móvel, que tem capacidade de produção de 50 toneladas por hora e tritura não só a madeira como os resíduos sólidos urbanos, ao custo de R$ 1,2 milhão. "Produzimos máquinas com capacidade de triturar 1 tonelada por hora e que custam R$ 100 mil. É um equipamento voltado para os setores de reciclagem e de manufatura reversa. Nossa linha de negócios voltados para reciclagem cresce 20% ao ano", diz Kaiser.
Já o proprietário da Casara Representações, Gilberto Omir Casara, que comercializa produtos de oito empresas, quatro delas de reciclagem, diz que a preocupação com os resíduos sólidos está crescendo. O setor de comércio e serviços, segundo ele, tem consumido mais contêineres de lixo reciclável, que suportam até 400 kg, além de carrinhos e lixeiras próprios.
Outra linha que tem crescido é a de máquinas de prensar de papel, plástico e PET, que custam em torno de R$ 18,6 mil e tem capacidade de gerar 250 kg de fardos de papelão. "Antes só os sucateiros compravam para produzir os fardos e vendê-los para a reciclagem. Mas as indústrias usam para reduzir os seus resíduos e vendem o material, criando nova fonte de receita", explica.
e-lixo – Os lixos eletrônicos, como catalisadores de automóveis e químicos, celulares e suas baterias, também geram oportunidades de negócios para a Umicore, multinacional belga com atuação no Brasil há mais de 50 anos, e que atualmente processa 350 mil toneladas anuais no mundo. O gerente de vendas da Umicore, Ricardo Rodrigues, revela que a unidade brasileira faz a captação e seleção dos materiais e os envia para o exterior, onde é feito o refino dos metais preciosos.
"São materiais tóxicos e é preciso know-how, já que é possível encontrar uma 'tabela periódica' dentro de uma placa de celular. Nosso trabalho é gerar materiais que são processados nas fábricas do Japão e Coreia do Sul para fabricar novas baterias. Recuperamos mais de 17 tipos de metais preciosos, entre eles ouro, prata, ródio, estanho, níquel e mercúrio. São metais usados depois na fabricação de joias", diz . "Compramos de fornecedores que tenham no mínimo duas toneladas de produtos", afirma o gerente, sem revelar o valor pago pelo material.
Veículo: Diário do Comércio - SP