Reciclagem ainda é um desafio no país

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A reciclagem do cobre ainda é um desafio no Brasil. Mais de 40% do metal produzido na Europa já provem da reciclagem, mas no país o cobre secundário, obtido da sucata, atingiu em 2010, de acordo com o Sumário Mineral, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), uma produção de 23 mil toneladas - quase 10% da produção nacional de cobre primário.

Para um produto 100% reciclável e com valor de mercado cinco vezes superior ao da latinha de alumínio - campeão de reciclagem - faltam para o metal o trunfo da conscientização da sociedade sobre as vantagens ambientais do reaproveitamento e um freio na informalidade do setor.

"A informalidade afeta a competitividade dos preços para a indústria", diz Edson Monteiro, vice-presidente da Paranapanema. "A informalidade gera uma descompensação entre as empresas", afirma Antonio Maschietto Júnior, diretor executivo do Procobre. A aposta do setor é que o governo regulamente a Resolução 13, do Senado Federal, que estabelece uma alíquota de 4% para o Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), nas operações interestaduais com bens e mercadorias importados do exterior. A guerra fiscal faz com que a sucata produzida em São Paulo seja vendida com nota fiscal de outros Estados que têm ICMS menor.

As indústrias de cobre têm procurado o governo para um acordo voluntário de logística reversa do material, mas têm esbarrado em outras prioridades das autoridades ambientais. "Quando criou e regulamentou o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, o governo escolheu os produtos que mais atacavam o meio ambiente, como pneus e pilhas elétricas. Temos protocolado, no Ministério do Meio Ambiente, a vontade de acordo em torno da política reversa do cobre, mas não conseguimos avançar porque o governo está dando prioridade aos produtos que mais agridem o meio ambiente", afirma Valdemir Romero, diretor executivo do Sindicel ABC.

A reciclagem é capaz de recuperar virtualmente 100% do cobre utilizado, com a produção de pouco ou nenhum lixo industrial e uma economia de 85% de energia em relação à extração e refino do metal. É da sucata de computadores, equipamentos eletrônicos, válvulas e eletrodomésticos que os europeus reciclam 44,8% de cobre, de acordo com a International Copper Study Group (ICSG). Nada menos do que 5% do peso de um telefone celular é feito de cobre usado nos componentes eletrônicos de transmissão do aparelho. Em um terminal de computador o cobre representa quase 20% do peso.

De acordo com o estudo da ICSG, o uso mundial de sucata de cobre atingiu 8,2 milhões de toneladas em 2010 e o uso total do metal no mundo chegou a 24,3 milhões de toneladas. Os países europeus reciclaram 2,2 milhões de toneladas no ano. Nos países do continente americano a reciclagem atingiu 1,2 milhão de toneladas, nas nações asiáticas chegou a 4,7 milhões de toneladas e na África e Oceania não passou de 24 mil toneladas. A taxa de reciclagem chegou a 32,3% na Ásia, 44,8% na Europa, 34,2% na América do Norte e 10,3% no restante do mundo.

No Brasil, uma pesquisa da Procobre aponta para um aproveitamento de 26% da sucata de cobre. Em outubro, o quilo da sucata de cobre estava cotado, em São Paulo, entre R$ 14,00 e R$ 14,80 (cobre mel ou de primeira) e entre R$ 13,00 e R$ 13,80 (cobre misto ou de segunda).

Na Paranapanema, maior produtora nacional de cobre refinado, toda a sucata é reciclada. A política de sustentabilidade da empresa é um caminho para diminuir a importação de concentrado de cobre, mas a informalidade dos sucateiros impede que a empresa absorva uma quantidade ainda maior. O fim da informalidade poderia estabelecer preços competitivos entre os sucateiros.

"Se compro sucata de São Paulo, pago 18% de ICMS, mas o sucateiro me vende como se fosse um produto do Rio de Janeiro, onde o ICMS é de 12%, ou de Minas Gerais, onde é de 7%", diz Edson Monteiro, da Paranapanema.

A Vale, maior mineradora de cobre do país, desenvolve em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) uma tecnologia de recuperação do produto de micro-organismos que se alimentam do metal. A pesquisa será feita na Mina do Sossego, em Canaã dos Carajás, no Pará, que entrou em operação em 2004.

A barragem, de onde estão sendo colhidas as amostras dos micro-organismos, tem cerca de 90 milhões de toneladas de rejeito com um teor de 0,07% de cobre. Os investimentos no projeto de pesquisa somam R$ 15 milhões - R$ 3 milhões desembolsados pela Vale e R$ 12 milhões provenientes do Fundo Tecnológico (Funtec), criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para estimular o desenvolvimento de tecnologias a partir do conhecimento científico produzido pelos institutos do país. "Em caso de sucesso, a pesquisa trará um retorno financeiro para o negócio", acredita o diretor operacional do cobre da Vale, Eugênio Victorasso.


Veículo: Valor Econômico


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