Crise da água pode gerar custo e oportunidades de negócios

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Enquanto alguns fabricantes da indústria terão aumento das despesas em razão da falta do insumo, outros já contabilizam incremento da demanda por seus produtos

 

 



A crise hídrica em São Paulo pode significar aumento de custos ou uma oportunidade de negócios. Enquanto parte da indústria paulista sofre com a falta de água, algumas outras comemoram o aumento da demanda por seus produtos, que visam à economia do insumo.

É o caso da fabricante de materiais de construção Japi. A empresa possui uma linha de torneiras com um quarto de volta que evitam a abertura desnecessária do fluxo de água. O produto seria lançado em março do ano que vem, porém, a fabricante antecipou o lançamento para outubro deste ano em razão da crise hídrica.

"Já tínhamos uma linha de maior valor agregado, mas lançamos esta versão com plástico de engenharia, mais voltado para a classe C", afirma o gerente comercial da Japi, Diego Matos.

Além disso, a marca fabrica ainda um vaso de resina plástica (que imita cimento e barro, porém é mais leve) para jardinagem, que possui um reservatório com capacidade de até 100 litros de água da chuva com uma torneira acoplada.

"Corremos para lançar esses produtos", ressalta Matos. O executivo pondera que os lançamentos da marca ocorrem em meio a um cenário difícil, em que o setor de material de construção como um todo deve fechar 2014 em queda.

"Apesar do ano difícil, em que a economia afetou o consumo das famílias, vamos crescer cerca de 15%", comemora Matos. O executivo conta que a empresa vem desenvolvendo esses produtos há bastante tempo, porém, não tinham a adesão no varejo como têm agora. "Estamos conquistando cada vez mais mercado", destaca.

Uso consciente

A fabricante de lavadoras de alta pressão Kärcher também está otimista com a perspectiva de aumento da demanda por produtos que economizam água. Com três linhas de produtos (residencial, comercial e industrial), a empresa está crescendo 15% a mais do que o planejado em 2014.

"Cada vez mais, a população vai se conscientizar de que precisamos economizar água. A crise hídrica trouxe uma grande possibilidade de expansão para nós", afirma o gerente de planejamento estratégico da Kärcher, Marco Dutra.

O executivo garante que os equipamentos da marca economizam até 85% de água em relação a métodos convencionais de limpeza, como mangueiras e baldes. "Este mercado cresce a uma média de 30% ao ano no Brasil, e ainda possui um alto potencial de crescimento", estima Marco Dutra.

A fábrica da Kärcher está localizada em Vinhedo (SP) e tem capacidade instalada de 500 mil máquinas por ano. Com investimentos de R$ 80 milhões, a planta tem a possibilidade de dobrar a sua capacidade, caso o mercado demande.

"Se houver necessidade de uma resposta rápida ao aumento de demanda, podemos atender", destaca Dutra.

Ele afirma que, atualmente, a Kärcher está utilizando quase que toda a capacidade de produção da planta. "Limpeza é uma necessidade, mas com economia de água", ressalta.

Impacto negativo

De acordo com o estudo "Rumos da indústria paulista: consequências de um racionamento de água", do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), um racionamento de água teria pequeno impacto sobre o faturamento para 47% das empresas entrevistadas; não teria impacto para 32,7% e um forte impacto para 17,9%. A Fiesp ouviu 413 empresas.

Segundo o estudo, pensando nas consequências de uma interrupção no fornecimento de água, 62,2% das empresas indicaram que a produção pode ser prejudicada, mas não precisa ser interrompida. Para 12,1% a unidade produtiva não seria afetada e 11,9% indicaram que a produção é paralisada apenas no momento da interrupção e retomada em seguida.

O problema é ainda pior para empresas que dependem completamente do fornecimento de água do sistema público. Segundo o estudo da Fiesp, 54,5% das empresas entrevistadas não possuem uma fonte alternativa de água, enquanto 21,8% possuem e são capazes de manter a produção durante as interrupções de fornecimento. Cerca de 20,8% não dependem do sistema de abastecimento de água.

É o caso da fabricante de sorvetes Frutiquello, cujo impacto da falta do insumo no estado tem se mostrado bastante significativo. De acordo com a marca, toda vez que a água volta de uma interrupção de fornecimento, não é possível utilizá-la na higienização da produção.

"O insumo volta com barro e lodo do sistema de encanamento", conta o diretor da Frutiquello, Rogério Martins. Porém, a empresa achou uma saída para driblar a crise. "Passamos a comprar caminhões-pipa para usar na produção", afirma.

O executivo explica que o custo da empresa cresceu 22% no mês. Para 2014, a média de aumento das despesas será de cerca de 15%.

"Não vejo solução no curto prazo para este impasse. Estamos comprando uma caixa d'água de 300 mil litros e vamos continuar contratando caminhões pipa", destaca.

Martins conta que a crise hídrica irá impactar a margem de lucros da empresa para o ano, porém, a situação só não será pior porque, por outro lado, a seca vem acompanhada de altas temperaturas.

"O mercado interno de sorvetes está tão aquecido que é difícil até de comprar freezer para estocar os produtos no varejo", diz o executivo.

A projeção da empresa foi revisada para baixo ao longo do ano em razão da queda da rentabilidade. Ainda assim, o crescimento deve ficar entre 15% e 18% em 2014.

"Já temos 62 lojas no País e estamos aumentando as parcerias (comodato) para abertura de novas lojas", pontua Martins. "Até o final de fevereiro de 2015, devemos abrir mais 12 lojas", acrescenta Martins.

Perspectivas

O gerente da Japi acredita que 2015 será tão difícil como foi o ano de 2014. "O mercado está sofrendo com a desaceleração da economia", diz Matos. Ele afirma, no entanto, que a Japi deve conquistar pelo menos um crescimento de 10% sobre o desempenho já satisfatório de 2014. "Estamos ganhando mercado até pelos novos produtos no segmento de economia de água", comemora.

O diretor da Kärcher já está colhendo os frutos do crescimento da demanda em razão da crise hídrica. "Teríamos férias coletivas em 19 de dezembro, mas cancelamos para atender ao aumento dos pedidos", diz Dutra. Para 2015 a Kärcher projeta um crescimento de 10% em relação a este ano. "O mercado em que atuamos ainda tem um grande potencial de crescimento", avalia o executivo.



Veículo: DCI


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