Fabricantes apostam no uso consciente de recursos naturais, reciclagem e venda de resíduos. No entanto, ainda enfrentam dificuldades para mensurar o retorno dos aportes nesses projetos
As ações de sustentabilidade estão ganhando cada vez mais relevância no planejamento estratégico das indústrias. Apesar da dificuldade de quantificar os ganhos, as empresas já conseguem notar o retorno desses investimentos. "Além da redução de custos e aumento de lucro, fatores como a gestão de riscos e outros menos tangíveis se destacam. Mas as empresas não sabem muito bem como quantificar o ganho de competitividade que o investimento traz", explica a pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mariana Nicolletti.
A recuperação de nascentes na área da fábrica da Brasil Kirin, em Itu (SP), garantiu que a linha de produção não sofresse os impactos da crise hídrica no ano passado e ainda permitiu que a empresa destinasse parte da água para o município. "Temos um benefício intangível que é compartilhar esse recurso com a população local", afirma a vice-presidente de assuntos corporativos e sustentabilidade da empresa de bebidas, Juliana Nunes.
Segundo ela, a Brasil Kirin trabalha com antecipação de cenário, mas não necessariamente baseada na análise de risco a eventos ambientais e mais pela oportunidade de otimizar o uso dos recursos. Nos últimos seis anos o consumo de combustíveis pela fabricante caiu 20% e o de energia recuou 8%.
Já a concorrente Ambev conseguiu um acréscimo de R$ 115 milhões na receita com a venda e reciclagem de resíduos no último ano. De 2010 a 2014 a operação cresceu 43,5%. "A companhia também conquistou redução progressiva consumo de água no processo produtivo. De 2002 a 2014, houve um corte de 40%", diz a gerente de relações socioambientais da Ambev, Simone Veltri.
Na fabricante de alimentos BRF, os projetos implantados na linha de produção têm sido atrelados ao ganho de eficiência ambiental desde 2009. "A BRF reduziu o consumo específico [relativo à produção] de água nas plantas industriais em 4,2%. Para 2015, a meta chega a quase 3%", informou a empresa, por meio de nota.
Com as ações de sustentabilidade, a Electrolux, reduziu em 8,8% as despesas com água nas fábricas em São Carlos (SP), Curitiba (PR) e Manaus (AM) no ano passado. Em 2015, a empresa planeja reduzir o consumo de água em 20% e o de energia em 15%.
A água também é o principal insumo da fábrica Truss Cosméticos localizada na zona rural de São José do Rio Preto (SP). Por conta disso a empresa trata 100% do esgoto produzido, segundo a fundadora da empresa, Manuella Bossa.
"Como não temos ligação com a rede de esgoto, tratamos internamente", conta Manuella, que investiu R$ 100 mil no tratamento de efluentes e gasta cerca de R$ 2.500 por mês na manutenção do processo. A Truss também obtém receita incremental com a venda das embalagens de matéria-prima, que no ano passado somou cerca de R$ 18 mil.
A Reckitt Benckiser (RB) também investe na gestão de resíduos. "Desde o início da estratégia de sustentabilidade adotada oficialmente em 2012, a companhia passou de quatro a 35 fábricas não emissoras de resíduos, ou 74% do total de unidades fabris. Na América Latina, todas as plantas, incluindo a de São Paulo, atingiram essa condição", explica a gerente de relações externas da RB para América Latina, Andrea Riepe. A companhia é dona das marcas Vanish e Veet.
A Unilever, outra gigante do setor, vê na sustentabilidade oportunidade para crescer. "De 2008 a 2014, atingimos resultados surpreendentes, como a redução em 36% no consumo de água, e nem por isso deixamos de crescer. Pelo contrário, no período o faturamento apresentou aumento de 60%", lembrou o responsável pela área de assuntos corporativos da Unilever Brasil, Antonio Calcagnotto, em nota.
Emissão
O executivo da Unilever conta ainda que entre 2008 e 2014 a companhia reduziu em 35% a emissão de gases de efeito estufa. A meta da fabricante agora é reduzir pela metade o impacto desses gases no ciclo de vida dos produtos.
"O maior problema das empresas é não saber o valor do carbono e depois vir uma regulação que coloque sobre a empresa o custo [pela emissão], por isso o setor tende a pedir essa precificação e procurar formas de diluir os custos", acredita Mariana da FGV.
Veículo: DCI