A taiwanesa AOC, maior fabricante mundial de monitores de computador, planeja montar uma fábrica de telas de cristal líquido (LCD) no Brasil, com o objetivo de acelerar a produção local de aparelhos de TV e monitores. O investimento total em infraestrutura é calculado em aproximadamente R$ 20 milhões. No primeiro ano, o faturamento projetado com os equipamentos ultrapassa a cifra de R$ 170 milhões.
O plano da AOC, conforme apurou o Valor, é erguer uma estrutura em Manaus com capacidade para produzir 100 mil telas de LCD no primeiro ano de atividade, saltando para até 600 mil unidades no terceiro ano de operação. Além da fabricação das telas, a empresa pode trazer para o país o processo de montagem de uma série de componentes usados em TVs, como as partes plásticas frontal e traseira dos equipamentos e as placas de circuito impresso, componentes que também são usados em monitores. A meta é fabricar até 1 milhão dessas placas nos primeiros 12 meses de atividade, volume que poderá ser dobrado no ano seguinte.
Para tocar as operações, está prevista a contratação de 550 pessoas. Ao longo de três anos, o quadro poderá ultrapassar mil funcionários, incluindo mão de obra indireta.
A AOC informou, por meio de sua assessoria de comunicação, que confirmava o projeto, mas disse não comentaria o assunto porque há detalhes sobre a operação que ainda não estão definidos. Em março, em entrevista ao Valor, o vice-presidente da AOC no Brasil, Maurizio Laniado, disse que a matriz da companhia analisava o projeto de produção local. Na ocasião, o executivo declarou que a intenção era de "concretizar esse projeto [de fabricação] neste ano."
A movimentação da companhia indica o propósito de ganhar espaço no mercado nacional de televisores, setor que só neste ano deverá comercializar 12 milhões de aparelhos. Além de olhar para a Copa do Mundo, a companhia quer se preparar para a demanda dos Jogos Olímpicos de 2014. Sua presença no país, no entanto, é recente.
A AOC desembarcou no Brasil em 2004, com a abertura de uma unidade em Manaus para fabricar monitores de computador. Há dois anos, a empresa iniciou a montagem de TVs no país e concentrou a produção de monitores em outra fábrica, localizada em Jundiaí (SP). Até o momento, no entanto, o que a fábrica faz, basicamente, é encaixar kits de produtos pré-montados vindos da Ásia. Com a nova estrutura, a AOC ampliará o processo fabril. Em vez de trabalhar com um produto pré-montado, passará a comprar, separadamente, diversos componentes que formam uma TV, para integrá-los no país.
Segundo informações divulgadas pela AOC em seu site brasileiro, a subsidiária conta hoje com 2,1 mil funcionários, entre profissionais de fábricas e da área administrativa. Os investimentos já realizados no país ultrapassam U$ 45 milhões.
Controlada pelo grupo Top Victory Electronics (TPV), a AOC soma cerca de 27,5 mil funcionários no mundo, com nove fábricas em operação. Anualmente, a companhia vende entre 40 milhões e 50 milhões de unidades de monitores. Em 2009, o faturamento da TPV superou US$ 8 bilhões. A América do Sul, no entanto, ainda tem um papel coadjuvante nos resultados da empresa, embora essa participação venha crescendo ano após ano. Em 2003, os países da região representavam apenas 3,5% das vendas globais da AOC. No balanço de 2008, essa média subiu para 6,5%. A América do Norte, historicamente, responde por mais de um quarto dos negócios globais da companhia.
O projeto da AOC no Brasil sucede a iniciativa da holandesa Philips, que foi a primeira a trazer a fabricação de suas telas de LCD para o país, há menos de dois meses. A meta da Philips é que suas instalações na Zona Franca produzam até 1 milhão de telas no primeiro ano de atividade. Até 2012, o volume pode saltar para 1,3 milhão de unidades. A operação da companhia já envolveu a contratação de 480 profissionais e vai ampliar a cadeia de fornecedores de componentes da empresa, gerando mais de 5 mil postos de trabalho indiretos.
Não é apenas o interesse pelo mercado interno o que tem motivado o investimento das multinacionais do setor. Em dezembro do ano passado, o governo federal aprovou as regras do Processo Produtivo Básico (PPB) para fabricação de telas de LCD, reduzindo os impostos para quem conta com produção local. Com a atração dessas empresas, a Zona Franca de Manaus quer convencer os fabricantes globais de que o país tem incentivo fiscal, mercado e infraestrutura para ser base de uma fábrica plena de LCD, isto é, uma operação que faça localmente todo o processo, desde a produção do vidro polarizado e a composição da lâmina até a prensagem da tela de cristal líquido. Atualmente, nenhum fabricante executa todas as etapas do processo no país. Mesmo as iniciativas da AOC e da Philips têm uma abrangência parcial.
Em entrevista recente ao Valor, o secretário executivo de Fazenda do Amazonas, Tomas Nogueira, afirmou que outras empresas devem seguir o caminho iniciado pela Philips e que a construção de uma fábrica plena virá com a evolução natural das operações. Especialistas estimam que um projeto desse tipo envolveria investimento de aproximadamente R$ 1bilhão.
Veículo: Valor Econômico