A direção da Hewlett-Packard (HP) está "babando" para assumir a liderança do mercado brasileiro de computadores de uso residencial. Foi essa a expressão literal usada ontem por Oscar Clarke, ex-presidente da Intel, que assumiu o comando da fabricante no país no dia 3. "Quem estiver na frente que se prepare, pois está vindo um trator em alta velocidade", disse o executivo, em São Paulo. A HP é hoje a segunda maior vendedora de computadores para pessoas físicas do Brasil, atrás da Positivo.
De acordo com Clarke, a estratégia da companhia combinará a oferta de computadores a preços mais baixos do que os praticados atualmente, com melhores condições de pagamento para o consumidor. "Se você baixa só um pouco a parcela mensal, permite que muito mais gente possa comprar um equipamento", diz o executivo.
A proposta é que os computadores de mesa custem entre R$ 700 e R$ 800, e portáteis até R$ 1,2 mil, embora não haja prazo para isso. A companhia pretende tornar-se a opção de compra para as pessoas que estão procurando o primeiro computador. "A Positivo é líder porque investiu neste segmento do mercado", afirma Clarke. Procurada, a fabricante brasileira não quis comentar as declarações do executivo.
As vendas para as classes C e D no Brasil têm sido o grande alvo dos fabricantes. O computador é um dos objetos de desejo da nova classe média, que ascendeu com a melhoria da economia brasileira. Segundo pesquisa do centro de estudos do Núcleo Gestor da Internet (NIC.br), entre 2008 e 2009, a presença de computadores de mesa nos domicílios da classe C passou de 25% para 30% no Brasil. No mesmo período, os equipamentos portáteis saíram de 1% para 3% de participação.
Para especialistas consultados pelo Valor, a tarefa da HP não será tão fácil quanto colocar nas prateleiras produtos mais baratos. "A diferença de participação de mercado é grande e a Positivo tem uma capacidade de produção maior", afirma um analista. Outro ponto destacado por quem acompanha o mercado é a configuração dos equipamentos. "Já percebemos que o consumidor conhece de tecnologia e está disposto a pagar um pouco a mais por um produto que ele julga ser melhor", diz outra fonte.
Se depender da motivação de Clarke, essas barreiras não serão impeditivos para os planos da HP. O executivo, que deixou a Intel depois de seis anos na presidência mostra-se extremamente confiante no novo cargo. "Vamos assumir a liderança em todos os segmentos em que atuamos ", diz.
Uma das grandes apostas para isso é aumentar a integração interna entre as diferentes unidades de negócio da HP. Hoje a companhia está dividida em três áreas que funcionam quase como companhias independentes dividindo uma mesma estrutura: consumo, empresas e imagem e impressão. Para Clarke essas áreas precisam trabalhar de forma mais próxima para tirar proveito do grande número de produtos que a HP tem hoje em seu portfólio. "Quero derrubar as paredes virtuais [que segmentam a atuação de cada área]", afirma.
Hoje a HP tem produtos que atendem praticamente todas as necessidades de empresas e consumidores pessoa física por produtos e serviços de tecnologia da informação (TI). A estratégia do executivo-chefe da companhia, Mark Hurd, vem sendo alimentada por um intenso processo de aquisições. Nos últimos quatro anos, a empresa adquiriu 40 companhias. Os negócios mais recentes foram a compra da 3Com, de equipamentos de rede e da fabricante de celulares Palm.
Dentro de um ambiente tão complexo e de uma estrutura verticalizada, Clarke acredita que o Brasil pode ser pioneiro no processo de integração e até mesmo exportar o modelo operacional para a HP.
Com 23 anos de experiência no mercado de TI, o executivo afirma que optou por deixar a Intel por conta da dimensão da proposta feita pela HP. "Na Intel eram 140 funcionários e um escritório que atua mais com marketing e vendas. Na HP são 8,5 mil pessoas e todas as atividades têm uma representação no Brasil", diz Clarke.
O executivo manteve, no entanto, um discurso que durante anos defendeu dentro da fabricantes de chip, o de que o Brasil se tornará o terceiro maior mercado de computadores do mundo. "Isso está embutido no meu código", diz. Segundo Clarke, o Brasil é o segundo país mais importante para a HP dentro do bloco de países formado pelo país, a Rússia, a Índia e a China. No passado o faturamento da companhia nos Bric chegou a US$ 14 bilhões.
Veículo: Valor Econômico