Recém-chegado ao Brasil, o conceito de compra coletiva feito pela internet é um modelo de negócios que parece simples, pois funciona a partir de parcerias com empresas -principalmente de gastronomia, entretenimento e beleza- cujos sites disponibilizam ofertas diárias com grandes descontos. A estratégia começa a chamar a atenção dos internautas, porque essa modalidade de compra pode trazer até 90% de desconto em produtos de diferentes marcas. O segmento estima ter faturado R$ 1 milhão em junho, R$ 4 milhões em julho, R$ 6 milhões em agosto, e deve movimentar de R$ 30 milhões a R$ 50 milhões em 2011 e alcançar de sete a oito milhões de usuários, até o fim de 2010, estima a consultoria em comércio eletrônico (e-commerce) It4cio.
O primeiro site a entrar nesse mercado foi o Peixe Urbano, em março deste ano. Nos últimos meses, cerca de 20 novos sites também se arriscaram neste mercado, como ClickOn, Clube Urbano, Oferta X e Deu Samba. O nome "compra coletiva" vem do fato de as ofertas serem finalizadas apenas se o anunciante conseguir concretizar a venda de uma quantidade mínima do que foi ofertado. As ofertas ficam disponíveis de 24 horas a 72 horas, e o pagamento é feito com cartão de crédito ou de débito. Ao efetuá-lo, o usuário recebe um cupom, por e-mail, para apresentar na loja que fez a oferta durante um período preestabelecido.
"O objetivo é sempre ter um megadesconto, algo que o cliente olhe e pense: 'isso é imperdível'", explica Júlio Vasconcellos, sócio fundador do Peixe Urbano, que já ultrapassou um milhão de usuários registrados no País. Para a empresa, o esquema da compra coletiva é simples: representantes comerciais de sites pesquisam estabelecimentos e fazem propostas de parceria. "A página entra com os anúncios na internet, sem custo para o anunciante. Uma porcentagem do total vendido fica com o site: normalmente ela gira em torno dos 40%", afirmou Rodolfo Laranjeiras, professor de Marketing e Comércio Eletrônico da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul).
Os sites também se esforçam para fisgar os usuários oferecendo a oportunidade de eles conhecerem novos lugares. A aposta de novos empresários do ramo, que, de acordo com Laranjeira, são jovens ligados na amplitude da internet, também fica por conta do conhecimento da cidade-foco que o site quer atingir. "Conhecer bem a cidade é um diferencial importante na hora de garimpar parceiros para promoções."
De acordo com Pedro Ghisi, presidente da e-bit, a compra coletiva, apesar de tentadora, exige atenção quanto a prazos e qualidade dos produtos. Enquanto o comércio eletrônico tradicional promete entrega em três dias, na média, os clubes de compras chegam a dar prazo de 30 dias. "Apesar desses detalhes, é um segmento com um grande potencial de venda", afirmou.
Esse potencial é aproveitado pela líder no mercado atualmente, o site Peixe Urbano. De acordo com dados do Ibope Nielsen Online, o site foi acessado por quase dois milhões de pessoas em julho, mais do que a soma de todos os outros sites de compras coletivas contabilizados. Funcionando há cerca de seis meses, e já presente em mais de 20 cidades, o Peixe Urbano fez mais de 400 promoções.
O sucesso do Peixe Urbano é parecido com o estouro do Group On, o maior site de vendas coletivas americano. Hoje, o GroupOn está presente em 26 países e tem expectativa de faturamento anual de cerca de US$ 500 milhões em 2010.
"Mapeamos o perfil do cliente para encontrar produtos e serviços interessantes e trabalhar em conjunto com o parceiro para veicular a marca GroupOn. Em um dia, trazemos mais de 600 novos clientes para uma pequena empresa, por isso a ferramenta funciona tão bem e está crescendo rápido", diz Daniel Funis, sócio-diretor do GroupOn Clube Urbano.
Já de olho no mercado brasileiro, o grupo criou o Clube Urbano, que hoje já conta com mais de 500 mil usuários cadastrados, e em menos de três meses no ar já representa o quinto faturamento do GroupOn no mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França. Por aqui, o site atende 13 cidades e pretende chegar ao fim de 2010 atuando em até 35 municípios.
Correndo por fora
Ao lado de grandes sites, iniciativas menores também merecem destaque. O site Promoo, lançado no início de setembro e funcionando apenas em Porto Alegre (RS), é resultado de um investimento inicial de R$ 100 mil e conta com 10 mil cadastros que recebem as ofertas diárias. Até o fim do ano, o Promoo espera chegar a 20 cidades.
O Deu Samba, fundado por um grupo de jovens recém-saídos de Harvard, também aposta neste mercado. Atuando em São Paulo, o Deu Samba já pensa em expansão. "É muito fácil entrar em novas cidades com a estrutura que temos hoje. A terceira provavelmente será Brasília. Primeiro queremos aprender a fazer direito para expandir em um ou dois meses. A expectativa é que o Deu Samba chegue a mais de 20 cidades", explica Claudia Campos, sócia do Deu Samba.
Histórico
Com receptividade ainda recente no Brasil, a tentativa de compras coletivas já havia vindo para cá em 2000, através de sites como Mobshop, por exemplo. "A novidade agora é a grande aceitação do público, porque o conceito já havia chegado ao País, sem sucesso, há dez anos", diz o professor.
Na opinião de Laranjeiras, o conceito não 'pegou' por razões tecnológicas. "A segurança do ambiente web para compras era questionável, e o número de internautas era bem menor."
Veículo: DCI