Desde que o iPhone, da Apple, tornou-se sucesso de vendas mundiais, empresas de diferentes nacionalidades desenvolvem aplicativos que funcionem como recurso para divulgação de suas marcas. A iniciativa também foi adotada pelas grandes companhias brasileiras. Mas há casos em que as empresas aproveitaram a ampla adoção desses dispositivos para criar sistemas complementares aos serviços oferecidos a consumidores e funcionários. E estão obtendo êxito com a iniciativa.
A Apple não fornece dados sobre número de aplicativos criados no Brasil. Procurada pelo Valor, a empresa informou apenas que no mundo há mais de 250 mil aplicativos e já foram baixados acima de 7 bilhões de sistemas na loja virtual App Store. "Hoje, o volume massivo de aplicativos focaliza o entretenimento. Mas, à medida que os telefones inteligentes, ou smartphones, se popularizam, o uso de aplicativos que funcionam como sistemas para auxílio no trabalho torna-se mais comum", afirma o coordenador de pesquisas da IDC, Luciano Cripa. A IDC estima que as vendas de smartphones no país chegarão a 4,5 milhões de unidades neste ano, ante 2 milhões em 2009. O relatório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgado em outubro indica que 6,34% (12,145 milhões) dos celulares em uso são smartphones.
A Agilent Technologies, empresa americana de equipamentos para laboratórios, está entre as empresas que criaram aplicativos para o trabalho. No fim de outubro, a companhia colocou no mercado um sistema para seu cromatógrafo (equipamento para análise de amostras de materiais orgânicos - como exames antidoping, por exemplo). O aplicativo, que é gratuito e tem versões para iPhone e iPod Touch, apresenta uma lista de opções para que o cliente possa programar o equipamento, de acordo com o tipo de amostra.
A empresa oferece há três anos em seu site um guia semelhante em Excel para computadores, diz o gerente nacional de vendas da Agilent, Ivan Jonaitis. A versão teve 10 mil cópias baixadas até hoje. O gerente estima que esse volume se repetirá com o aplicativo este ano. "Com os dados no celular, o programador perde menos tempo para programar a máquina e consegue triplicar a produtividade, para até 120 amostras por dia", afirma Jonaitis. A melhora no desempenho tem ajudado a empresa a vender mais, diz ele: "Os laboratórios estão preferindo comprar o cromatógrafo que já têm o aplicativo."
O Hospital Israelita Albert Einstein preferiu criar um aplicativo para sua própria equipe. "Os médicos trabalham em vários hospitais e precisam ter acesso a dados do paciente para dar uma orientação urgente", diz o diretor de TI do hospital, Sergio Arai. Há um ano e meio, o hospital criou uma ferramenta para celulares BlackBerry (o smartphone da Research in Motion), que permite aos médicos terem acesso a resultados de exames, agenda cirúrgica, fichas de pacientes e contatos de outros membros da equipe. Neste ano, desenvolveu uma versão para iPhone. "Essas ferramentas [sistemas] permitiram aos médicos atender à distância com mais agilidade e possibilitaram uma melhora na comunicação entre os membros das equipes", afirma Arai. De acordo com o diretor, atualmente, 400 médicos (ou 70% da equipe médica) usam os sistemas em celulares.
Outra empresa que fez do aplicativo um recurso para o trabalho foi a Tecnisa. Há um ano e meio, a construtora lançou um aplicativo para iPhone com o catálogo de imóveis para corretores mostrarem as opções aos clientes sem ter de levá-los ao escritório, diz o diretor de internet e relacionamento com clientes, Romeo Busarello. A empresa também comprou 140 aparelhos para os corretores. Mas o que a direção não esperava é que consumidores também passassem a usar o aplicativo para pesquisar imóveis no catálogo da empresa. Neste ano, a Tecnisa vendeu oito apartamentos a clientes que usaram o software. "Atiramos na borboleta e acertamos um elefante", diz Busarello.
Hoje, segundo Busarello, o site da empresa recebe 4 milhões de visitas por mês e pelo menos 3 mil têm como origem o uso prévio do aplicativo para iPhone. Neste ano, a empresa lançou uma versão para iPad, que recebeu 450 visitas. A Tecnisa investiu R$ 75 mil no desenvolvimento dos aplicativos e para a compra dos aparelhos para os corretores. "Em poucos anos, as pessoas vão usar mais o celular para acessar a internet do que os computadores. As empresas precisam se adaptar a essa mudança", opina o executivo.
A BM&F Bovespa tem sentido essa mudança na demanda. A gerente de internet da bolsa, Renata Martins, observa que no ano, o número de acessos ao site ficou estável em 3,5 milhões ao mês, enquanto a procura pelos aplicativos para celular dobrou em número de baixas da internet neste ano, chegando a 83 mil por mês. "O celular é o meio em que a visitação mais cresce e o que mais atrai novos usuários", afirma. Na semana passada, a bolsa também lançou um aplicativo para o iPad, o tablet da Apple. No primeiro dia de lançamento, registrou 1,8 mil baixas do arquivo.
Sistemas chegam também ao consumidor
A crescente adoção de dispositivos móveis também impulsiona cada vez mais os fornecedores. Nessa linha, a Polycom está anunciando o desenvolvimento de aplicativos de videoconferência e compartilhamento de arquivos para smartphones e tablets.
Segundo Pierre Rodriguez, vice-presidente da Polycom para a América Latina e Caribe, a estratégia visa estender a adoção desses sistemas para além do mercado corporativo. O foco agora são os consumidores, em especial aqueles que trabalham remotamente grande parte do tempo.
"O objetivo é o consumidor no topo da pirâmide. Queremos chegar ao indivíduo que vai entender o benefício e pode pagar por um pacote de dados ilimitado que suporte esse aplicativo".
O primeiro acordo envolve o Samsung Galaxy Tablet e é baseado no sistema operacional Android. Rodriguez conta que o aplicativo já foi desenvolvido e está disponível nos aparelhos que começam a ser comercializados no país amanhã. Em relação ao Android, a parceria não é exclusiva com a Samsung e poderá ser estendida a outros dispositivos que usam esse sistema.
O executivo revela que os próximos aplicativos devem ser lançados no segundo trimestre de 2011 e terão como foco o BlackBerry, o iPhone, o iPad e os aparelhos baseados no Windows 7 Mobile.
Um dos pontos destacados por Rodriguez na estratégia é o fato de o desenvolvimento dos aplicativos ser baseado em padrões abertos: "A ideia é que todos esses dispositivos suportem um padrão de mercado e conversem entre si, independentemente do aparelho, do modelo e até mesmo da operadora em questão."
Veículo: Valor Econômico