Brasília – Com a alta do desemprego e a queda na renda do trabalhador, o número de pessoas endividadas cresce no país e, para piorar a situação, o juro médio das dívidas são os maiores já contabilizados pelo Banco Central. Em julho, a taxa ficou a 42%, mas quando descontados os empréstimos para a compra da casa própria, que têm taxas subsidiadas, o juro médio chega a 71,9% e bate o recorde da série histórica, iniciada em 1994. No mês, os juros do cheque especial também são os maiores já cobrados – 318,4% ao ano. Os juros mais altos aumentam os riscos para quem ingressa nas dívidas, principalmente no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito, que, apesar de uma queda de 0,2 pontos percentuais na taxa, não dá motivos para comemorar. Ao ano, o índice está em 470,7% – o maior entre os pesquisados pelo BC.
A taxa do cheque especial já subiu 31,4 pontos percentuais em relação a dezembro de 2015, quando estava em 287% ao ano. A modalidade é o pior adversário que o funcionário público Raimundo Ferreira, 54 anos, precisa enfrentar todos os dias. Ele adquiriu uma dívida de R$ 5.000 no cheque especial, puxado pelas altas taxas de juros. O servidor lembra que já achava elevado os juros anuais quando ficou endividado e hoje ele se surpreende cada dia mais. Atualmente, ele paga taxas de 28% ao mês, o equivalente a 336% ao ano. “Como não tinha jeito de pagar, fui renegociar parte da dívida e peguei um crédito consignado e, todo mês, o banco leva da minha conta R$ 2.000. O dinheiro sai direto”, disse.
A taxa média de juros cobrada pelas instituições financeiras nas operações de crédito consignado somou 29,2% ao ano em julho, queda de 0,2 ponto percentual. No ano, a taxa para o consignado também teve o mesmo recuou, mas houve um aumento de 1,4 ponto percentual nos 12 meses terminados em julho. Operação de crédito pessoal para pessoas físicas, o juro médio somou 132,2% ao ano – alta de 3,9 ponto percentual.
Se não fosse pela ajuda da filha, que também tem renda fixa, Raimundo não teria dúvidas de como seria a sua vida: “eu estaria na miséria, passando fome”, lamentou. Sem ela, o funcionário público conta que entraria num beco sem saída, pois a renda não daria nem para pagar todas as contas de casa, quanto mais quitar a dívida. “Eu ia pegar mais e mais dívidas. Não teria como sair dessa situação”, admitiu.
INADIMPLÊNCIA Em julho, a taxa de inadimplência das operações de crédito chegou a 3,6%, depois de um aumento de 0,1 ponto percentual. O nível de calote das famílias aumentou 0,1 ponto percentual e fechou o mês em 4,1% no crédito. Já o nível das empresas teve um resultado estável e ficou em 3%.
A roupeira Jaqueline Soares, 27, estava desempregada até este mês e, por isso, ainda não teve condições de pagar a dívida de cartão de crédito que já se arrasta por um ano. Até então, ela fazia bicos de babá para pagar as contas de casa, mas o dinheiro não sobrava para quitar as pendências com o banco. “Fora isso, meu pai me ajudava com o dinheiro da pensão da minha mãe. Por isso fui atrás de um emprego. Finalmente encontrei para botar as contas em dia nesse semestre”, afirmou.
Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Macial, recomendou que os compradores pensem duas vezes antes de usar o cartão de crédito e o cheque especial. “Crédito rotativo deve ser utilizado com bastante cautela, por período de tempo bastante curto”, declarou.
Laurinete Rodrigues Pereira, 47, trabalhadora de serviços gerais, tem dívidas em várias modalidades e tenta de todo jeito quitar as pendências, fazendo economias em casa. “Diminui os gastos com água e energia, sem contar que não estou mais saindo de casa para jantar ou fazer qualquer atividade de lazer. Só compramos o básico de alimentação. O jeito é se virar”, comentou.
Fonte: Jornal Estado de Minas