São Paulo - Com o aumento do imposto sobre o combustível, anunciado no dia 20 de julho, o frete do comércio eletrônico sofreu uma nova alta, depois de já ter sido impactado pelo fim do e-Sedex. O crescimento no valor cobrado pela entrega tem variado de 2,5% a 5% e deve prejudicar as vendas do setor.
O cálculo foi feito pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) e pela plataforma de criação de e-commerces Betalabs, que usaram como base os preços cobrados pelas transportadoras privadas. Ambas enxergam com extrema preocupação o aumento de custos, já que a mudança deve prejudicar as vendas do setor. "As lojas virtuais não têm margem para absorver o custo maior, e o que vai acontecer, como na maioria das vezes, é que o valor será repassado integralmente ao cliente", diz o presidente da Abcomm, Maurício Salvador.
De acordo com ele, o repasse pode prejudicar as vendas do ramo, uma vez que o frete é um dos fatores decisivos no momento do consumidor finalizar a compra. "Somando o aumento causado pelo fim do e-Sedex (serviço mais barato dos Correios) com essa alta no preço dos combustíveis, acreditamos que o setor deve sim sentir uma redução nas taxas de conversão em vendas", afirma.
Salvador explica, no entanto, que ainda é cedo para estimar o impacto no faturamento total do setor e que, por isso, a Abcomm mantém a estimativa de alta de 12% para este ano, apesar do novo cenário. "Precisámos esperar um pouco para ver o impacto real nas vendas, mas de fato temos um temor que isso possa prejudicar o faturamento no final do ano."
O sócio-fundador da Betalabs, Luan Gabellini, também aponta que a mudança pode gerar uma queda nas vendas do setor. "Tem um índice grande de abandono do carrinho [virtual] quando chega no momento de calcular o frete. E com esse valor ainda mais caro, a tendência é que a conversão em vendas diminua", diz.
Segundo ele, a grande maioria das transportadoras privadas que prestam serviços para os lojistas da plataforma já aumentaram o valor do frete. As que não aumentaram, explica, não fizeram por dois motivos: ou por uma questão contratual, que impede o reajuste de preços, ou para ter um diferencial competitivo no mercado.
Em relação aos lojistas virtuais, Gabellini afirma que quase todos devem repassar o aumento para o consumidor. "Algumas lojas podem absorver uma parte do aumento, porque é um mercado muito competitivo. Mas o mais provável é que a grande maioria repasse o aumento ao cliente."
Contramão
Na contramão dos dois entrevistados, o CEO da E-bit, empresa especializada no setor, Pedro Guasti, afirma que a tendência é que parte dos lojistas não repasse a alta para o consumidor, justamente para não prejudicar as vendas. "Se as empresas enfrentarem esse aumento de custo elas têm algumas formas de lidar: podem absorver dentro da operação, reduzir o percentual de frete grátis para compensar, e repassar ao consumidor final - o que acho que só deve ocorrer em última instância", afirma.
Ele aponta que alguns segmentos, como o de moda e perfumaria, possuem uma margem maior, tendo mais condições de absorver o aumento. Em relação aos ramos de linha branca e linha marrom, por outro lado, Guasti concorda que as margens apertadas podem acabar levando a um repasse. "É claro que a loja vender sem lucro não é sustentável, mas alguns segmentos ainda têm condições de absorver o aumento."
Salvador, da Abcomm, discorda: "Todo aumento de custos que tiver, a tendência é que o varejo virtual repasse para o consumidor. É verdade que alguns segmentos têm mais margens, mas o que temos visto é que o tinha para queimar de gordura já foi queimado."
Fonte: DCI São Paulo