Briga por preferência de lojistas já começou, afirma a Redecard

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Sandra Ramos é vendedora autônoma de uma marca de cosméticos. Recentemente, uma de suas clientes pagou uma compra no valor de R$ 1,2 mil com um cheque sem fundos. Como a sua margem média é de 30%, teria que vender outros R$ 4 mil apenas para cobrir o prejuízo. Sandra começou a aceitar cartão de crédito em suas vendas há alguns meses e acredita que, por isso, não terá mais problemas com calotes. Ela recebe o dinheiro 18 dias depois da venda e paga uma taxa de 3% sobre cada transação à Redecard, mas acha que o custo compensa. "A cada R$ 100 que eu vendo, pago R$ 3 e esse valor eu gasto com uma ida ao banco para depositar os cheques", diz Sandra, que já realiza mais de metade de suas vendas com cartão.

 

Na segunda-feira, enquanto almoçava na região do Itaim, em São Paulo, o presidente da Redecard, Roberto Medeiros mostrava, satisfeito, a cópia do comprovante de uma venda realizada por Sandra que recebera em seu e-mail. Por meio de um programa baixado, o celular de Sandra transformou-se em um terminal de cartões. Em breve, em acordo com uma operadora de telefonia, a Redecard conseguirá incluir nos cartões SIM (chip) dos celulares o programa que transforma os aparelhos em terminais integrados a sua rede. A Redecard divide com a VisaNet o lucrativo mercado de credenciamento de estabelecimentos que aceitam cartões de crédito e débito, segmento de maior concentração na indústria e, por isso, o mais atingido pelas medidas do governo para ampliar a concorrência.

 

Ideias como a do "phoneshop" já eram trabalhadas antes pela Redecard. Agora, com as medidas que ampliarão a concorrência e a potencial perda de receita, tais iniciativas ganharam importância maior dentro da estratégia da empresa. "Se tornou muito mais relevante e a receita em nichos como esse vai crescer tremendamente", diz Medeiros.

 

O executivo afirma que a medida de maior impacto para o mercado e as empresas é justamente a quebra da relação de exclusividade no credenciamento, acompanhada do compartilhamento de terminais e redes. Hoje, Redecard é responsável pela rede de lojas que aceita cartões da bandeira Mastercard e o mesmo acontece entre VisaNet e Visa.

 

A competição passa a valer mesmo em julho do ano que vem, quando acaba a exclusividade contratual entre VisaNet e Visa. Embora a Redecard não tenha mais contrato desse gênero com a MasterCard, apenas depois daquela data é que sua rede poderá trabalhar com cartões da Visa. Estará dada a largada para que os lojistas escolham apenas uma das duas empresas ou novos concorrentes para processar as vendas com todos os cartões. "O poder de decisão migrará para o estabelecimento", admite Roberto Medeiros. Mas tanto VisaNet quanto Redecard já começaram a trabalhar para tentar fidelizar o cliente agora e garantir que serão a primeira opção das lojas. "A briga pelos estabelecimentos já começou", diz Medeiros. A empresa acredita que novos produtos e serviços farão a diferença.

 

Quanto à queda de preços, objetivo final da abertura desse mercado, Medeiros diz apenas que a taxa máxima cobrada pela Redecard por transação caiu recentemente de 4,9% para 4,3%. Mas a média continua em 3%, dependendo do volume gerado pela loja.

 

Segundo Medeiros, que é um dos dirigentes da Abecs, a associação das empresas de cartões, ainda não está acertado com o governo de que modo as medidas serão implementadas, se por autorregulação, por resoluções do Conselho Monetário Nacional ou outro mecanismo. "Acredito que a autorregulação é a mais rápida, mas a indústria já vai caminhar na direção apontada."

 

Medeiros não está de acordo com explicação dada por integrante da equipe econômica ao Valor na semana passada a respeito da intenção do governo de acabar com a venda casada no credenciamento, ao exigir transparência de tarifas. Ele diz que até dois anos atrás o lojista só podia ter o dinheiro das vendas com cartão depositado em conta corrente de bancos indicados pela Redecard. Dessa lista, faziam parte os bancos acionistas da empresa na época -Itaú, Unibanco e Citi - além de outros com os quais havia parceria. "Há dois anos é o próprio lojista que indica em qual banco e conta quer seu dinheiro depositado."

 

Segundo ele, essa medida é questionável mesmo se aplicada a bancos que venham a entrar no mercado de credenciamento. "Os bancos só vão querer entrar no credenciamento se puderem assegurar o domicílio bancário do estabelecimento."

 

Medeiros diz que não está claro ainda qual será o papel da CIP, a Câmara de Compensação Interbancária, que pertence aos bancos, que assumirá a tarefa de compensação e liquidação financeira das transações. "Temos insistido com o governo que é fundamental para o nosso negócio que tenhamos acesso à informação do agendamento dos pagamentos às lojas, para podermos fazer o adiantamento de recebíveis."

 

O executivo diz que as empresas já dão transparência às taxas cobradas. "Do total cobrado, metade fica para nós e metade repassamos ao banco que emitiu o cartão daquele cliente."

 

No menu de novos nichos de negócios onde a Redecard quer buscar receita, estão consultórios de médicos, dentistas, psicólogos. Os cartões de convênios médicos, segundo Medeiros, hoje são "burros", já que na maioria das vezes são usados meramente como carteirinhas.

 

Assim como vendedoras do sistema porta a porta como Sandra, a Redecard acha que "personal trainers" também são clientes em potencial para o "phoneshop". Na busca por ampliar a fronteira de receitas, a empresa deve esbarrar nos limites da bancarização do país. "Muitas amigas minhas gostariam de vender com cartão, mas elas são da baixa renda e não têm conta em banco", diz Sandra Ramos.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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