Exportação de suco deverá render 20% menos no ano

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A recente recuperação das cotações do suco de laranja no mercado internacional não deverá trazer benefícios à cadeia produtiva brasileira antes do fim do primeiro trimestre de 2010, de acordo com exportadores e analistas.

 

Conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), ainda que a valorização da commodity supere 70% na bolsa de Nova York em 2009, boa parte desses ganhos vieram nos últimos meses e não beneficiam os embarques atuais.

 

A entidade reconhece que os contratos de exportação fechados recentemente refletem a melhora dos preços, mas informa que o grosso dessas entregas começará a entrar no caixa das empresas a partir do início do ano que vem.

 

Somente a partir de então, afirma Christian Lohbauer, presidente da CitrusBR, será possível imaginar um "quadro novamente razoável" para a cadeia. A atividade é concentrada em São Paulo, que reúne o maior parque citrícola do planeta e faz do Brasil responsável por mais de 80% das exportações mundiais de suco de laranja.

 
 
Para os produtores paulistas de laranja, que na média vêm recebendo das indústrias menos do que gastam para produzir, a expectativa de melhora no futuro é um refresco ainda volátil.

 

Segundo a Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faep) e a Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), o cenário não evitará que muitos produtores deixem a atividade em virtude de perdas nas últimas safras, aprofundando uma diáspora notória no segmento nesta década.

 

Na bolsa de Nova York, os contratos para março fecharam a US$ 1,1610 por libra-peso na sexta. Houve queda de 125 pontos sobre a véspera, mas no ano, segundo o Valor Data, o salto chega a 70,99%.

 

Apesar disso, a CitrusBR projeta para 2009 queda de 20% na receita proveniente das exportações brasileiras do tradicional produto concentrado e congelado (FCOJ) e do não-concentrado (NFC), que está mais valorizado, em 2009.

 

Há dois meses, a estimativa era de queda de 25% em relação aos US$ 1,997 bilhão de 2008. Não deixa de ser uma tímida melhora, que também é verificada nas projeções para o volume das vendas.

 

Em setembro, a CitrusBR trabalhava com embarques conjuntos entre 1 milhão e 1,1 milhão de toneladas este ano - 14,8% a 22,5% menos que em 2008 (1,291 milhão de toneladas). Agora, vislumbra crescimento entre 5% e 10%.

 

O quadro começou a mudar porque, de lá para cá, adversidades climáticas reduziram as estimativas para a produção da Flórida no ciclo atual, prejudicaram a colheita de laranja em São Paulo e afetaram a florada da próxima safra do Estado brasileiro, que será colhida a partir de meados de 2010.

 

Nas últimas semanas, o temor dos americanos com a gripe A (H1N1) no inverno que se avizinha no Hemisfério Norte ampliou o consumo de suco no país, o que ajudou a puxar um pouco mais os preços em Nova York, como já informou o Valor.

 

Analistas acreditam que a conjuntura tende a reduzir os estoques de suco nos EUA, que estão nos maiores patamares desde 2005 (ver tabela), quando furacões detonaram pomares na Flórida, que reúne o segundo maior parque citrícola do mundo, e levaram as cotações a máximas históricas.

 

Maurício Mendes, presidente da AgraFNP no Brasil, da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócios (ABMR&A) e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi), já ponderou que o "efeito gripe" acontece em um período de demanda mais magra nos EUA por causa da queda das temperaturas e tem efeito limitado.

 

Para ele, mais importante que isso são as promoções que vinham sendo feitas no varejo americano para alavancar o consumo após anos de quedas, apenas aprofundadas pelo recrudescimento da crise financeira global, em setembro de 2008. E, claro, as perspectivas de retração da produção na Flórida e em São Paulo.

 

Lohbauer tem esperança de que a recuperação das economias dos países ricos perdure e que o consumo volte a crescer de forma sustentável em mercados como os EUA e a União Europeia. A UE absorve cerca de 70% dos embarques brasileiros; os EUA, mais de 15%.

 

"São elementos que mostram que o fundo do poço talvez tenha ficado para trás", diz o dirigente. Fontes do mercado ressalvam, contudo, que o câmbio está prejudicando os resultados das grandes indústrias exportadoras (Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfus) e que isso dificultará que a melhora dos preços do suco chegue aos citricultores.

 

Segundo ele, os custos médios de produção de laranja em São Paulo, inflados pelos gastos para combater doenças como o greening, superam R$ 10 por caixa de 40,8 quilos. A maior parte dos contratos de fornecimento de longo prazo firmados pelos produtores com as indústrias, que são em dólar, não cobrem o valor. E, no mercado spot paulista, a caixa reagiu, mas ainda sai por menos de R$ 7.

 

A situação fortalece posições como a de Margarete Boteon, do Cepea/USP, que defende mudanças no modelo de remuneração dos citricultores. Em artigos, a pesquisadora vem defendo o estabelecimento de uma política de preços mínimos que leve em consideração que a laranja, perecível, não é passiva de estocagem.

 

"Um instrumento que poderia ser usado é a Linha Especial de Crédito (LEC). O problema é que o lançamento da LEC em 2009 não atraiu as grandes processadoras voltadas ao mercado externo tendo em vista que os valores mínimos foram considerados muito elevados em relação aos preços de mercado", escreveu.

 

Ela obstáculos como esse sejam contornados com organização e a articulação da cadeia, que pode trabalhar para escoar a produção comprada via LEC no mercado doméstico. Tradicionalmente, mais de 90% da produção nacional de suco de laranja é exportada.

 

"Isso poderia ser o embrião do Consecitrus [conselho com representantes de toda a cadeia], que requer o setor organizado e compartilhando informações reconhecidas de qualidade por todas as partes", afirma Margarete em análise publicada em 12 de novembro.
 


Veículo: Valor Econômico


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