A consolidação na indústria global de cervejas tem espaço para aquisições ou fusões entre € 50 bilhões e € 60 bilhões, pelas estimativas do banco holandês ING.
Após grandes negociações desde 2007, a consolidação já efetuada deixou 60,5% da capacidade global sob controle de quatro companhias - AB InBev (Bélgica), Heineken (Holanda), SABMiller (África do Sul-Reino Unido) e Carlsberg (Dinamarca)
O setor, que movimentava US$ 507 bilhões em 2008, é dominado pela AB InBev, com 26% do mercado mundial em volume. "Mas restam 'gaps' nos portfólios das principais companhias, que podem ser preenchidos, em particular por cervejarias de porte médio atrativas", afirma Gerard Rijk, analista do banco para a indústria de bebidas, que realizou um estudo sobre o setor.
Entre as grandes, a SABMiller é considerada especialmente atrativa para os outros concorrentes, pelas suas marcas locais e rede de distribuição. Uma fusão com Carlsberg, por exemplo, poderia protegê-la de ser engolida. Mas um entrave para um possível negócio pode ser o fato de que os controladores da marca dinamarquesa sempre quiseram ter a Carlsberg como dominante em qualquer fusão.
Aquisições menores vão ocorrer nos próximos anos e no fim das contas vão sobrar três grandes cervejarias, acredita Rijk. Completar a consolidação é importante para melhorar a plataforma de distribuição e aumentar a participação no mercado. E, sobretudo, fusões precisarão envolver companhias dos países emergentes, onde está o grande potencial de crescimento do consumo de cerveja.
Mas, apesar de recentes aquisições de concorrentes, financiadas por endividamento, o poder de fogo do setor como um todo se deteriorou. Sem novas emissões de ações, serão necessários de seis a nove anos de livre fluxo de caixa para os quatro grandes adquirirem esses ativos.
Além disso, nem todas as empresas de menor porte existentes, que detém os 35% a 40% do volume de vendas ainda não controlados pelas quatro grandes, são interessantes para compra, pondera Rijk. É o caso de cervejarias chinesas e alemãs pouco lucrativas. No total, elas produzem cerca de 11% do volume global de vendas, mas são frágeis e pouco rentáveis.
Por sua vez, as companhias japonesas se confrontam com o desenvolvimento demográfico negativo, excesso de capacidade e leis de restrição ao consumo de álcool, e sua fatia de 4% do mercado mundial pode compensar pouco. Este mês, as japonesas Kirin e Suntory abandonaram um plano ambicioso de fusão que criaria uma das maiores cervejarias do mundo, com US$ 42,5 bilhões em receita anual e poderia rivalizar com a Anheuser-Busch InBev.
O fracasso da negociação chamou a atenção para dificuldades que as companhias japonesas enfrentam no processo de consolidação. A Kirin supera a Suntory em tamanho, mas os controladores da Suntory queriam deter mais de um terço do grupo combinado.
O maior negócio no setor foi a aquisição pela InBev do ícone americano Anheuser-Busch por US$ 52 bilhões, em 2008. Este ano, já em janeiro a Heineken tornou-se número 2 mundial depois de pagar US$ 7,6 bilhões pela mexicana Femsa, superando seu rival britânico-sul africano SABMiller, e obtendo assim mais acesso ao mercado latino-americano.
Em entrevista ao Valor, o presidente da Federação das Cervejarias Europeias, o francês Pierre-Olivier Bergeron, alertou que na Europa ocidental já não há espaço para grandes acordos. O consumo diminui entre 1% e 2% ao ano em volume no velho continente, com mudanças nos hábitos do consumidor, que tem aumentado sua preferência por vinhos e destilados.
No entanto, o número de cervejarias está aumentando na Europa - passou de 2.800 em 2006 para 3.733 no ano passado -, em razão do surgimento de pequenas produções locais, que conseguem ter mais proximidade com os clientes de certas regiões.
Outra tendência na Europa é de consumo de cerveja sem álcool. Em países como a Espanha, esse tipo de bebida chega a mais de 10% das cervejas vendidas. As grandes cervejarias reforçam também sinergias com refrigerantes e sucos, como já faz AB InBev.
O mercado maduro europeu de fato não rende mais o que as companhias esperam, mas o faturamento das cervejarias da região não pode ser menosprezado, com quase € 60 bilhões anualmente.
A margem de lucro média foi de 10,3% na Europa ocidental, 16% na Europa central, 14% na Ásia Pacifico e também na América do Norte, 26% na África e 38% na América Latina, segundo estudos de bancos.
Veículo: Valor Econômico